Por Luiz Gustavo e Marielli Patrocínio

A Imperatriz Leopoldinense participou do “Encontro de Quilombos” junto com a Beija-Flor de Nilópolis no último sábado. E a escola aproveitou o palco não usual para realizar um ensaio num clima de festa, alegria e menos rigidez nos quesitos. Nem por isso deixou de apresentar o nível de excelência que tem conquistado nos seus segmentos. Uma abertura fortíssima com uma comissão de frente impactante com a incorporação dos orixás, e o casal Phelipe e Rafaela vivendo um exuberante momento técnico, uma evolução feliz e contagiante, um canto na ponta da língua dos componentes e mais um excelente desempenho do samba defendido de maneira impecável por Pitty de Menezes e seus
auxiliares. Um samba que para alguns pode ser um desafio para o canto por ter algumas citações à orixás ou pelo seu refrão principal cujo início é em língua Ketu, mas que mostra mais força a cada ensaio que a Verde e Branco realiza, se colocando na prateleira de cima dos sambas para esse carnaval, e neste ensaio casou perfeitamente com o ensaio solto que a escola realizou.

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André Bonatte, diretor de carnaval da Imperatriz, falou sobre o ensaio. “Acho que a gente não veio aqui muito preocupado com a técnica, isso é uma coisa orgânica porque ao longo dos fins de semana lá a gente vai fazendo o andamento e a gente reproduziu isso aqui. Mas acho que o grande barato desse evento, esse encontro que é uma coisa de ancestralidade, que é uma questão de história de duas escolas que se cruzam desde um primeiro momento em que as escolas que não eram do Rio de Janeiro não poderiam desfilar, receber subvenção, nada, e a Imperatriz oferece a sua sede na rua Teixeira Franco, número 22, para que a Beija-Flor pudesse desfilar na cidade do Rio de Janeiro, então em algum momento da história da Beija-Flor o endereço dela foi Ramos e vem aí a amizade do Anísio com o próprio Luizinho e isso vai passando em gerações. Hoje a questão técnica ficou em segundo plano, a gente veio fazer uma grande festa e acho que conseguimos”.

A Imperatriz será a segunda escola a desfilar no domingo de carnaval, apresentando o enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”, do carnavalesco Leandro Vieira.

Comissão de Frente

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Manteve a pegada impactante dos ensaios de Ramos, com componentes representando orixás como Exu, Xangô e Oxalá, em uma coreografia muito visceral, com forte teatralização e interpretação, e o momento onde alguns integrantes acendem fogo, levantando o público presente em Nilópolis. Resta saber se essa base de coreografia será a utilizada no desfile oficial. Se sim, o coreógrafo Patrick Carvalho apostará numa comissão muito dinâmica e de boa comunicação com o público para obter uma boa estreia no comando da comissão de frente da Imperatriz Leopoldinense. Todos os componentes estavam fantasiados.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

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Desde que voltaram a formar um casal, após o carnaval de 2022, Phelipe e Rafaela vivem um momento espetacular, dois carnavais com nota máxima no quesito, e para 2025 continuam exibindo um bailado de excelência. A dupla mostrou uma dança solta e bem sincronizada, com um bailado mais tradicional, principalmente pela parte de Rafaela, encaixando elementos mais coreográficos em alguns trechos do samba, como no refrão principal. Phelipe mantém seu bailado ágil e de muita expressividade visual, dando ao casal uma versatilidade que se casa perfeitamente entre ambos.

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Samba e Harmonia

Pelo terceiro ano consecutivo a Imperatriz tem um dos sambas mais elogiados da safra, e o rendimento ao vivo referenda tais elogios. É um samba com variações melódicas que valorizam a obra, com uma subida que levanta o canto da escola no refrão principal, que mesmo com o trecho em ketu flui com enorme facilidade. Pitty de Menezes se mostra um dos grandes intérpretes da atualidade e comanda um carro de som muito azeitado, que segura todas as subidas e descidas de notas que o belo samba possui. E essa fluidez harmônica não é vista apenas no carro de som da escola, mas também no canto dos componentes, que desempenharam com empolgação durante todo o ensaio.

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A ala de baianas, que costuma ter uma média de idade mais elevada e por vezes um canto mais contido, entoou o samba com muita vontade. A escola, outrora conhecida como “certinha de Ramos” desfila cada vez mais solta e feliz. Um outro ponto de destaque foram os diretores de harmonia, quase todos cantando o samba do início ao fim do ensaio. O intérprete Pitty de Menezes ressaltou a importância deste evento e o desempenho do samba da Imperatriz.

“Primeiro quero agradecer à toda comunidade de Nilópolis por ter recebido a gente com muito carinho, essa avenida que é a Mirandela lotada, foi muito legal fazer um ensaio aqui junto com a Beija-Flor e ver a força do nosso samba. A gente pôde ver que não estamos só em Ramos, o samba está sendo cantado por todo o público que ama o carnaval, e o entrosamento com a bateria foi maravilhoso, mestre Lolo dispensa comentários, tenho que agradecer à toda minha galera do carro de som, direção musical, e fizemos um ensaio maravilhoso, com sincronia, o canto foi uniforme, o encontro com a Beija-Flor foi lindo”.

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Evolução

A verde e branco se preocupou menos com o tempo e andamento de treino para o desfile, passou num ritmo mais lento para brincar ao máximo. Apesar deste ritmo mais devagar, a escola não evoluiu com marasmo, os componentes mostraram muita animação e conseguiram passar isso para o público, que reagiu muito bem ao ensaio da Imperatriz. A agremiação da Leopoldina trará algumas alas coreografadas que estão evoluindo com fluidez, sem engessar o avanço da escola. A comunidade se mostra bem feliz com o momento da Imperatriz, desfilando com alegria, sorriso no rosto e empolgação.

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Outros Destaques

A bateria, de mestre Lolo, trouxe quatro bossas, executadas com muita precisão, como o ijexá no trecho que cita o ritmo. De alto nível de execução e concepção, realçando o grande momento desta bateria que desde 2016 alcança os 30 pontos válidos. A musa Carmem Mondego veio à frente da bateria, que não contou com sua rainha Maria Mariá. Antes da entrada da bateria no recuo, uma bandeira foi aberta com as imagens de Anisio Abrãao David e Luizinho Drummond abraçados, maiores presidentes da história das duas agremiações, respectivamente. Uma bonita homenagem sendo o retrato do significado do encontro entre as duas escolas. João Drummond, diretor executivo da Imperatriz e filho
da presidente Cátia Drummond, falou sobre o evento.

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“Pra mim é uma sensação de grande honra, ter essas duas escolas gigantesca dividindo esse solo sagrado que é a Mirandela, que é a casa da Beija-Flor de Nilópolis. Eu tenho um carinho muito grande pela Beija-Flor, tenho um pedacinho do coração na baixada fluminense, minha família é de São João de Meriti, tenho um carinho muito grande por toda família Abraão David, ao meu tio Anisio, então receber esse convite e estar aqui dividindo esse espaço hoje é um orgulho e uma felicidade muito grande. Acho que Imperatriz e Beija-Flor sempre foram amigas. Durante a década dividiram campeonatos, disputas acirradas e disputa todo mundo quer levar a melhor, mas a relação entre as duas escolas é a melhor possível.”