O domingo teve mais um lançamento de enredo na cidade de São Paulo – agora, na Arena Neguinha, no Jabaquara. A tradicionalíssima verde e rosa da Zona Sul paulistana revelou a todos os amantes do carnaval qual será a temática a ser apresentada em 2025: o Barroca investirá, mais uma vez, em um tema ligado a minorias – no caso, um enredo afro. Intitulado “Os Nove Oruns de Iansã”, a agremiação falará sobre a entidade que, na religiosidade, é a guerreira dos ventos e das tempestades. A reportagem do CARNAVALESCO esteve presente no evento para o lançamento do enredo, que teve uma feijoada para todos os presentes, apresentações da Tudo Nosso (bateria da agremiação), da Cia Soli (grupo de dança com participação de PcDs) e das passistas da instituição. Três shows também tiveram destaque: DJ Fabiano, Resenha dos Brothers e Terreirão do Sobral – capitaneado por Renê Sobral, intérprete da Dragões da Real. Também foi apresentado Mauro César, novo segundo mestre-sala da agremiação – que, em 2024, defendeu o pavilhão principal da Unidos de Vila Maria. Com dengue, Pedro Alexandre, o Magoo, carnavalesco da escola, deu um rápido discurso à comunidade após o anúncio da temática.
Origem
Em entrevista exclusiva ao CARNAVALESCO, Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio, o Cebolinha, presidente da agremiação, destacou como surgiu a ideia de falar sobre a entidade religiosa: “Alguma intuição minha que pediu para ser esse enredo. Nisso, fizemos a definição da temática e acabou acontecendo. O Magoo desenvolveu – está desenvolvendo, na realidade. O processo ainda está acontecendo. Acho que é um belo enredo, que falar de uma entidade no carnaval tem uma energia a mais. E é isso que o Barroca gosta! O Barroca gosta de falar de temáticas assim, é a cara do Barroca”, empolgou-se o mandatário.
Alex Ferreira, um dos integrantes da Comissão de Carnaval do Barroca, detalhou um pouco mais o trajeto para que o martelo fosse batido em torno da temática: “A gente tinha algumas linhas de plano, e sabíamos que queríamos fazer um enredo afro e voltar para as raízes da escola. Haviam algumas outras propostas de enredo, tanto os religiosos quanto os de determinados grupos, algo com temática nordestina… trabalhamos em cima de alguns desses, o Magoo fez algumas sinopses, mas optamos por essa linha mais religiosa principalmente por uma contribuição do João Neguinho [vice-presidente e um dos diretores de Harmonia da agremiação], que fez uma explanação super detalhada para a gente. Quando o Magoo trouxe a ideia de falar de Iansã por uma outra linhagem, tentando trabalhar com a ideia histórica e tentar mostrar a entidade de outra forma (de como ela se consolida, o caminho aos céus e etc), pensamos que trabalhá-lo na avenida, com um pantone de cores gigantesco, é possível fazer uma modificação nas cores ao longo do desfile… isso é importante para nós, e nós abraçamos a ideia”, comentou, aproveitando para novamente destacar o carnavalesco da agremiação e outro importante baluarte barroquense.
A história se repete
Em 2024, o Barroca comemorou o Jubileu de Ouro da Faculdade do Samba com o enredo “Nós Nascemos e Crescemos No Meio de Gente Bamba, Por Isso Que Nós Somos a Faculdade do Samba. 50 Anos de Barroca Zona Sul” e relembrou alguns dos grandes desfiles da própria história. Tal retorno também pode ser visto na apresentação da temática para 2025, de acordo com Alex: “Trazemos contribuições de outros enredos que já tivemos: Oxóssi (padroeiro da escola, enredo do Barroca em 2019), que vai estar em um pedaço do enredo de 2025; valorização da mulher, que é cada vez mais trabalhado no carnaval… retomamos essa ideia, também. Para a nossa comunidade, essa ideia ainda é válida, principalmente porque a gente volta às origens da escola e tenta agregar todos da nossa comunidade. Claro que é um enredo religioso, mas a proposta principal é a de agregar a comunidade em nosso entorno. Nosso ultimo desfile foi sobre o Jubileu de Ouro, tentamos contar nossa história em 65 minutos; agora, queremos unir nossa comunidade em prol dessa história”, afirmou.
Sobre a presença feminina, é necessário relembrar que, em 2020, quando a verde e rosa voltou ao Grupo Especial após quinze anos, o enredo era “Benguela… A Barroca clama a ti, Tereza!”, contando a história da líder que comandava o quilombo do Piolho, no atual Mato Grosso.
