Quarta-feira de cinzas.
– Parem as máquinas! Escola de samba agora só… no carnaval. Que besteira é essa de ficar esticando festa aqui? Agora vem Copa, São João, eleição, o aniversário do patrão, do supermercado popular, dia dos pais, das mães, do amigo, Natal, Ano Novo… Parem de falar de carnaval. Apenas parem!
Não é difícil de imaginar a cabeça de um editor gritando esses comandos na redação. Afinal, a chamada mídia comercial trabalha segundo o calendário de fatos a serem selecionados para você consumir assuntos que, ritualizados, repetidos ano a ano, convergem para a criação de um imaginário que é bastante lucrativo.
Celebritudos e celebritudas são notícia sempre. Da Páscoa ao reinado de Momo, esses seres que chegaram ao Olimpo da fama estão sempre lá, estampando as páginas e telas disputadíssimas. O mercado massivo de caça-cliques jamais vai pensar em trazer a você a definição do enredo da sua escola, dos favoritos nas disputas de sambas de enredo, muito menos debater os rumos da direção da festa. Sabe quem fomenta essa demanda? Sim, ela! A imprensa alternativa.
Com a segmentação expandida a partir dos anos de 1990, por meio do desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação, passou a ser possível discutir carnaval fora do período da folia. Enquanto o Brasil toma quentão e pula fogueira, as agremiações não param e um novo ciclo carnavalesco nasce sob o olhar atento de veículos que sambam para sobreviver ao mercado selvagem da comunicação.
Há dez anos, um desses veículos surgiu, feito de samba, suor e sonho. A Rádio Arquibancada, que toca samba de enredo o ano inteiro, transformou-se ao longo do tempo em ágora indispensável para o debate carnavalesco. Em tempos pandêmicos, em que o isolamento tomou o lugar do abraço, foi essa mídia abnegada de produção essencial que nos manteve conectados com as escolas de samba.
Por meio de financiamento coletivo, cliques, participação e colaboração, está sendo possível manter mídia carnavalesca de pé. Não é fácil. Atravessar a tormenta e avistar o brilho da purpurina e o som da batucada vindo ao nosso socorro consome energia e tempo, e exige dedicação, estratégia e paixão.
Por isso, ao abraçar a Rádio Arquibancada e toda a imprensa alternativa que cobre as escolas de samba, o site CARNAVALESCO afaga a si mesmo e também os amantes do Carnaval carioca. É do trabalho desses profissionais que as agremiações viram notícia o ano todo. E hoje, pelo menos aqui, invertem a lógica e passam a ser a manchete principal. Viva a imprensa carnavalesca alternativa!
Texto de João Gustavo Melo