A Inocentes de Belford Roxo apresentou um belíssimo conjunto visual em seu desfile, com destaque para as fantasias, com cores variadas e bastante volume, a escola encantou visualmente, porém, a evolução deixou a desejar e pode comprometer uma melhor colocação da escola na apuração. Logo no início, o carro abre-alas apresentou dificuldades de se locomover pela avenida e ao menos dois buracos foram abertos, um no setor três e outro no último módulo de julgadores. Além do conjunto visual, a entrada da escola, com a comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira também se destacou no desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Apresentando o enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, assinado pelo carnavalesco Lucas Milato, a Inocentes de Belford Roxo levou para avenida um rito de preservação da tradição afro-brasileira, foi a segunda escola a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles da Série Ouro. A caçulinha da Baixada terminou sua apresentação com 54 minutos.
Comissão de Frente
Intitulada “O elo entre os dois mundos”, a comissão coreografada bailarina Juliana Frathane, contou com um total de 15 componentes, 10 homens e cinco mulheres, eles representavam o Ritual do Pátio do Terço, que é quando os ancestrais são louvados e os mundos se ligam, a dança contou com fundamentos da celebração ritualística dos Tambores Silenciosos. A apresentação se dividiu em dois momentos. Em uma primeira fase, 14 componentes vestidos com uma belíssima fantasia toda em preto, representavam os brincantes e devotos que acompanhavam o ritual.
O ápice da coreografia se deu quando uma integrante surgia surgia de dentro do elemento cenográfico representando Oya, nesse momento, Nesse momento o público nas frisas e arquibancadas aplaudiram com bastante entusiasmo., os 14 elementos trocavam de roupa através de artifício construído na própria fantasia, e passavam a representar e homenagear os ancestrais louvados no pátio do Terço. No tecido branco da fantasia, foi possível ver estampadas figuras de pretos que foram importantes ícones na luta contra a opressão, o que causou bastante comoção do público. No geral, a comissão se apresentou sem nenhum erro nas cabines de julgamento, porém, vale ressaltar uma luz apagada no elemento alegórico.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Douglas Valle e Jaçanã Ribeiro, passaram com a fantasia significando “A penumbra da meia-noite”, eles representaram a grande troca de energia que há entre òrun-àiyé no horário da meia-noite. Desfilando juntos pelo segundo ano consecutivo, pode-se destacar os movimentos em referência a alguns orixás, como por exemplo: em um determinado momento da coreografia, o casal se separa e ao se encontrarem com olhar fixo no parceiro, promovem o encontro dos punhos cerrados fazendo clara referência para Xangô.
Douglas ainda teve alguns movimentos em referência aos terreiros de religiões de matrizes africanas, inclusive, quando no trecho “é o vento de Oyá que evoca egun” o mestre-sala mexe a mão fazendo a ventarola de Oyá, assim como Jaçanã teve movimentos que sugeriam inspirações em outros orixás. De destaque negativo, fica a apresentação de Jaçanã no primeiro módulo de julgadores, por conta do vento, a porta-bandeira parecia estar um pouco tensa, nos módulos seguintes não foi observado o mesmo nervosismo, no último módulo, o mestre-sala precisou se esticar um pouco para ajudar ela a desfraldar o pavilhão logo no início da apresentação.
Harmonia
A harmonia da escola se mostrou coesa do início ao fim, todas as alas cantavam o samba, porém, o momento de maior destaque ocorria nos refrões, principalmente “Ora iê iê, Ora iê iê, como é bonito minha mãe seu abebe”, o carro de som impulsionou o canto dos componentes, que além de cantar com vigor, pareciam estar se divertindo, as alas de maior destaque foram as do início do desfile, a primeira representando os Ogans, contou com brincantes muito animados, o mesmo foi visto nas alas seguintes, com destaque para a ala de passistas, que representavam as danças e sons dos escravos. No geral, a escola se apresentou de forma uniforme, não observado nenhuma ala cantando pouco, vale mencionar que na última ala, “Raiz ancestral”, um componente desfilou de máscara.
Enredo
O desfile se iniciava com uma saudação a Oyá, através da representação da cabeça de um búfalo logo a frente do abre-alas, o primeiro setor mostrou o tambor como a comunicação entre homem e os orixás, o segundo setor da escola representou a realeza africana e a terceira alegoria apresentou uma perspectiva acerca do Pátio do Terço, local que hoje é o grande palco da Noite dos Tambores Silenciosos. No geral, o enredo da escola, que é um dos mais densos deste ano, se mostrou de fácil compreensão, o carnavalesco Lucas Milato levou a história do povo preto com muita competência.
Evolução
A evolução foi o grande destaque negativo da escola e tem tudo para ser o quesito a sofrer as maiores penalizações na apuração oficial, logo no ínicio, o carro abre-alas sofreu para conseguir entrar na avenida, era possível ver o esforço além do normal dos empurradores, mesmo assim, um espaçamento ocorreu na primeira cabine de julgadores, o carro seguiu com dificuldades, mas um novo buraco só foi observado na altura do setor oito, esse porém, muito maior que o primeiro, seguiu até o setor 10, na última cabine de julgadores. Após a entrada da bateria no segundo recuo, outro buraco foi observado, a ala de passistas precisou correr para preencher o espaço, mas o carro que veio atrás não conseguiu acompanhar, abrindo um novo buraco.
Samba-Enredo
A obra da parceria de Cláudio Russo foi bastante elogiada nesse pré-carnaval, muito valente, o samba possui refrões potentes, o que permitiu aos componentes um canto forte, porém, esse canto não foi visto em outras partes do samba. O entrosamento do carro de som da escola, comandado por Tem-Tem Sampaio, Luizinho Andanças e Silas Leléu, somado ao bom desempenho da bateria, cadência da baixada comandada pelo Mestre Julinho, impulsionou o canto da escola.
Alegorias e Adereços
A escola apresentou um conjunto de alegorias de extremo bom gosto, apostando no uso de cores fortes, o carnavalesco soube usar o preto, como pede o enredo, mas sem pesar a escola, o abre-alas, “Tambores ancestrais”, visualmente era muito impactante, logo na frente uma grande cabeça de búfalo chamava atenção, o segundo carro fez referência aos cortejos de coroação dos reis, apesar de bonito, quando entrou, o carro arrastou na grade do setor e uma da esculturas sofreu um pequeno dano. Vale destacar o tripé “Espelho da Yalorixá”, com uma iluminação caprichada, ele passou muito bem toda a avenida, a iluminação também foi o destaque do último carro, “O velho endereço de novos tambores”, o jogo de luzes apresentados causou um impacto interessante.
Fantasias
A Inocentes apresentou um conjunto de fantasias muito bem desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Milato, as soluções encontradas por ele deram um visual muito bonito e impactante para escola, todas as alas eram extremamente volumosas, o uso de penas artificiais se mostrou uma opção, várias alas poderiam ser destacadas, mas vale o registro para íncrivel ala de baianas, representando Oya, a roupa, predominantemente branca, a roupa parecia ser leve, visto a boa evolução observada. No segundo setor destacaram-se a quinta ala, “Irmandade dos homens pretos” e a nona, coreografada, chamada “Realeza do congo”, no último setor, a ala dos Orixás arrancou bastante aplauso do público.
Outros Destaques
A bateria do mestre Julinho representou São Benedito, os 250 ritmistas da Cadência da Baixada realizaram bossas por toda a avenida, levantando o público. A rainha Natália Lage estava com uma fantasia muito bonita e esbanjou carisma.