A Acadêmicos do Tucuruvi realizou na noite da última sexta-feira a sua festa de pilotos dentro do seu barracão, localizado na Fábrica do Samba. Não foi apenas uma apresentação das fantasias. A agremiação proporcionou aos presentes no evento a imersão, tendo como objetivo despertar os cinco sentidos do ser-humano dentro do tema. No desfile das vestimentas, houve um grande teatro, onde uma figurante vestida de mulher indígena encenava e apresentava todas as fantasias de acordo com o setor, transbordando drama.
A Tucuruvi quis de fato colocar todos dentro do tema. No encerramento, o intérprete Hudson Luiz cantou o samba-enredo para 2025, já escolhido pela agremiação. Com certeza foi um evento inovador que a entidade da Cantareira nunca teve antes em sua história.
Noite realizada e acreditando no projeto
Diretor de carnaval e vice-presidente da escola, Rodrigo Delduque, não escondeu a satisfação com o evento. É nítido que o gestor enxerga uma Tucuruvi crescente e, de acordo com ele, o objetivo é só melhorar, tendo como objetivo superar os limites e aniquilar de vez as posições ruins que a agremiação teve em carnavais anteriores. “É entusiasmante falar da noite de hoje. Estamos passando para a escola que a cada minuto e a cada dia nós temos que ser melhores para nós mesmos. Primeiro superar os nossos limites, os nossos traumas para depois a gente expor. E aí, fizemos uma festa diferente de Tucuruvi, onde a gente entende que do início até o final é um conceito único de enredo. Nós pudemos emergir as pessoas dentro do nosso tema e eu saio muito feliz com a repercussão, eu saio muito feliz com o componente satisfeito. Saio feliz também com a imprensa agradecendo, as coirmãs que vieram nos prestigiar. Estou bastante contente pela noite”, celebrou.
Custa caro fazer uma festa desse porte, além da confecção das fantasias para apresentação. Entretanto, Delduque afirmou que quer dar todo apoio necessário aos carnavalescos dentro da realidade da escola, pois é disso que um artista precisa para colocar o melhor das suas ideias em prática. O gestor, na medida do possível, contou que está tentando realizar os sonhos do carnaval da dupla.
“Ele foi muito feliz ali na colocação dele que trabalhar com um artista é você entender o próprio. Então o máximo de suporte e estrutura que nós pudermos fazer por eles e para que essas ideias e desenhos saiam do papel, estamos conseguindo. Eu falo para eles a todo o momento: Sonhem, porque a nossa parte é estruturar esse sonho de vocês. Graças a Deus eles vêm sonhando dentro de um conceito de Tucuruvi. Claro que tudo é conversado antes, não seria o limite do sonho, mas eles sabem o limite da escola, sabem que nós temos uma realidade de carnaval e graças a Deus a gente tem conseguido suprir todas as necessidades para que cada vez mais ousem como fizeram hoje”, disse.
Parceria entrosada pelo bem da Cantareira
O carnavalesco Dione Leite se mostrou contente com a festa realizada, tendo como satisfatório ver a alegria dos componentes. “Foi uma noite espetacular, uma noite surpreendente. O que a gente faz aqui é para a escola, é nossa arte, mas é para a agremiação. E hoje ver a cara dos componentes, a felicidade deles, não tem preço. Nós saímos de uma noite bem realizada hoje”, comemorou.
O outro dono da noite, Nicolas Gonçalves, exaltou a sua presença na Tucuruvi e a parceria com Dione e, de acordo com o artista, o estilo de trabalho de ambos casou de uma forma natural. “É muita gratidão estar na Tucuruvi, estreando aqui. É uma parceria com o Dione que deu super certo. Desde a criação das fantasias, a gente desenhando, pintando e confeccionando juntos… e foi de uma forma natural. Conseguimos casar os nossos estilos, os nossos pensamentos, conceitos e tudo mais. Eu acho que pode ser visto hoje o quanto carinho que a gente colocou em cada fantasia para fazer um estilo especial mesmo”, contou.
