Quando a Sinfônica do Samba se posicionou em frente ao Setor 1, vieram descendo a avenida os presidentes das escolas de samba da Série Ouro e dirigentes da Liga RJ de mãos dadas com Flávio França, presidente do Império Serrano. Gesto de solidariedade e de força das coirmãs pelo incêndio na Maximus Confecções, em Ramos, que matou o trabalhador Rodrigo de Oliveira, deixou outras 8 pessoas internadas, sendo 6 delas em estado grave, e queimou 97% das fantasias do Império Serrano. No discurso de abertura, o presidente da agremiação pediu 1 minuto de silêncio pelas pessoas que seguem hospitalizadas e pela vítima fatal do incêndio. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Flávio França agradeceu o carinho dos presidentes das outras agremiações e do momento de luto que a escola está atravessando.
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“A dor dessa fatalidade todos os outros presidentes estão sentindo. Não só do grupo de acesso, mas também das outras coirmãs. Ninguém queria passar por um processo desses. É claro que para as famílias das pessoas hospitalizadas estão sentindo uma dor muito pior. O momento é de ressignificar muita coisa. É um momento doloroso, não desejo para ninguém. Peço muito a Deus e aos meus Orixás de força para conseguir atravessar essa tempestade e vencer”, declarou o presidente que ainda revelou que a escola montou um departamento de crise para dar a assistência necessária para as famílias dos trabalhadores atingidos no incêndio. “Primeiro, a gente está montando um departamento de crise para poder tratar dessa questão. A prioridade total são as famílias dos envolvidos. A prioridade hoje é ser solidário com essa questão toda”, comentou o presidente imperiano.
Renato Esteves, carnavalesco do Império Serrano, reviveu um trauma. Em 2011, ele estava dormindo na Cidade do Samba quando um incêndio destruiu os barracões da Grande Rio, Portela e União da Ilha, escola onde ele trabalhava.
“A minha preocupação foi com as pessoas. Eu já passei por um incêndio, estava lá dormindo no incêndio da União da Ilha em 2011. Revivi o meu trauma do incêndio”, lamentou o carnavalesco que pediu um pouco mais de carinho com o carnaval. “A gente só pede que sejamos olhados com um pouco mais de carinho. Somos trabalhos do carnaval. O Império tem esse poder de seguir pra frente e de se reerguer. Essa comunidade é incrível. O império é um dos pilares do carnaval. É o Império e a comunidade que me dá força para seguir adiante”, afirmou.
A rainha Quitéria Chagas falou sobre o momento de superação que a escola vive. “A gente veio aqui para dar força para a comunidade. Eu como rainha tenho que resgatar o ânimo e fortalecer com o ritmo. O samba cura. O samba vai nos dar força para resgatar a energia do Império Serrano”, declarou Quitéria aos prantos.
Mestre Vitinho contou ao CARNAVALESCO como recebeu a notícia do incêndio. “Foi uma choradeira danada. Eu tinha acabado de chegar da quadra, tinha tido um evento um dia antes. Estávamos na quadra finalizando alguns instrumentos. Cheguei em casa e recebi uma ligação: Liga na Globo! A tristeza foi com a minha bateria, com a escola, com o Império Serrano. Perdemos um membro da nossa equipe, triste demais. É como se perdêssemos um membro da nossa família. Temos que tocar por eles, temos que pulsar por eles, temos que espantar a tristeza. O que espanta a miséria é a festa. Então, eu digo: o que espanta a tristeza é a festa”, afirmou.
Fechando o último dia de ensaios técnicos da Série Ouro, a passagem do Império Serrano foi marcada por muita emoção. Desde a ala formada por harmonias de outras escolas até o canto forte dos componentes da escola. Da ala jongueira da galera do Fuzuê de Aruanda até os bandeirões que relembravam os baluartes da escola como Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Wilson das Neves. Em meio às cinzas, o Império Serrano reacendeu a chama da esperança, mostrando que a força do samba e a união de sua comunidade são capazes de superar qualquer desafio. Com cada batida do surdo e cada verso cantado, a escola provou que, mesmo diante da tragédia, o carnaval segue pulsando como um símbolo de vida e resistência.