As ruas de Ramos presenciaram mais um domingo de tradicional ensaio da sua rainha. Nas calçadas, muita gente tomando a sua cervejinha, arrumando um bom lugar para ter a melhor visão de mais um desfile da comunidade, que gosta de ensaiar e se sente feliz, mesmo dentro da seriedade que se tem que ter para se preparar a entregar a nota. Ainda assim, está cada vez mais próximo daquilo que o carnavalesco Leandro Vieira tem procurado para o componente nos últimos anos: alegria, picardia, fervor, paixão, irreverência, etc. A Imperatriz será a segunda escola a desfilar no domingo de carnaval, 2 de março, com o enredo “Ómi tútú ao Olúfon – Água fresca para o Senhor de Ifón”, do carnavalesco Leandro Vieira.

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Bem resolvida em seus quesitos, a escola apresentou um grande número de componentes em seu treino. A atividade teve a presença maciça do público que lotou a Euclides Faria e observou com fervor a Rainha de Ramos passar. O samba, pelo terceiro ano seguido, parece ter sido uma escolha muita acertada, e junto com a já eficiência do trabalho nos quesitos, trouxe um ingrediente a mais para que cada setor da escola pudesse fazer diferente. Desde a excelente apresentação da comissão de frente, que veio com um elenco bem cheio, passando pelo casal, mais uma vez, bem entrosado até a parte musical da escola, em uma grande sincronia entre Lolo, Pitty e o canto do componente. Mais uma vez, a Verde e Branca de Ramos vai gerando muito expectativa a partir de seus ensaios de que será mais um ano brigando lá em cima.

André Bonatte, diretor de carnaval, deu a sua avaliação após o ensaio, também enfatizando a contribuição do samba para o trabalho que vem sendo realizado com a comunidade.

“Eu acho que naturalmente a gente vai navegando naquilo que a gente já entende através das experiências que a gente teve que vai nos dar algo além. O samba-enredo defende quase todos os outros quesitos. Enredo, a própria coreografia para o mestre-sala e a porta-bandeira, é feita em cima do samba-enredo, comissão de frente, mas sobretudo a questão da evolução e da harmonia. Acho que a lmperatriz, nesses três últimos anos, está flutuando na mesma na mesma tendência, no mesmo estilo de samba. É um samba que tem refrãos bem definidos, bem fortes. E que não deixa o samba cair ao mesmo tempo, não se torna só aquele samba de um refrão que passa o tempo, fica morno quando chega no final. É um samba que nos permite um canto tranquilo. O ensaio de hoje foi melhor que semana passada, mas eu espero que o da semana que vem seja melhor”, disse o diretor.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

Comissão de frente

Na expectativa por fazer a sua estreia na Imperatriz, Patrick Carvalho reencontra Leandro Vieira em um enredo que tem muito de movimentos de danças mais tribais, como foi no Império de 2022, com o “Besouro Mangangá”, quando os dois profissionais foram peças importantes para o acesso da Serrinha. Em um grande sinal de respeito com a comunidade e mostrando que está cada vez mais motivado para esse novo desafio, o coreógrafo levou um grande número de integrantes para Ramos, mostrando que terá mais de um elenco na apresentação projetada para a Avenida. No ensaio, como visto recentemente, eles procuram, principalmente na coreografia de deslocamento, manter uma formação mais uníssona, em dois conjuntos, com destaque para um elemento que, mais uma vez, veio já caracterizado como Oxalá pelas roupas em cor alva e interagia com os dois grupos. Destaque para a expressividade deles e ao mesmo tempo pela intensidade de movimentos.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O Oxalá da comissão de frente, antes de se retirar, apresenta ao público o pavilhão a partir de Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, primeiro casal da Rainha de Ramos. A experiente dupla, que vai para o seu terceiro carnaval juntos após a volta do mestre-sala a escola em 2023, inicia sua apresentação com alguns giros da porta-bandeira até a apresentação do pavilhão para os jurados. Conhecidos por um estilo mais clássico, a dupla procura na primeira estrofe do samba até o refrão do meio, apresentar passos mais tradicionais do quesito. A grande mudança acontece no bis “Justiça maior é de meu pai Xangô” em que eles apresentam movimentos de danças ligadas a religiões de matriz africana, o que é retomado também no refrão principal “Oní sáà wúre! Awure awure!”. A dupla mostrou o entrosamento de sempre, teve boa desenvoltura, mesclando movimentos mais graciosos com momentos de intensidade. Phelipe ao final de cada “cabine” já colocava o seu tradicional brado incentivando o motivando os componentes que vinham atrás.

