O Império de Casa Verde realizou neste sábado seu segundo ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi, em preparação para o desfile do Carnaval 2023. Os destaques deste treino imperiano vão para mais uma atuação brilhante do carro de som liderado por Tinga, e para a coroação da nova Rainha de Bateria, Theba Pitylla. O Tigre Guereiro será a quarta escola a desfilar no segundo dia do Grupo Especial no dia 18 de fevereiro, com o enredo “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”.
Comissão de Frente
Mais uma comissão que aposta não só em um grande elemento alegórico, como também possui uma coreografia de quatro passagens do samba de duração. Durante os diferentes atos, os dançarinos vão se alternando ao entrar e sair de dentro do tripé, que possui a reprodução de uma árvore baobá no topo.
A coreografia é repleta de movimentos energéticos, e na maior parte do tempo a Avenida fica com até 16 pessoas interpretando. Em dados momentos, grupos de homens marcam presença, em outros, homens e mulheres atuam juntos, seguidos de outro ato só entre mulheres e por último um grupo de homens diferente do inicial.
A equipe aparenta estar bem ensaiada, mas o andamento da apresentação rende preocupação. No primeiro módulo, passaram impecáveis. No último, porém, alguns já demonstravam cansaço, concluindo movimentos com certo atraso. Um problema a ser observado para o próximo ensaio geral.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Um desempenho irregular da parte do primeiro casal do Império, formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz. Houve falhas de sincronismo dos movimentos nos dois módulos de jurados em que foram observados, e o ritmo da dança esteve longe dos grandes momentos da dupla em sua trajetória no carnaval. Ao conversarem com a equipe do site CARNAVALESCO, porém, a dupla avaliou seu desempenho como positivo.
“A dança veio bem justa, de acordo com o que estava na cabeça, o que a gente já vem ensaiando. O andamento vai ter que arrumar ainda algumas coisinhas, mas agora é com o diretor de harmonia, de carnaval. Mas nesta semana, conseguiremos ajustar tudo para o próximo ensaio”, disse Jéssica.
“Minha análise do ensaio de hoje é que, além de nós, a escola ao todo está disposta a ganhar e em um clima de sangue nos olhos. Isso nos proporciona mais garra e alegria de fazer parte de uma escola diferente. Solta o bicho!”, declarou Rodrigo.
Quanto a possíveis melhorias a ainda serem feitas, a porta-bandeira fez os seguintes apontamentos. “Conseguimos limpar bastante coisa, tirar coisa que não funcionou e adicionar coisa que está funcionando”.
Em relação ao que consideraria o ponto-chave deste segundo ensaio, Jéssica exaltou a sintonia que tem com seu mstre-sala. “A minha sintonia com o Rodrigo é como se só tivesse eu, ele, e o Marcelo. Para nós não existe o público, sentimos energia do pessoal, mas não vemos quem está na arquibancada, quem é o conhecido do lado, focamos muito no trabalho”, concluiu.
Harmonia
Destaque no primeiro ensaio, a harmonia imperiana foi mais uma vítima do problemático sistema sonoro do Sambódromo do Anhembi. O atraso entre os alto falantes e o carro de som ficava evidente conforme o veículo se aproximava das torres, o que somado ao canto forte da comunidade, prejudicou demais a apreciação do espetáculo.
Não foram poucos os momentos em que houve atravessamento do samba ao longo de todo o treinamento, principalmente das três primeiras alas da escola que vieram à frente do enorme espaço demarcado para o carro Abre-alas, mas é difícil dizer se a responsabilidade é da direção de harmonia ou das caixas de som. A bateria “Barcelona do Samba” estava especialmente ousada neste segundo ensaio, tornando as falhas ainda mais explícitas. Por outro lado, a ala “Tigres Siberianos” deu um show de harmonia do início ao fim e merece total exaltação.
Falando na bateria, o alto número de apagões e bossas praticados parece ter provocado um efeito oposto ao esperado. O cansaço dos desfilantes ao longo da passagem do Império ficou evidente, com o desempenho do canto caindo e diretores cobrando suas alas na reta final.
