Quarta-feira de cinzas.

– Parem as máquinas! Escola de samba agora só… no carnaval. Que besteira é essa de ficar esticando festa aqui? Agora vem Copa, São João, eleição, o aniversário do patrão, do supermercado popular, dia dos pais, das mães, do amigo, Natal, Ano Novo… Parem de falar de carnaval. Apenas parem!

WhatsApp Image 2021 09 26 at 12.10.24

Não é difícil de imaginar a cabeça de um editor gritando esses comandos na redação. Afinal, a chamada mídia comercial trabalha segundo o calendário de fatos a serem selecionados para você consumir assuntos que, ritualizados, repetidos ano a ano, convergem para a criação de um imaginário que é bastante lucrativo.

Celebritudos e celebritudas são notícia sempre. Da Páscoa ao reinado de Momo, esses seres que chegaram ao Olimpo da fama estão sempre lá, estampando as páginas e telas disputadíssimas. O mercado massivo de caça-cliques jamais vai pensar em trazer a você a definição do enredo da sua escola, dos favoritos nas disputas de sambas de enredo, muito menos debater os rumos da direção da festa. Sabe quem fomenta essa demanda? Sim, ela! A imprensa alternativa.

Com a segmentação expandida a partir dos anos de 1990, por meio do desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação, passou a ser possível discutir carnaval fora do período da folia. Enquanto o Brasil toma quentão e pula fogueira, as agremiações não param e um novo ciclo carnavalesco nasce sob o olhar atento de veículos que sambam para sobreviver ao mercado selvagem da comunicação.

Há dez anos, um desses veículos surgiu, feito de samba, suor e sonho. A Rádio Arquibancada, que toca samba de enredo o ano inteiro, transformou-se ao longo do tempo em ágora indispensável para o debate carnavalesco. Em tempos pandêmicos, em que o isolamento tomou o lugar do abraço, foi essa mídia abnegada de produção essencial que nos manteve conectados com as escolas de samba.

Por meio de financiamento coletivo, cliques, participação e colaboração, está sendo possível manter mídia carnavalesca de pé. Não é fácil. Atravessar a tormenta e avistar o brilho da purpurina e o som da batucada vindo ao nosso socorro consome energia e tempo, e exige dedicação, estratégia e paixão.

Por isso, ao abraçar a Rádio Arquibancada e toda a imprensa alternativa que cobre as escolas de samba, o site CARNAVALESCO afaga a si mesmo e também os amantes do Carnaval carioca. É do trabalho desses profissionais que as agremiações viram notícia o ano todo. E hoje, pelo menos aqui, invertem a lógica e passam a ser a manchete principal. Viva a imprensa carnavalesca alternativa!

Texto de João Gustavo Melo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui