Por Guilherme Ayupp e Geissa Evaristo. Fotos: Magaiver Fernandes
A Imperatriz foi a última agremiação do Grupo Especial a definir o hino oficial para o Carnaval 2019. A Rainha de Ramos realizou a grande final de samba na noite desta quarta-feira em sua quadra na Zona Norte do Rio de Janeiro. A parceria dos compositores Elymar Santos, Maninho Do Ponto, Julinho Maestro, Dudu Miler, Márcio Pessi e Jorge Arthur foi aclamada como a grande vencedora. A verde e branca apresenta em 2019 o enredo ‘Me dá um dinheiro aí’, dos carnavalescos Mário e Kaká Monteiro. A Imperatriz será a sexta a desfilar no domingo de carnaval pelo Grupo Especial.
O time de poetas campeões possui quatro compositores campeões em 2018. Jorge Arthur e Maninho do Ponto levantam seu quarto caneco na escola. Julinho Maestro e Márcio Pessi são bicampeões. Apesar de um grande gresilense e frequente na escola, o cantor e compositor Elymar Santos conquista sua segunda vitória na Imperatriz, cinco ano depois da primeira. Dudu Miller é o único campeão pela primeira vez.
Sempre muito emotivo, Elymar Santos foi às lágrimas antes mesmo de saber que seria o grande vencedor pela segunda vez na escola de coração.
“Dessa vez não vou estender agradecimentos aos segmentos apenas. Eu vi essa escola nascer no quintal da minha casa. Com certeza aqui dentro eu sou um dos desfilantes mais antigos. Ver o sorriso de uma baiana, de um velha-guarda cantando meu samba é um prêmio maior que qualquer vitória. Observar a Maria Helena, esse monumento do carnaval, cantar o meu samba é emocionante demais”, pontuou Elymar bastante emocionado.
A parceria conseguiu confirmar todo o favoritismo com uma apresentação bastante consistente conquistando diversos segmentos ao longo dos 25 minutos de passagem do samba na quadra. O destaque ficou como sempre com o intérprete Tinga, o mister final. Elymar Santos fez um discurso inflamado e emocionado antes do início da apresentação. O samba que o gresilense escolheu representará a Imperatriz na avenida em 2019.
Presidente diz que não falta nada para Imperatriz alcançar as campeãs
Longe do sábado das campeãs desde o Carnaval 2016 e sem um título há quase duas décadas, o presidente da Imperatriz Luiz Pacheco Drumond disse à reportagem do CARNAVALESCO que a verde e branco não precisa fazer nada muito diferente do que vem sendo feito para voltar no sábado.
“Não falta nada. A escola fez bons carnavais recentemente. E estamos ali entre as agremiações que tem a possibilidade de voltar. O nível de competitividade hoje no Grupo Especial é altíssimo, como eu nunca vi antes nesses anos em que estou no carnaval”, destacou.
Luizinho agradeceu os serviços prestados por Cahê Rodrigues e destacou a experiência em cenografia da dupla de carnavalescos Mário e Kaká Monteiro para trazê-los para a escola.
“Entendi ser o momento de mudar um pouco. O Cahê fez fez grandes carnavais aqui na escola e em muitos foi mal julgado a meu ver. A aposta no Mário e na Kaká foi pela grande experiência deles nessa parte de cenografia. E quando tiveram a chance de desenvolver carnaval na avenida também foram bem, a meu ver”, opinou.
Com uma insegurança grande na questão da subvenção, pois ainda não há previsão para o recebimento da verba da prefeitura, Luizinho destacou que o carnaval precisará ser muito criativo.
“Tem de se reinventar. A dificuldade a cada ano que passa aumenta. Mas na época que eu entrei no carnaval era bem pior. O artista vai sempre se superar através da criatividade”, avalia.
Júnior Escafura completa quinto carnaval à frente da Imperatriz
Contratado pela Imperatriz depois do desfile de 2014, o diretor de harmonia Junior Escafura vai completar em 2019 seu quinto desfile como comandante do departamento na escola. Segundo ele, seu grande objetivo é manter a tradição de bons desfiles da escola no quesito.
“Acho que é manter a regularidade e um bom trabalho de tradição que a harmonia da Imperatriz sempre teve. Desde que eu cheguei na escola, depois do Carnaval 2014, venho norteando meu pensamento nessas tradições”, apontou.
Escafura concorda com o presidente quando interpelado o que fazer para a escola voltar às campeãs. Segundo ele, o alto nível de competitividade pode às vezes tirar a escola do sábado.
“Na minha opinião temos feito bons carnavais. Poderíamos ter alcançado um lugarzinho entre as melhores escolas principalmente nos últimos dois anos. Mas taí o julgamento e a gente respeita. Cada vez temos desfiles mais competitivo. Temos melhorado nossos quesitos. Nossa bateria é uma das melhores do carnaval, nosso casal também. As outras escolas também trabalham forte”, finaliza.
Carnavalesco sugere mudança no DNA estético da escola
O carnavalesco Mário Monteiro volta ao carnaval desenvolvendo o projeto de desfile da Imperatriz. Ele falou ao CARNAVALESCO sobre as diferenças da forma de se fazer carnaval desde sua última experiência.
“Os desfiles estão mais sofisticados em relação aos carnavais passados. As escolas esse ano estão todas se preparando de uma forma mais sofisticada para o próximo carnaval e estamos tentando acompanhar essa linguagem nova”, declarou.
Para Monteiro, o DNA de desfiles históricos da Imperatriz, consagrados pela carnavalesca Rosa Magalhães, não atingem mais o público da mesma forma. Com isso, segundo ele, se faz necessária uma mudança na proposta estética para 2019.
“Hoje acredito que a originalidade está acima do luxo no carnaval. Um enredo mais original, que tenha a ver com a realidade, tem mais interesse do público. A gente nota que aqueles enredos tradicionais, históricos que a Imperatriz estava fazendo, não provocam tanto entusiasmo com o público que quer interagir com a escola. Precisa ser um enredo que tenha comunicação com a escola”, avaliou.
A crise financeira e ideológica que assola o Brasil vai ser uma das temáticas exploradas no desfile, de acordo com Mário Monteiro.
“Pensamos no dinheiro justamente por esse pensamento. A situação do Brasil todo mundo sabe que não é uma das melhores. A história do dinheiro é uma invenção que gera uma série de problemas: é perigoso, necessário, disputado e fundamental. Trabalharemos de uma forma não direta, mas sim irônica. Criticando, mas brincando porque carnaval é alegria. Não mostraremos a miséria, por exemplo”, conclui.
‘O patrocínio amarra os desfiles’, afirma a carnavalesca Kaká Monteiro
Dividindo a criação do desfile da Imperatriz com o marido, a carnavalesca Kaká Monteiro não acha ruim o desfile da Rainha de Ramos não contar com nenhum tipo de patrocínio para o próximo ano. Segundo ela, a ausência de uma verba extra pode ser um fator positivo.
“A ausência do patrocínio da mais liberdade para a escola, porque ele de certa forma ‘amarra’ um pouco o desfile, já que é necessário atender as exigências do patrocinador. Hoje em dia está muito difícil de se conseguir um patrocínio, se tivéssemos seria ótimo”, avalia.
A carnavalesca foi outra que elogiou a safra obtida pela Imperatriz para o desfile do ano que vem. Segundo ela, houve extrema dificuldade em efetuar os cortes eliminatórios.
“A Imperatriz nos surpreendeu com a safra de sambas. Seis sambas foram excepcionais, foi difícil eliminar. Os três na final de hoje estão dentro da proposta do nosso enredo e são obras que motivam o público que já estará cansado porque o nosso desfile acontece às três horas da manhã”.
Wagner Araújo ainda lamenta notas em alegorias, enredo e fantasias
O desfile de 2019 se aproxima, mas o experiente diretor de carnaval da Imperatriz, Wagner Araújo, ainda questiona algumas notas obtidas pela Rainha de Ramos no julgamento de 2018. Segundo o dirigente, a avaliação dos quesitos enredo, fantasias e alegorias por parte do julgamento foi um ponto de discordância pela escola.
“Como fazemos há alguns anos, vestiremos a escola inteira de forma gratuita. São aproximadamente 2.700 componentes no chão e 300 em carro. Só alguns grandes destaques e semi-destaques que confeccionarão suas próprias roupas. Existe resposta sobre o que falta para a Imperatriz estar de volta aos desfiles das campeãs. O que a gente questiona nem sempre são as notas da Imperatriz na quarta de cinzas. Muitas vezes a gente concorda com a nota da Imperatriz, mas não concorda com a nota das coirmãs que apresentaram um produto com certeza pior ou igual ao nosso. Respeitamos a disputa, mas o que às vezes nos deixa muito chateados são as notas recebidas sem merecimento, principalmente, no que tange a quesitos como alegoria, enredo e fantasia”, reclama.
Wagner Araújo rechaçou qualquer tipo de alteração na obra que foi escolhida essa madrugada na quadra.
“O samba escolhido vai exatamente igual para a gravação. Aqui na Imperatriz se temos que mudar algo, mudamos antes, damos a chance da parceria corrigir. Respeitamos muito os compositores, apesar do samba quando se tornar campeão passar a se tornar da escola, e não apenas deles”, concluiu.
Ricardo Fernandes se emociona na volta à Imperatriz
Cria dos grandes carnavais da verde e branca, Ricardo Fernandes volta à Imperatriz depois de fazer sucesso em outras escolas implementando justamente tudo o que aprendeu na rua Professor Lacê. Ao falar sobre o retorno, Ricardo não conteve as lágrimas.
“Estou diretamente ligado ao Wagner Fernandes trabalhando na direção de carnaval e no que for preciso na Imperatriz. Estou em casa 16 anos depois e muito feliz. Reencontrar Maria Helena, Beto são coisas que não tem preço. Passei por alguns problemas pessoais sim, mas Wagner acreditou naquele Ricardo campeão várias vezes, que fez várias escolas funcionarem diferente”, declarou em lágrimas.
Mestre Lolo em busca do décimo ‘perdido’
Desde que assumiu a Swing da Leopoldina mestre Lolo imprimiu uma verdadeira revolução na bateria da Imperatriz. O ritmista não se acomoda e vai em busca de recuperar o décimo que impediu a bateria de alcançar os 40 pontos em 2019.
“Fizemos um bom trabalho em 2018, infelizmente, não pontuamos os 40 pontos, mas pontuamos os 30 que a escola precisava e em 2019 viremos com a bateria um pouquinho mais acelerada, mas com uma melhor qualidade. Trabalhamos a bateria a partir da justificativas do jurado que nos deu 9.9 desde julho para não repetir o erro. Por enquanto só estamos ensaiando ritmo. A partir da próxima segunda incluiremos as bossas. O ritmo da bateria da Imperatriz no próximo carnaval será de 146 a 148 BPM com 270 ritmistas”, adianta.
Arthur Franco celebra maturidade à frente do carro de som
A desconfiança sobre o nome de Arthur Franco se dissipou rapidamente desde que ele assumiu o microfone principal da Imperatriz em 2017. Ele destaca que cantar na Rainha de Ramos é tarefa das mais orgulhosas.
“É maravilhoso defender as cores de uma escola como a Imperatriz. É o sonho de qualquer cantor. Busco fazer o melhor a cada ano para corresponder a uma responsabilidade dessa grandeza. Um posto que já foi ocupado pelos cantores mais importantes do carnaval”, disse.
O intérprete elogiou a escolha do samba campeão e comemorou a safra obtida pela escola para o Carnaval 2019.
“Eu acho que o samba tem de estar no gosto da escola. É importante estar totalmente dentro do enredo. Os três finalistas tinham essa característica e vamos para a avenida com o melhor deles, na minha opinião”, concluiu.
Novo coreógrafo bebe na fonte das comissões históricas de Fábio de Mello
O novo coreógrafo da Imperatriz, Fábio Batista, respeita número baixo. Ao pisar no solo que consagrou um dos maiores artistas da história do carnaval, reverencia o legado e o talento de Fábio de Mello, o coreógrafo que na Rainha de Ramos mudou os rumos do quesito que apresenta as escolas.