Ao analisar o desempenho da escola, o diretor de Carnaval do Império, Tiguês, viu com bons olhos o desempenho da escola. “Mais um bom ensaio que a gente faz. Acho que o canto hoje não deixou dúvidas mesmo. Acho que a escola cantou muito hoje. Até por isso a gente provocou lá e fez um paradão, para testar o canto da escola também. No geral foi um baita de um ensaio, melhor do que o primeiro. Estamos no caminho certo”, declarou.
Tiguês avalia que houve uma melhora na questão das coreografias existentes ao longo da escola, e que o Império está no caminho certo. Ao citar ajustes a serem feitos, disse que será feita uma avaliação com o material colhido pela escola. “Acho que a gente percebe muitas vezes, não sei se é porque estamos na hora da bossa da coreografia da bateria, a gente percebe uma coisinha mais lenta um pouco, mas talvez seja normal. A gente está dentro da pista, e é difícil querer apontar alguma coisa. Lá de dentro é difícil falar. Agora é assistir os vídeos e ver o que a gente vai consertar aí”, explicou.
Questionado em relação aos problemas que o sistema de som do Sambódromo tem causado às escolas desde sexta-feira, o diretor garante que fará parte das conversas a ocorrerem ao longo da semana. “É complicado também porque o som não está todo afinado, a parte de caixas de som e essas coisas. A gente vai ter inclusive, pegando o áudio e tudo, para vermos com o pessoal da Liga o que é que tem para melhorar aí. Eu de onde estava, não vi nada assim, mas já ouvi falar que teve alguma coisinha nesse sentido. A gente precisa ver também com o pessoal da Liga o que vamos fazer”.
Tiguês fez questão de exaltar a comunidade imperiana ao citar o ponto mais alto deste segundo ensaio técnico. “Gostei muito da pegada do componente. Acho que a gente veio numa crescente muito bacana desde os últimos ensaios técnicos, nos ensaios de quadra e nos ensaios específicos. A parte de canto, de harmonia, eu daria nota dez para a escola”, concluiu.
Evolução
Não dá para levar muito em consideração o fechamento dos portões com uma hora e seis minutos, o que causaria um estouro de um minuto no desfile oficial. A escola de fato atrasou um pouco sua entrada, mas foi porque aproveitaram o momento para coroar a nova Rainha da Bateria, Theba Pitylla.
Dito isso, foi o melhor quesito do Império neste segundo ensaio. Sem correria, componentes brincando pelas alas, e a “Barcelona do Samba” deu uma verdadeira aula de recuo de bateria. Se fosse o desfile oficial, cravariam 40 pontos sem medo.
Samba-Enredo
Está para nascer alguém que dirá que esse samba tem algum defeito. Leve, animado, condensado em uma letra curta e de muito fácil assimilação, a obra imperiana para o Carnaval 2023 tem tudo para ser cantada por anos e anos na quadra do Tigre independente do resultado final da apuração deste ano. A maneira como o carro de som, liderado pelo novo reforço da casa, o consagrado intérprete Tinga, se encaixa com a bateria “Barcelona do Samba” é como se fossem almas gêmeas. O desempenho destes dois quesitos nesta temporada é uma verdadeira catarse, e neste ensaio apresentou novos elementos que certamente, com o devido polimento, engrandecerão ainda mais o desfile imperiano.
Questionado quanto ao grande desempenho do samba, Tinga demonstrou estar sedento por ainda mais melhorias. “A gente vai procurar melhorar até o dia do desfile. O primeiro ensaio foi muito bom, hoje foi maravilhoso, melhor ainda, Eu acho que o grande dia vai ser o dia 09, no terceiro ensaio técnico. Assim o negócio fica bom! Vamos continuar trabalhando na quadra para chegar aqui e fazer mais um grande ensaio. E, claro, para chegarmos no dia do desfile no nosso melhor e chegarmos ao objetivo de fazer a Império ser campeã do carnaval”, declarou.
