A Associação Recreativa de Diretores de Harmonia das Escolas de Sambas do Estado do Rio de Janeiro (ASSORDHESERJ), em parceria com a Federação Nacional de Escolas de Samba (FENASAMBA,) promoveu na última sexta-feira, na quadra da Estácio de Sá, o “Segundo Encontro Nacional dos Diretores e Diretoras de Harmonia”. A iniciativa teve por objetivo promover debates com temas relacionados aos desfiles das escolas de samba, intensificar a atuação efetiva do segmento harmonia no processo de organização do carnaval e apresentar as associações deste grupo criadas no Brasil, além do encaminhamento de relatórios e o lançamento de projetos e atividades no Rio de Janeiro e outros estados para capacitação e formação de novos diretores.
Na primeira mesa de debates do evento, o objetivo foi apresentar os convidados do seminário e também debater a qualificação profissional do segmento harmonia. O presidente da ASSORDHESERJ, Alexandre Dutra, abriu os trabalhos lembrando a importância de assembléias como essa para discutir o carnaval brasileiro.
“Essa ideia foi iniciada lá atrás em 2021, porque se entendeu a necessidade de a gente discutir harmonia aqui no Rio de Janeiro, discutir harmonia em São Paulo, discutir harmonia em Vitória. Discutir harmonia também em nível nacional. Para que nós pudéssemos trocar experiências, falar sobre o que acontece em uma cidade, o que acontece na outra, para a gente poder criar diagnósticos e até criar sugestões, fazer encaminhamentos às ligas, aos órgãos gestores do carnaval, para a gente poder dar uma caminhada melhor com as questões de organização de desfile, até o julgamento, e algumas coisas que a gente vê que ainda deixam a desejar. Essa proposta eu comecei em Vitória e foi um momento muito bacana porque esse encontro trouxe para nós a certeza de que a gente precisava ter essa discussão a nível nacional”, acredita o presidente.
Em seguida, Célia Domingues, presidente da Amebrás (Associação de Mulheres Empreendedoras do Brasil que atua no mercado da economia criativa do carnaval), pontuou como entende estar a luta por profissionalização do carnaval atualmente.
“A gente pode ver o quanto esse encontro vem crescendo, vem melhorando nas suas atividades, enriquecendo as suas pautas e buscando soluções para diversas demandas que a gente tem no carnaval. Eu sou pela qualificação, pelos negócios, pelo empreendedorismo e pela inclusão do carnaval. Estas são as causas que eu defendo há quase 30 anos, do reconhecimento do profissional do carnaval, das oportunidades de trabalho, e da inclusão, isso com igualdade. A gente já avançou muito nesse processo. Eu acredito muito no potencial do carnaval como mercado de trabalho, como oportunidades, geração de negócios, renda e receita. Infelizmente, nós ainda temos um carnaval muito mal explorado, muito mal aproveitado. É aproveitar realmente as oportunidades que as escolas têm, que elas podem dar para os profissionais, que eles sejam reconhecidos, que eles tenham oportunidade de trabalho e de desenvolver projetos maravilhosos e não só mostrar na Sapucaí, mas que eles tenham um ano inteiro para isso. Hoje a gente tem uma cadeia muito produtiva, com várias técnicas, vários profissionais, e a gente só precisa organizar isso para que a gente tenha na nossa cidade essa produtividade gerando bons profissionais”, finalizou Célia, que também é diretora da FENASAMBA.
Júnio Gonçalves, representando a FENASAMBA, e diretor no carnaval gaúcho, em sua fala, direcionou um pouco mais as questões para o universo dos “harmonias”, apontando a dificuldade que o segmento ainda tem em relação à profissionalização, principalmente em comparação com outras funções do carnaval das escolas de samba.