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Harmonia

Com o avançar do trabalho cada vez mais as alas estão já integradas no universo do samba. Não se percebeu um número expressivo de componentes que não estivessem cantando ou só dublando. Ao contrário, em geral, o que se viu foi uma comunidade com canto bem intenso, berrando o samba em algumas partes como o refrão principal, o bis da entrada com o “Vai começar” e o “Justiça maior é de meu pai Xangô”. No carro de som, mais uma vez, Pitty mostrou o controle das ações e o uso de atabaques na abertura deu um charme não só para o início da apresentação, quanto para as excelentes bossas de mestre Lolo, claramente a vontade com a obra, e criando convenções cirurgicamente dentro do enredo como nos ultimos carnavais.

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Samba-enredo

A obra assinada por Me Leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro tem características singulares dessa parceria que tem participado dos sambas escolhidos nos últimos três anos. Mescla momentos de ataque, com trechos mais melódicos. Os momentos de explosão ajudam muito na intenção que o carnavalesco Leandro Vieira tem trazido para a Imperatriz de colocar mais fogo e paixão na atuação do componente, se opondo ao apelido recebido pela escola, principalmente nos anos 90, de “certinha de Ramos”.

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Os versos que se iniciam com “Vai começar o itan de oxalá”, como diz na própria letra, se intencionam em apresentar qual a história que vai ser contada e na melodia permitem desenvolvimento de bossas e convenções e tem um detalhe melódico muito interessante na segunda vez, na ligação entre “Babá” e “Orinxalá”, em uma ponte que começa a dar ritmo para a música a partir dos versos seguintes. Em “destina seu caminhar” a música começa a ter maior fluidez, agora partindo para o ataque. O refrão do meio “Ofereça pra exú” tem muito balanço e permitiu o desenvolvimento de bossas mais voltadas para os toques originário de saudação aos orixás. Depois, a obra volta a andar, com uma melodia valente, mas bem desenvolvida até um ponto de mais pausa no “Justiça maior é de meu pai xangô” que vai permitir, inclusive, o desenvolvimento do alujá. A obra, de melodia bastante original, vai ter seu clímax no refrão principal “Oní sáà wúre! Awure awure!”, que é muito bom, forte e gostoso de cantar. Caminha para esse ponto alto, mas sem se arrastar, sem cansar, como um filme que a gente nem sente o passar do tempo e ainda assim fica esperando o desfecho.

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A obra permitiu que a escola pudesse aproveitar bem a sua sonoridade principalmente com as bossas de mestre Lolo dentro do refrão do meio e refrão principal, em que há o toque do Ijexá e no bis “Justiça maior” em que há o toque para Xangô.

Evolução

A evolução da escola primou pela cadência, pela fluidez e pela espontaneidade, ainda que fosse possível observar algumas alas coreografadas bem dentro do que o enredo pedia, como uma ala mais para a metade do desfile em que os componentes faziam uma coreografia utilizando machados de papel, em uma clara alusão a Xangô. Já no final, antes da baianas, uma ala com mulheres de saias brancas também produziam uma dança. Mas, nada que tenha tirada a espontaneidade do ensaio, já que havia momentos em que os foliões apenas brincavam carnaval. É uma escola que tem achado bem o equilíbrio entre a técnica e o “brincar carnaval”, madura, sem pressa para chegar ao final da apresentação, aproveitando cada minuto de treino.

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“As baianas esse ano vem no final da escola, uma aposta do Leandro Vieira até porque tem muito a ver com o último setor da escola e eu ouso dizer que é uma das baianas mais bonitas da história da Imperatriz. Acho que vai ser um final muito bonito. Com relação a
essa questão das alas coreografadas, eu sempre percebo que a gente orienta, se ela atrapalhar, não adianta. A gente começa botando muita coisa em relação a movimentos e depois vai limpando para chegar naquilo que entendemos como ideal. Acho que está funcionando muito bem. E o restante da escola que faz movimentos, muitas vezes, não é nada orientado. Isso mostra que a espontaneidade é uma coisa que está completamente dentro do samba”.

Outros destaques

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A rainha Maria Mariá esbanjou samba no pé trazendo as cores da escola em um modelito bem brilhos. Pitty de Menezes e o carro de som relembraram os últimos dois sambas da escola no esquenta com o “Lampião”, campeão em 2023, e a “Cigana Esmeralda”, vice em 2024. Milton Cunha deu o ar da graça no ensaio gravando conteúdo para o quadro “enredo e samba”, do “RJTV”, da TV Globo. Antes do início da apresentação o comunicador falou sobre sua amizade com o patrono da escola Luzinho Drummond, lembrando que ele sempre foi um grande incentivador do seu trabalho e do seu jeito de ser. A bateria, de mestre Lolo, trouxe atabaques para firmar ainda mais o contexto da musicalidade e religiosidade negra do enredo.

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