Ligação com minorias
Desde 2019, quando a escola cantou “Okê Arô” para exaltar Oxóssi (padroeiro da agremiação), o Barroca investe em temáticas ligadas a povos afrodescendentes e originários – com exceção do já citado desfile de 2024, quando a Faculdade do Samba cantou os próprios cinquenta anos. Na visão de Cebolinha, nada disso é por acaso: “Acho que é uma característica do Barroca como um todo. A escola tem uma linhagem mais voltada para temas ligados a assuntos de grupos minoritários. O Barroca gosta de falar disso e o componente gosta de enredos assim. É uma escola mais trabalhada nessa linha, e eu acho que essa energia… o Barroca é muito uma escola de energia! Quando você trabalha todas essas questões (ou seja, tudo que vem de energia, energia, energia e energia), a gente tem a cara do Barroca. O Barroca é aquela escola de vibração e energia”, refletiu.
Quando perguntado, Alex fez questão de ampliar a questão e trazê-la para a própria instituição: “Quando a gente pensa no Barroca Zona Sul em específico, a gente tem uma questão de minorias, mas também de identidade da própria escola. Com exceção desse ano, que a Estrela do Terceiro Milênio volta, que está lá no Grajaú, o Barroca vem sendo o representante dessa região. A Milênio subiu, desceu e a gente continua. Pensando na história, no tempo, na identidade, nós somos o grande representante da Zona Su. Outras escolas tem muita história, como a Lavapés, a Imperador… mas, nesse exato momento, o Barroca é a minoria da Zona Sull. Olhamos para a geografia do carnaval da cidade de São Paulo e ela está muito ligada aos outros locais. Nós não nos sentimos estranhos porque somos cofundadores da Liga-SP, mas, na ideia de estarmos na elite do carnaval e sendo representante da Zona Sul, gostamos de trazer questões identitárias como instrumento e argumento para a nossa comunidade: falar que nós representamos eles”, comentou.
Calendário definido
A metade do ano será especialíssima para a verde e rosa. No dia 07 de agosto, a agremiação comemorará os tão falados e exaltados cinquenta anos do Barroca Zona Sul. Até lá, entretanto, outro importante evento acontecerá, comenta Alex: “A ideia é, no final de julho, apresentar o nosso samba para a comunidade, que já está quase pronto. Estamos adiantados nisso. Como trabalhamos fechados, estamos bem adiantados. E, em agosto, comemorarmos os cinquenta anos do Barroca. Nossa dúvida, pelo tamanho da festa, é se será feito na quadra ou em outro local. Passando o aniversário, aí já começam os ensaios para valer – e, uma semana depois do samba apresentado, já começam os ensaios. No segundo semestre, teremos festas específicas – como a da bateria, por exemplo. E, nesse ano, como o carnaval será praticamente em março, teremos mais tempo… em 2024, ficou tudo muito espremido: após a virada do ano, tivemos meia dúzia de ensaios para colocar a festa na avenida”, aproveitando para dar a dimensão da festa do Jubileu de Ouro e destacando a organização e o planejamento da instituição.
Sem mudanças na escolha
Há alguns anos, o Barroca opta por não fazer eliminatórias de samba. A escolha, lamentada por muitos, vem garantindo pontuação máxima para a verde e rosa desde quando a agremiação voltou para os grupos organizados pela Liga-SP – em 2018. E, visando o carnaval de 2025, nada será alterado em um processo que já dá certo, de acordo com Alex: “Desde 2017 nós montamos um grupo, que não é pequeno, e optamos por fazer uma mescla entre grupos que estavam ganhando sambas e sendo finalistas e pegando pessoas do nosso time musical, de bateria e do carro de som, para, em conjunto, fazer o samba de forma customizada. Nunca contratamos um samba, temos essa mescla com o pessoal de pesquisa e de poetas. E isso vem dando certo: o samba sai com a cara da escola, com o melhor timbre para o cantor, com o melhor andamento para a bateria. A junção da letra e da parte musical com os profissionais aqui de dentro está gerando ótimas canções e evita problemas como versos fora da sinopse, estranhamento dos ritmistas e dos cantores. A mudança é a saída do Pixulé, o Cacá Camargo [diretor musical] estará participando juntamente com o Cris Santos e com o Dodô Ananias, nossos novos intérpretes, como compositores. Fazemos testes, mudamos palavras, pedimos para cantar… tem tudo dado certo. Não temos a ambição de mudar isso, e a crítica está recebendo nossos sambas muito bem. O Barroca não perde nota de samba-enredo excetuando as notas mínimas desde 2018. Dessa maneira, ganhamos muito tempo nos ensaios: o samba nasce com a nossa cara, o pessoal pega muito mais rápido… e aproveitamos para, também, afinar com outros quesitos – sobretudo Harmonia, onde não temos grandes desafios”, finalizou.