“Eu queria bater nessa questão, não só do reconhecimento ‘do harmonia’, mas na profissionalização do ‘harmonia’, porque eu acredito que é o último segmento que ainda falta essa injeção. A gente tem os artesãos, a gente tem as costureiras, a gente tem a bateria, casais de mestre-sala e porta-bandeira, carnavalescos, toda a máquina, falando sobre quesitos de carnaval. Sempre foram muito valorizados e merecem essa valorização. E os harmonias, a gente sabe, se dá tudo certo na Avenida, foi todo um projeto de construção do carnaval que deu certo, se deu errado, a culpa é da harmonia. É uma frase que a gente fala no Brasil inteiro. Mas às vezes o que falta é essa profissionalização, esse cuidado com a harmonia, esse cuidado que ASSORDHESERJ tem, por exemplo, de fazer cursos, workshops, de debater a questão do ‘harmonia’ o ano inteiro”, apontou Júnior.
Do carnaval paulistano, Alexandre Magno, o Nenê, presidente da UESP (União das Escolas de Samba Paulistana), compartilhou com os participantes a experiência no carnaval de São Paulo de ter uma relação mais próxima com o mundo acadêmico, em especial a Universidade Zumbi dos Palmares.
No nosso pensamento na UESP com a universidade, é colocar o samba com um certificado, uma qualificação. Estamos discutindo construir, como também foi feito na Estácio de Sá, Rio de Janeiro, o curso de extensão, que pode, inclusive, se tornar um curso de graduação, para ter lá não só a questão de diretor de carnaval, diretor de harmonia, mas outros cursos dentro da Universidade. Obviamente, nós entendemos, que para se tornar um diretor de harmonia, você não vai se tornar dentro de uma universidade. Mas, nós precisamos de algumas coisas que a universidade tem. O samba, o terreiro sagrado vai nos ajudar no nosso dia a dia, a pessoa se transformar em um grande harmonia. Porém, na universidade nós podemos alavancar a nossa qualificação profissional através de algumas questões que tecnicamente hoje nós ainda estamos abaixo. Um grande sambista, por exemplo, precisa saber sobre relações interpessoais, um grande sambista precisa saber sobre os conceitos de administração, aqui no Rio de Janeiro, principalmente, precisa ter e entender os conceitos de turismo”, explicou Nenê.
Por fim, quem também se dirigiu aos presentes foi Sérgio Almeida Firmino, representante da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, cuja titular da pasta é a secretária Danielle Barros. Sérgio apresentou algumas das ações que o governo do estado tem realizado em relação ao tema da qualificação profissional no carnaval.
“Dentro da Secretaria, em quatro anos que a gente está ali, a gente pode levar um pouquinho da ancestralidade. A secretaria tem essa facilidade dentro do governo do estado de conduzir com outras secretarias uma parceria. Quando a gente chama a secretaria de educação e propusemos as escolas de samba, todo o conceito de carnaval dentro do ensino médio. Isso já está sendo feito. Foi algo que nasceu dentro do aprendizado da Secretaria de Cultura, conversando com a Célia (Domingues), conversando com o Alexandre (Dutra), com o Machine, com o mestre Manoel Dionísio. E conversando com essa turma toda a gente chega a conclusão de que o ensino médio é o melhor, porque nele a gente tem mais de 1240 escolas no Rio de Janeiro. Dentro de uma escola de samba existem mais de 50 profissões e o jovem vai escolher. Ele pode ser marceneiro, serralheiro, entre outras mais. Para esta certificação, a gente está chamando uma universidade para fazer junto, estamos chamando a Unirio. Esse conceito de a gente dar a capacitação, isso é ótimo, precisa capacitar e o carnaval pode fazer isso”, sinalizou Sérgio Almeida.
Foram mais de quatro horas de evento, com a participação de diversos integrantes de harmonia do carnaval carioca e de diferentes cidades e regiões do Brasil como Porto Alegre, Vitória, São Paulo, Valença e ABC Paulista. Acompanharam o evento, também, personalidades importantes, como o síndico da Passarela do Samba, Machine, o icônico diretor de harmonia do carnaval paulista, mestre Mercadoria, e o formador de casais de mestre-sala e porta-bandeira, Manoel Dionísio.