Desde 2017, a Nenê de Vila Matilde não pisa no Anhembi como parte do Grupo Especial de São Paulo. Oito anos se passaram, mas o sentimento de pertencer ao Especial nunca saiu da comunidade azul e branco, de quem vive a escola no dia a dia e de quem chora ao ouvir o hino da sua escola do coração. Por isso, o CARNAVALESCO ouviu quem realmente sente a dor e a saudade de estar aonde nunca mereceu ter saído. Muitas perguntas surgem, muitas delas sem respostas: será que chegou a hora? O que ainda está faltando? Quando sentiram que podia e não deu? E, acima de tudo, o que é preciso para que o acesso finalmente aconteça?

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aguia nene
Foto: Felipe Araújo/Divulgação Liga-SP

No olhar de quem cresceu nos becos da Zona Leste, a baiana Elma Leda da Silva, 66 anos de vida, 25 anos de agremiação, a Nenê não é só uma escola, é uma herança que se carrega no peito. E é com essa emoção que ela traduz a força da comunidade.

“A Nenê é mais do que uma escola. É família, é história, é raiz. Já sentimos que dava, já chegamos perto, já choramos pela chance que escapou. Mas nunca deixamos de lutar. O que falta? Falta união total, falta acreditar de verdade, todos juntos. Acreditar que a Nenê pode voltar para o grupo especial, e a gente vai lutar por isso. A gente vai voltar a sorrir, eu não tenho dúvidas disso”, disse Elma.

Quando o tempo passa e o sonho insiste em permanecer vivo, a esperança ganha nome e sobrenome na comunidade. Fábio Jonas, 48 anos, 20 anos de Nenê, “Malandro da Vila” traduz esse sentimento com a verdade de quem batalha ano após ano.

“Não chegou a hora, passou da hora. A gente está lutando dia após dia, carnaval após carnaval, para que esse acesso tão sonhado chegue. O que falta para acontecer? Na realidade, eu não sei te dizer, porque cada ano que passa a gente acaba superando, a gente não sabe o que o jurado quer. A cada erro, a cada ano, a gente acaba superando erros passados para, quando subir, nunca mais cair. 2025 e 2024 foram dois anos especiais para mim. Em 2024, fizemos um belo carnaval; em 2025, fizemos um desfile maravilhoso, tanto para o público quanto para o jurado, mas infelizmente não conseguimos o sonhado acesso. O que é preciso para conseguir o acesso? Calor humano, amor à escola e, principalmente, muita garra”.

Há quem olhe para números. Mas há quem olhe para a alma da escola e ali enxergue a resposta. Sthephanye Cristinne, 27 anos, 24 de carnaval, musa da Nenê, fala com a confiança de quem sente a Nenê vibrando mais forte a cada ensaio.

“Se chegou a hora? Eu tenho certeza que sim. Eu acho que, no ano passado (2024), tivemos pouca diferença na pontuação; está muito claro que faltaram poucos décimos para conseguirmos o acesso. A escola está muito bem preparada para esse momento, e eu tenho certeza de que vai dar tudo certo. Eu confio muito no projeto que me foi apresentado e que foi apresentado para a comunidade, que está acreditando nisso. O que está faltando nesse momento? É simples: nada! Porque a Nenê tem uma comunidade muito aguerrida. Porém, é uma escola tradicional, e, atualmente, infelizmente, ou felizmente, o carnaval é midiático; as pessoas acreditam muito naquilo que é visto. Mas eu acredito muito na tradição e na força da minha escola. Eu tenho a sensação de que a escola se sente no Especial, é como se o acesso fosse só um nome. Para a Nenê, isso é apenas um título. É uma escola que se sente muito forte e totalmente capacitada para chegar ao Grupo Especial. Para a gente, estar no acesso não diminui a vontade de estar no Especial. Eu acredito na garra da comunidade, que faz isso acontecer em cada ensaio. A gente mostra que merece, e isso vai acontecer de uma forma muito bonita”.

Quando a caminhada é longa, a dor da espera se mistura à certeza do futuro. Rodrigo Oliveira, 45 anos, 28 anos de Nenê, diretor geral de Harmonia da Nenê, nas palavras o peso dos anos e a determinação de quem acredita que o retorno está mais próximo do que nunca.

“Passou da hora de subirmos para o Especial. A gente não aguenta mais esses nove anos no Grupo de Acesso. Tivemos um período sabático, em que a Nenê teve que reaprender, reorganizar, reciclar e, enfim, fazer todo esse processo para poder tomar um caminho de retomada. Nos últimos anos, a escola vem fazendo um bom trabalho, e eu tenho certeza de que esse caminho está sendo muito bem construído. Tomara que agora, em 2026, seja a hora da gente voltar e ficar para valer no lugar de onde a gente nunca deveria ter saído. O ano do Faraó Bahia, em 2023, foi o ano em que senti que íamos conseguir o acesso. Foi um ano que tinha tudo para dar certo, mas infelizmente não aconteceu. Na sua pergunta ‘o que falta?’, acredito que agora eu posso te responder, porque o que falta, a gente está buscando e tentando eliminar. Agora é lutar bravamente e conquistar o que sempre sonhamos”.

Entre lágrimas, sorrisos e a certeza de que cada ensaio é uma luta pelo acesso, a Nenê de Vila Matilde segue caminhando com a força de quem nunca desistiu. A escola que aprendeu a se refazer, viu gerações crescerem sob o solo azul e branco, transformou dor em resistência e saudade em trabalho. A escola continua focada no propósito de voltar ao lugar de onde jamais deveria ter saído. O futuro não é uma promessa distante; ele está sendo construído agora, na fé de uma comunidade inteira.

Se a hora chegou? Talvez a resposta esteja justamente na união, na tradição e no amor que transbordam nos depoimentos de quem vive a Nenê todos os dias. Para a Vila Matilde, o acesso não é apenas uma colocação no papel: é um reencontro com sua própria grandeza. E quando a comunidade acredita, trabalha e sonha junto, o impossível deixa de existir. A Nenê segue forte e preparada.

Quando o grande dia chegar, será mais do que um retorno: será a afirmação de uma história que nunca deixou de brilhar.