O Tucuruvi apresentou para o carnaval de 2024 o enredo “IFÁ”, que será desenvolvido pelos carnavalescos Yago Duarte e Dione Leite, e pelos pesquisadores Vinícius Natal e Renato Carvalho. A proposta é observar o oráculo de Ifá não somente como um jogo de adivinhação, mas, também, como uma filosofia e olhar singular para a vida segundo os preceitos e princípios Yorùbá. Confira abaixo o texto divulgado pela escola.
“Diversos mitos de origem nos contam que Ilé Ifẹ̀, berço da humanidade localizado na atual Nigéria, teria sido o seu local de surgimento. E, ali, não nasceria apenas o Ifá como a conexão entre o humano e o sagrado, mas, também, um ideal que prega o amor ao próximo e a superação de toda a maldade que há no homem, que deve viver em harmonia com ele mesmo e com a natureza.
Através da caída dos Odú – caminho de vida o qual uma pessoa nasce predestinada a cumprir – no Ọpọ́n Ifá – tábua de madeira destinada ao rito – é que se interpreta a mensagem passada por Orunmilá, o deus supremo que é o próprio Ifá, e Èṣù, que é a própria comunicação, a boca que tudo come, Ẹnugbárijọ. É ali que mora nosso destino e nossa missão na Terra, onde o oráculo nos ajuda a compreender e a cumprir, da melhor maneira possível.
A filosofia de Ifá se construiu, durante séculos, como uma ciência africana que, a partir do triste processo de escravidão negra, chegou às Américas e espalhou-se por diversos países como Haiti, Cuba e Brasil. E foi a partir disso, demonstrando lições sabedoria aos seus filhos e seguidores, que se consolidou pelo país, principalmente em São Paulo, servindo como visão de mundo para os Bàbáláwo – chefes e autoridades maiores no culto – e seus adeptos.
Assim como diversas outras religiões de matriz afro-brasileira, como o Candomblé e a Umbanda, tão rica cultura não passaria em vão ao preconceito e à intolerância daqueles que não enxergam, no irmão, um espelho de bondade. Com o crescente aumento de ataques à terreiros e lideranças religiosas de matriz africana no estado de São Paulo, o culto de Ifá vem sendo alvo, frequentemente, de ataques de intolerantes religiosos que demonizam a ancestralidade africana. Entendendo a importância das matrizes africanas para a construção de nossa cultura – do próprio samba! – nossa escola também soltará um grito por respeito às nossas raízes pois, afinal, a cultura negra deve ser respeitada.
Nos despedimos, na certeza de que um belo carnaval se aproxima. Talvez, um dos mais desafiadores, mas que, com certeza, nos levará a um desfile emocionante, poético e culturalmente relevante para toda a sociedade brasileira.
Que nosso destino, em Ifá, se cumpra: a vitória!
Que os Òrìsà abençoem nossa caminhada.
Vamos com Èṣù e Orunmilá”.