Durante o ensaio, em diferentes momentos a bateria realizou apagões, mas com um estilo diferente. Uma voz feminina executou certos cacos na mesma sintonia do refrão, o que deu um toque a mais na qualidade do desempenho do samba. Tinga explicou a respeito. “A gente fez um contracanto quando a bateria para e ficou bem legal, bem suave o negócio. Ficou lindo! Somou demais, e vamos levar isso para a avenida. É tão bonito, pareceu algo tão diferente. Legal demais. Estou bem feliz com o desenvolvimento do nosso trabalho”.
Por fim, o intérprete fez questão de exaltar o trabalho de parceria com a bateria “Barcelona do Samba”, de Mestre Zoinho. “Dá para ir bem longe. A gente vai continuar trabalhando sempre, para sempre melhorar. Parece que eu desfilo aqui há muito tempo! Graças a Deus a bateria do Mestre Zoinho é maravilhosa, ele está de parabéns. O carro de som, quando eu cheguei aqui, está com toda a humildade, todo mundo aqui quer ajudar o Império”, finalizou.
Outros destaques
O momento mais marcante do ensaio foi justamente seu começo. A coroação, em pista, de Theba Pitylla como Rainha da Bateria “Barcelona do Samba” é um justo reconhecimento a uma pessoa que há anos dedica seu amor e suor à família imperiana. Até então madrinha dos ritmistas, a passista mostrou na Avenida o porquê de merecer todas as congratulações de seus colegas, com destaque para os dançarinos da Comissão de Frente, que ecoaram um grito efusivo de “ela merece!”.
Dentro deste mesmo quesito, Mestre Zoinho fez uma análise geral do desempenho da bateria neste segundo ensaio do Império de Casa Verde. “Pudemos ver a evolução, tanto no canto da escola como na evolução, como no trabalho da bateria também, estamos vindo em uma crescente. Claro que temos uns detalhes para acertar, estamos trabalhando bastante, estou aqui com meus amigos que ajudam bastante. Cassiano, mestre da Independente, o Denys, mestre da MUM, mestres e diretores da rapaziada também. Dia nove será melhor ainda, e dia 18 será o auge da bateria do Império e de todos. Que possamos fazer um ótimo carnaval”, declarou o mestre.
Em diferentes momentos do ensaio, um apagão diferenciado ocorreu, onde apenas alguns instrumentos tocavam com a já citada voz feminina fazendo cacos ao fundo. Além disso, novas bossas foram inseridas ao repertório, e Zoinho explicou a respeito. “Uma nova pegada velha, pois já fazemos isso aí faz tempo. Só que o que vamos apresentar esse ano, não é novidade para nós. Vamos brincar com a galera e com o público, vai dar muito certo. Se está perguntando, é porque gostou também”, observou.
Dentre os elementos que mais gostou neste segundo ensaio, Mestre Zoinho exalta o ritmo da “Barcelona do Samba”. “O que mais se destaca aqui é o ritmo que colocamos. Nossa bateria é tradicional, prezamos pelo ritmo, sempre ele. Às vezes sobra uma bossa ou outra, conforme o samba nos propõe. Esse samba nos proporciona essa bossa, essas convenções. A galera fica feliz, a comunidade também, e fazemos uma bossa que ajuda a escola evoluir também. O segredo é esse aí”, concluiu.
O Império de Casa Verde ainda possui um terceiro ensaio geral a realizar no Sambódromo do Anhembi, no dia nove de fevereiro. Dito isso, é fundamental que a escola analise se há coerência nos erros apontados para tornar o último treino digno desse maravilhoso enredo que o Tigre Guerreiro trará no Carnaval 2023. O samba é magnífico e está nas vozes certas para ele. A bateria então, dispensa comentários. A torcida é para que a nação imperiana faça desse desfile um novo ser, como citado nos versos do samba. Um novo ser de uma nova era gloriosa, que a Casa Verde fará muito por merecer.
Colaboraram Fábio Martins, Gustavo Lima e Will Ferreira