A Liga-RJ foi criada em 2019 e passou a gerir a Série Ouro, o principal grupo de acesso do carnaval carioca, pouco antes da folia de 2022. Nestas duas edições de carnaval que organizou, nas agremiações que conseguiram o título e respectivamente a classificação para o Grupo Especial, havia um fator em comum. E este elemento similar nas duas escolas foi a voz oficial, o intérprete Nêgo. Em 2022 ao lado de Igor Vianna, no Império Serrano e em 2023 em voo solo na Porto da Pedra. Por isso, para o desfile de 2024, além de outros fatores, a União da Ilha do Governador aposta no experiente intérprete buscando voltar ao Grupo Especial, onde ficou por 11 desfiles seguidos, entre 2010 e 2020.
Agora na Tricolor Insulana, Nêgo, em conversa com o site CARNAVALESCO, durante as gravações da faixa oficial da agremiação em Marechal Hermes, revelou já ter uma relação com a popular escola do bairro da Zona Norte.
“Eu já conhecia a Ilha, trabalhei no estaleiro de engenharias e máquinas, e na minha época, quando na escola a presidente era Paula Amargoso, eu já frequentava. A gente tinha um vínculo, fiquei muitos anos trabalhando no estaleiro, eu ainda não era cantor de samba-enredo. Fui muito bem aceito na Ilha, pelo presidente Ney Filardi, pelo Dudu Falcão que é um grande diretor de carnaval, pelos diretores de harmonia, pelo mestre Marcelo, todos aqueles da comunidade da Ilha do Governador. Agradeço a eles por terem colocado este criolo na família. Agora vou procurar fazer um grande trabalho para a escola, para que a Ilha faça um grande desfile na Avenida e que a gente possa ajudar toda a situação harmônica”, espera o cantor.
O intérprete lembrou do legado de grandes intérpretes que passaram pela agremiação e elogiou o enredo que proporcionou uma grande obra.
“A Ilha é uma grande escola, uma agremiação de visibilidade muito grande, quando tem festa ninguém deixa de cantar um samba da Ilha, a gente fica muito feliz de estar nessa instituição. É uma escola por onde passaram Aroldo Melodia, Quinho do Salgueiro,Ito, e agora o Nêgo está com essa grande responsabilidade. Quero fazer um grande trabalho na agremiação. Fico muito feliz de estar gravando esse samba, de ter essa oportunidade, com um enredo tão legal como ‘Doum e Amora’. Ilha do Governador, isso é comunidade”, finaliza o intérprete com seu já conhecido bordão.
O samba escolhido após o concurso realizado pela agremiação é de autoria de André de Souza, John Bahiense, Ricardo Castanheira, Leandro Pereira, Leandro Augusto, Júlio Assis, Flávio Stutzel e Vagner Alegria. O diretor de carnaval Dudu Falcão em entrevista ao site CARNAVALESCO durantes as gravações falou sobre a chegada de Nêgo a escola e a expectativa sobre o rendimento do artista, além de explicar a iniciativa da escola de antecipar o processo de disputa de samba.
“Nós já vínhamos nos preparando já há algum tempo, escolhemos o samba mais cedo, até para poder deixar tudo certinho para a nossa escola. Nosso carro de som é um carro de som bastante entrosado, já estão há muito tempo juntos, então eles já sabem o que fazer com um olhando para o outro, e agora recebendo o Nêgo, ele que é um grande cantor, é um pé quente do grupo de acesso. Um intérprete de muitos prêmios e tem colocado o samba em um lugar muito bacana. O que a gente gravou foi o melhor possível para que o samba pegue na cabeça do pessoal e exploda no sábado de carnaval”, avalia o dirigente.
Baterilha já trará artifícios do desfile em gravação do álbum
A obra gravada no M&C Studio vai embalar o enredo “Doum e Amora: crianças para transformar o mundo!“, assinado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues, inspirado livremente no livro “Amoras”, do rapper e escritor Emicida, e em contos infantis do universo da literatura brasileira negra. A proposta é através do olhar infantil debater questões antirracistas e a intolerância religiosa. Sempre muito atento ao que o enredo pede, mas sem deixar de manter e valorizar as características marcantes da Baterilha, mestre Marcelo Santos revelou à reportagem do CARNAVALESCO que já colocou na faixa da União da Ilha algumas bossas e convenções que vai levar para a Sapucaí.
