A Imperatriz voltou ao Grupo Especial e fez jus à missão de abrir o principal grupo do Rio de Janeiro após mais de dois anos sem carnaval devido à pandemia. O encontro Rosa Magalhães, Imperatriz e Arlindo Rodrigues trouxe alegorias e fantasias luxuosas, misturando a estética dos dois carnavalescos que mais representam o estilo clássico da Imperatriz. O início da escola impressionava pelo alinhamento entre a enorme locomotiva da comissão de frente, o tripé trazendo a figura do homenageado e o abre-alas com o Theatro Municipal. Destaque também para a bateria de mestre Lolo e para a comissão de frente com bons efeitos e traduzindo com irreverência e bom humor o enredo. As fantasias com boa leitura eram luxuosas, de bom gosto e com materiais que foram consagrados pelo carnavalesco homenageado. Único ponto negativo foi a irregularidade na harmonia, que alternou algumas alas cantando muito e outras nem tanto. Com o enredo “Meninos eu vivi…Onde Canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”, a Imperatriz abriu a primeira noite de desfiles do Grupo Especial encerrando com o tempo de 67 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE DA IMPERATRIZ
Comissão de Frente
Coreografada por Thiago Soares, a comissão de frente “O trem das lembranças” apresentou uma proposta coreográfica lúdica, respeitando as características da Imperatriz Leopoldinense e promovendo o reencontro da escola com suas marcas de identidade. O elemento alegórico do grupo recriou a imagem mais simbólica do desfile de 1981, o trem que se tornou vedete da apresentação em homenagem a Lamartine Babo. De seu vagão, há a referência ao espelho, material lançado no carnaval por Arlindo. No elenco, o pioneirismo na inserção de mulheres no quesito, as bailarinas dançavam com saias que se transformavam em capas e outros elementos de figurino.
Depois, em um segundo momento a comissão de frente interagia com o vagão de trem e portas espelhadas, até um segundo elenco todo prateado aparecer. Uma bailarina também realizava um truque de troca rápida de roupa os outros integrantes se aproximavam, o que levava o publico ao delírio. Outro ponto forte, era um drone totalmente caracterizado de sabiá que voava no final da apresentação da comissão. Importante ser citado que na primeira cabine de julgamento um pouco antes da apresentação ter início uma das bailarinas parou para ajustar a roupa com uma assistente e depois no segundo módulo , um dos espelhos girou um pouquinho antes da hora na troca de elenco.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal, Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro, vestiu a fantasia “Imperatriz- a manequim dos sonhos de Arlindo” representando as formas sinuosas, arabescas e barrocas, ideias constantes em toda obra do carnavalesco homenageado e que também caracterizam o estilo romântico, histórico, barroco e tradicional da Rainha de Ramos desde sua fundação. A apresentação nos três módulos aconteceu sem problemas, com a bandeira sendo bem desfraldada mesmo com o vento que começou a atingir a pista com um pouco mais de força. A dupla da Imperatriz preferiu trazer uma coreografia mais tradicional com destaque para o fato de conseguirem alinhar ao mesmo tempo intensidade e leveza com uma postura corporal impecável. Apenas algumas terminações de passos faziam maior referência ao samba como em “Salve a Mocidade”, em que faziam um referência com os braços ao alto. A dupla também seguiu o ritmo de uma bossa de mestre Lolo com um ritmo de pagode no trecho “Seu samba nascendo no morro”.
Harmonia
O ponto negativo a ser citado da escola, pois o canto não foi tão uniforme e nem tão intenso como visto em alguns ensaios. A imperatriz alternou alas cantando com mais vigor como ” Africanidades – a raiz africana nas peles e no vime”, e outras nem tanto como algumas do terceiro setor. O canto começou até mais intenso no início do desfile mas foi perdendo um pouco dessa vitalidade a partir da segunda cabine. Outras alas que se destacaram no canto foram “Zumbi dos Palmares – o herói da revolução” no segundo setor, e “Sincretismo religioso – Oxalá do Bonfim” no quarto setor. Do samba, o trecho “Amada Imperatriz” era o de maior destaque com os componente entoando e erguendo o braço para cima.
Enredo
O enredo “Meninos, eu vivi… Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine” trouxe o reencontro da Imperatriz Leopoldinense com o seu grande mentor artístico Arlindo Rodrigues, pontuando o momento de renascimento da escola que se olha no espelho e se reconhece outra vez como uma referência do carnaval. A escola dividiu o desfile em cinco setores. No primeiro “Da Ribalta à Avenida” – À Luz do Destino, o Menino e o Dom”, a revolução que Arlindo trouxe do Theatro Municipal para o carnaval. Em seguida “Canta, Salgueiro!- A Revolução Africana na Vermelho e Branco”, apresentou a chegada de Arlindo e Pamplona ao Salgueiro nos anos 60.
No terceiro setor “”Salve a Mocidade! – Onde Arlindo descobriu o Brasil”, foi representado a mudança de Arlindo para a Mocidade, no quarto setor “Reluzente como a luz do dia – O encontro romântico e barroco entre Arlindo Rodrigues e a Imperatriz”, foi retratado a chegada do homenageado à escola de Ramos. E por fim, em “Meninos, eu vivi … Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”, a escola celebrou a consolidação da Imperatriz como potência por Arlindo no desfile sobre Lamartine. O enredo foi apresentado de forma coerente, no geral de fácil leitura e como se esperava da carnavalesca Rosa Magalhães, com um tom didático e bastante claro.