“Não sei nem imaginar o tamanho da minha responsabilidade. Ela é imensa. Fábio de Mello deixou um legado espetacular não só para a escola, mas para o carnaval em si e quem vem depois tem que ter muito cuidado, muita atenção no que vai fazer. A proposta da comissão de frente já existia quando fui chamado. Teremos uma figura simbólica dentro do desfile. O enredo tem uma pegada de crítica social bem legal e a comissão de frente seguirá essa linha. Fizemos audição com quase 200 pessoas e em novembro começamos os ensaios”, confidencia.
O artista defende entretanto que como todo processo artístico as comissões evoluíram desde a era Fábio de Mello e seu trabalho também se influenciará pela estética atual das comissões.
“Acredito que a gente tenha que se adequar as comissões de frente apresentadas na atualidade. Eu já nasci na fase da comissão de frente espetáculo, da ‘terceirização’ da comissão de frente, com a saída das figuras emblemáticas como velha guarda ou mestres de cerimônia. Pude acompanhar com maturidade essa mudança e venho trazendo a minha proposta. Não tenho nenhuma crítica ao que é muito grande ou ao que é menor. Eu gosto das duas formas e acho que o que pauta as escolas são suas características. Carnaval é diversidade”, conclui.
Casal promete mudanças para 2019
Casal da Imperatriz pelo terceiro carnaval seguido, Thiago Mendonça e Rafaela Theodoro, fazem uma avaliação positiva do desfile apresentado este ano, mas confirmam mudanças para 2019. Ele avalia que concorda com o décimo perdido no último módulo de julgamento.
“O Carnaval 2018 pra mim foi sensacional a começar pela parte especial que foi ter Chiquinho e Maria Helena na nossa frente nos apresentando e nos dando a bênção. Consigo dizer que fomos consagrados com a nota, mesmo perdendo um décimo no último jurado. Estou super satisfeito e acho que o jurado enxergou algo que realmente aconteceu. Para 2019 muda muita coisa. Se compararem 2017 e 2018 vão ver o mesmo casal fazendo uma dança com estilos completamente diferentes. No próximo carnaval teremos um outro estilo novamente, lógico que continuando com a mesma base que vem dando certo, mas estaremos inovando em alguns detalhes que acabam sendo necessários para a evolução da arte. Estou completamente apaixonado pelo meu figurino”, explica.
Parceira de Thiago, mas mais antiga na Imperatriz a porta-bandeira Rafaela Theodoro destaca a consolidação da dupla formada a partir de 2017.
“O carnaval 2018 foi mais importante do que a estreia porque concretizamos nossa dupla. Eu e Thiago conseguimos nos consolidar não só para os jurados, mas para quem tinha alguma dúvida dessa parceria. A escola firmou uma identidade do casal que vem dando muito certo e a que a gente espera que dê mais certo ainda no decorrer dos próximos anos. Trouxemos algo diferente nos carnavais 2017 e 2018 e em 2019 também teremos novidades. O carnaval é buscar o algo mais. Se o jurado busca tanto o diferente, a gente precisa fazer esse diferente. Costumo dizer que a nota 30 às vezes é até melhor que a nota 40 porque ela te motiva a melhorar, corrigir, evoluir. O enredo 2019 tem uma leitura totalmente diferente do que a Imperatriz vem mostrando e a nossa fantasia é muito luxuosa”, finaliza.
Como foram as apresentações dos outros finalistas
Parceria de Moises Santiago – A parceria apostou em um trio de cantores para impulsionar a apresentação. Wantuir, Anderson Paz e Tuninho Júnior defenderam o samba. Apesar da torcida ter feito uma grande festa e cantado bastante o restante da quadra apenas assistiu à passagem de 25 minutos do samba.
Parceria de Marquinho Lessa – A parceria levou os intérpretes Nino do Milênio, Serginho do Porto e Emerson Dias para defender o samba na final. Foi a apresentação menos contagiante da noite. A torcida era reduzida e o samba também não influenciou os segmentos da escola.