“Tivemos a facilidade de estar gravando depois de dois meses escolhendo o samba, isso facilita muito para este processo, já temos bossas que já estamos ensaiando para a Avenida. Vamos fazer três bossas que vamos levar para a Sapucaí, os ritmistas já vão ter a referência para ficar em casa escutando o que vai ser feito no desfile. Essa programação da escola de adiantar o processo de trabalho, escolha de samba, adiantou a nossa vida para a gravação”, analisa Marcelo.
Algo que já virou esperado nos últimos anos é a atuação da Baterilha nos desfiles. Não só pelo ritmo característico, batida de caixas tão marcante e elogiada, mas também pelas surpresas que o mestre Marcelo Santos vem trazendo. Em 2022, ao falar sobre Nossa Senhora Aparecida, os ritmistas levaram um enorme sino para a Sapucaí. No desfile passado, na homenagem à centenária Portela, além da participação do mestre Nilo Sérgio da Tabajara do Samba, outros diretores da Azul e Branca de Madureira também se fizeram presentes na Baterilha. Para 2024, é possível esperar mais novidades, inclusive, é o que sugere Marcelo Santos.
“Toda quarta-feira a gente ensaia na quadra, temos um número bastante expressivo de ritmistas, a galera está comparecendo. Estamos fazendo uma pegada diferente do ano passado, uma pegada totalmente afro, já que o enredo permite essa possibilidade, é um samba que possui muitas sacadas de batida agora, estamos explorando muito. Vamos ter atabaque, vamos ter agogô de duas bocas, vamos ter bastante surpresas por aí. Tem uma surpresa que não dá para falar agora, é uma surpresa visual, mas temos certeza que vai impactar os jurados, vai impactar a Sapucaí toda, o público vai vir junto com a bateria da Ilha”, promete o comandante da Baterilha.
Trabalho rigoroso com ensaios de rua é aposta na busca pelo acesso
“A Ilha é voz do povo preto/ Num canto por justiça e respeito” são versos do refrão de baixo da Ilha de uma obra que promete agitar a Sapucaí em 2024. Iniciar o planejamento cedo e escolher o samba ainda em agosto foram estratégias da União da Ilha do Governador para projetar a antecipação das etapas. Com a expectativa de já estar na rua no mês de novembro, os dirigentes da Azul, Vermelha e Branca Insulana esperam que a escola chegue no sábado de carnaval totalmente pronta para fazer um grande desfile.
“Nós íamos começar na primeira semana de novembro, mas por conta de autorização deixamos para a segunda semana de novembro. As pessoas já tem uma vontade diferente de ir para a rua, nós precisamos mesmo ensaiar, é um ensaio mais técnico, mais robusto, e uma escola que quer disputar título mesmo, tem que ir para a rua o quanto antes. Vamos nesses ensaios tentar fazer o melhor possível para que no sábado de carnaval possamos desfilar bem e de repente comemorar esse título na quarta-feira de cinzas”, entende o diretor de carnaval Dudu Falcão.
Responsável pela direção geral de harmonia da escola, agora sozinho no comando, Lucas Martins também vê os ensaios de rua como fundamentais para um grande carnaval da llha em 2024.
“A gente começou os ensaios de canto em setembro, ainda na quadra, fizemos mais de seis ensaios com a comunidade. Fizemos todos os acertos de melodia, de canto com a comunidade, partindo para o ensaio de rua. Os componentes estão cada dia melhorando, acertando, estamos fazendo ensaio com o carro de som, bateria, e graças a Deus o projeto está bem elaborado e vamos para mais um carnaval para se Deus quiser conseguirmos ser campeões do carnaval 2024”, deseja o diretor.
A União da Ilha, no próximo desfile, será a quarta escola a cruzar a Marquês de Sapucaí no sábado de Carnaval, dia 10 de fevereiro, segunda noite da Série Ouro.