Evolução
A Imperatriz Leopoldinense realizou uma evolução fluida, sem correria e sem grandes paradas, apesar de algumas fantasias serem de um material um pouco mais pesado . Não foram observados buracos ou alas emboladas. O segundo setor que fazia referência ao Salgueiro e o último brindando a força dos carnavais de Arlindo na Imperatriz eram os que traziam um evolução mais espontânea e alegra. Nesse sentido, a fantasia parece ter ajudado um pouco.
Samba
O samba interpretado pela dupla Arthur Franco e Bruno Ribas foi beneficiado pelo andamento cadenciado introduzido pela “Swing da Leopoldina” de mestre Lolo, facilitando o canto e a evolução dos componentes. A dupla de intérpretes mostrou grande entrosamento com Arthur trazendo intensidade à obra e Bruno Ribas realizando boas intervenções harmônicas e vocalizações. Destaque para o trecho “Amada Imperatriz”, em que alguns momentos a bateria de mestre Lolo secava os instrumentos e o trecho era entoado pelos componentes com bastante vigor. O trecho “Seu samba nascendo no morro”, mais melódico e com uma outra bossa de mestre Lolo em ritmo de pagode também era cantando com intensidade.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Imperatriz foi um dos grandes destaques do desfile trazendo uma mistura do estilo Rosa com o Estilo Arlindo Rodrigues, e se consolidando naquela estética clássica, romântica da Imperatriz que há algum tempo não era vista com tanto vigor e bom gosto na Sapucaí. A utilização da renda e de babados, estilo de material aliado tanto a estética de Rosa como de Arlindo era visto em diversas fantasias principalmente no primeiro e no último setor que faziam maior referência a produção do Arlindo.
Destaque para as alas “Imersão teatral -Inspiração no drama e na comédia”, e “Corpo de baile – A arte em movimento”, ambas do primeiro setor, e a fantasias das composições do último carro ” Meninos eu vivi” que também esbanjavam bom gosto no uso da renda. No segundo setor houve a mudança de cor fazendo homenagem ao Salgueiro e trouxe a presença de um estilo mais afro com destaque para figurinos com mais vime, outro material de preferência de Arlindo como nas ” baianas de todos os deuses – matriarcas afro-brasileiras” e “Zumbi dos Palmares – o herói da revolução”. Em geral um banho de bom gosto com materiais de primeira qualidade.
Alegorias
A escola trouxe cinco alegorias e dois tripés. O primeiro tripé que funcionava como um “pede passagem” “Arlindo a contemplação” trazia o homenageada admirando a entrada de sua amada Imperatriz para contar sua história. O carro abre-alas “À luz de um nobre destino, o universo fascinante do Theatro Municipal” com a primeira parte apresentando a coroa da Imperatriz Leopoldinense decorada com os rocailles magníficos do interior do Theatro Municipal, além das luminárias fascinantes que adornam o lugar. Na segunda parte, os espelhos – introduzidos por Arlindo no carnaval e abundantes na decoração do Theatro.
O segundo carro “A raça encarnada na Negritude do Salgueiro – Formas estampas e natureza: A África de Arlindo” trouxe um retrato da verdadeira identidade do negro brasileiro e das raízes africanas plantadas no Brasil”. A escultura de Zumbi era muito alta. No último carro “Meninos, eu vivi…e ainda vivo! A eterna influência” trouxe no final uma bonita homenagem a Joaosinho Trinta com o cristo de “ratos e urubus”. Joaozinho trabalhou com Arlindo, o substituiu no Salgueiro e foi seu contemporâneo na disputa de carnavais com um estilo oposto ao clássico que formou a identidade da Imperatriz. Apesar da beleza e do bom gosto dos carros, as luzes do segundo tripé “Decorações de rua – o caminho enfeitado pelas mãos de Arlindo e Pamplona”, estavam apagado próximo a terceira cabine de julgamento. A ultima alegoria também apresentou alguns problemas de acabamento quando um pano voava com o vento e deixava a mostra a parte interna.
Outros Destaques
Antes do desfile, Joao Drumond discursou prestando uma homenagem ao avô falecido em 2021, o eterno patrono da Imperatriz, Luiz Pacheco Drumond. A cantora Iza esbanjou simpatia a frente da Swing da Leopoldina com a fantasia “matriz brasileiro – as cores da Terra”, representando os matizes que coloriram o avistamento dos portugueses no descobrimento do país. Os ritmistas vieram representando o descobrimento do Brasil, um dos temas que Arlindo mais gostava de contar na Avenida.
Mestre Lolo e seus diretores fez uma homenagem a mestre André o icônico comandante da “Não Existe Mais Quente” inventor das famosas paradinhas. O último carro, além de trazer imagens de Arlindo em um telão também trouxe vídeos com seu Luizinho Drumond, o responsável pela escolha do enredo e a volta de Rosa a Imperatriz. Já a carnavalesca veio sentada na última alegoria da escola. O ex mestre-sala Chiquinho causou bastante emoção ao vir sozinho no carro “A sagração no altar da Bahia”, sua falecida mãe, a porta-bandeira Maria Helena originalmente também viria na alegoria.