Equipe forte e explicando setores
Dione rasgou elogios à sua equipe que participou da confecção das fantasias e citou um por um, além de agradecer imensamente o gestor Rodrigo Delduque por acreditar no trabalho da dupla, dando todo o suporte necessário.
“Somos muito gratos. A equipe, esse ano, quando conversamos com o Rodrigo para fazer o projeto dos pilotos, a gente conseguiu colocar uma equipe mais profissional, além de juntar com os profissionais que já eram da casa. Vieram pessoas novas e uma equipe fantástica. A Regiane chega com um trabalho incrível de ficha técnica com uma logística muito boa, o Diego é incrível, o Augusto e o Léo Marques tem um talento maravilhoso, o Mayran, o Teco, a Meire… É um time muito coeso. É sempre importante lembrar que isso é possível porque tem alguém que acredita no projeto e esse nome é Rodrigo Delduque. É necessário ter um gestor que acredite. Que bom seria se todos pudessem ter também possibilidade de trabalhar com alguém que te dá a possibilidade de deixar sonhar”, afirmou.
Nicolas Gonçalves falou brevemente sobre as fantasias dentro dos setores. O profissional deu um destaque maior para o terceiro setor, que é o mais ‘pesado’ da história e também destacou o último, pois é a chegada do manto no solo brasileiro.
“A gente começa no sonho literal. Nós trazemos as cores mais para esse lado do sideral. Tem uma fala da Glicéria Tupinambá que ela debocha: ‘acho que eu sou filha da cosmologia’. A gente sonha em alcançar o universo e as galáxias para sonhar com o nosso encanto e abençoar o nosso desfile. Depois a gente conecta o céu com a terra. Vamos por esse caminho mais às terras de muito material natural. A gente vai confeccionar esse manto, trazendo todo esse colorido até explodir em um grande manto nessa revoada de pássaros. No terceiro setor a gente traz a parte mais triste da história, que é mais comovente. Nós vamos colorir isso com vermelho, mas não é o vermelho do sangue corrente. É o vermelho de um sangue que foi derramado para ser levado a esse manto. É um setor mais crítico e as fantasias refletem isso nas cores e formas para encerrar nessa explosão. No final, teremos um forte vermelho no final, que é a cor da força, da nossa luta e a cor do manto que chegou ao Brasil para resgatar nossas memórias e trazer o nosso sonho”, explicou.
Inovando com a imersão
Como citado, houve uma inovação no evento. A escola proporcionou uma imersão. A pessoa caminhava em grupos de olhos vendados sendo guiada por um membro da equipe de harmonia. Por ser um enredo indígena, a ideia era trabalhar com os sentidos humanos. Sendo assim, havia sons de florestas, cheiros típicos, caminho pela grama até chegar a uma sala escura, onde era mostrado um vídeo relacionado ao enredo. Após, todos eram guiados até o local da festa com rufo de bateria e recebimento das baianas.
“Os sentidos é algo muito importante. Você sentir, dependendo dos quatro sentidos humanos, é muito importante para poder construir a entrada aqui. Era exatamente a proposta, que as pessoas pudessem explorar e aflorar seus sentidos, e ao final elas pudessem entrar, como dizia ao final da imersão: ‘sejam bem-vindos ao nosso sonho’. Quando a pessoa entra aqui dentro do barracão, encontra a ferragem exposta, uma madeira aparecendo e se depara com esse cenário incrível dessa floresta dos sonhos, totalmente desconstruída com uma ideia diferente, que fala muito sobre o nosso desfile. Foi algo para a pessoa ter a oportunidade de realmente vivenciar e se realizar dentro do barracão. Nós fizemos vários testes, até a última hora nós estivemos dentro da sala e a gente tentou ser o mais perfeccionista possível para que pudesse ser real. A gente ficou feliz com o resultado”, declarou Dione
“É um carinho que a escola merece e que o samba também merece. A gente vai trabalhar cada vez mais para elevar a nossa experiência e acreditar que o carnaval sai de fora da avenida também e precisa ter essas ativações”, completou Nicolas.