O público que esteve presente na “Noite dos Enredos”, na última sexta-feira, na Cidade do Samba, aprova a safra de enredos repleta de temáticas ligadas à africanidade e pessoas negras, mais conhecidos enredos afros. Ligados a religiões de matriz africana como o “Egbé Iya Nassô”, da Unidos de Padre Miguel, o da Imperatriz Leopoldinense chamado “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”, “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundo”, da Viradouro, “Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita”, da Unidos da Tijuca e “Salgueiro de Corpo Fechado”, do Salgueiro, levam a histórias reais, lendas e cultos de fé do povo preto para a Sapucaí.
Assim como os enredos voltados para a celebração da vida, história e obra de personalidades e sociedades negras, como “Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”, da Portela, “Quem tem medo de Xica Manicongo”, do Paraíso do Tuiuti, “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”, da Beija-Flor e “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”, da Mangueira.
Para o nilopolitano e torcedor da Beija-Flor, Yuri Costa, de 28 anos, o número relevante de enredos afro não significa que teremos repetições na avenida, mas sim uma valorização múltipla e ampla das formas de ser negro.
“Com tantos enredo falando de africanidade, religiões afro-brasileira e pessoas negras, eu acho que a mensagem que vai pegar é a da diversidade de experiências negras que existem no nosso país, porque nem todos os enredos se resumem a apenas uma figuração da negritude. Nem todos os enredos se resumem a apenas uma forma de ser negro. Temos enredos que falam do candomblé, temos enredos que falam de personalidades negras, temos enredos que falam de experiências diversas do sul ao norte do país, então vai falar sobre a diversidade da experiência negra no Brasil”, disse o cineasta que tem como enredos favoritos as homenagens para Laíla, da sua escola, e para Milton Nascimento, de quem ele é fã, pela Portela.
O paulista Jaasiel Felipe, de 30 anos, que mora no Rio de Janeiro há mais de 10, mas esteve na Cidade do Samba pela primeira vez na “Noite dos Enredos”, os enredos afros ajudam a sociedade brasileira a se conhecer melhor.
“Isso é uma imersão para mim e, ao mesmo tempo, é uma oportunidade de descobrir essa pluralidade, essa quantidade de retóricos que a gente precisa descobrir como brasileiro, como sociedade de uma cultura que é tão fundamental para formação nacional. Tantos atores que temos para explorar sobre o que é ser brasileiro. E o carnaval, para mim, é uma grande oportunidade para fazer isso. O meu enredo favorito é o da Xica Manicongo, eu tenho uma espécie de conexão com essa história, além de que é uma grande oportunidade de reinterpretar isso, do como a gente vê isso atualmente no Brasil, na cidade brasileira. A Xica é um marco que deve ser reinventado e reconstruído em todo momento na sociedade brasileira, para a gente entender o que é ser LGBT, a resistência que a gente viu até hoje e a sobrevivência desse tipo de cultura aqui. Eu acho que é fundamental e estou esperançoso para esse tipo de enredo na Sapucaí”, contou o economista, que ainda não torce para nenhuma escola de samba, mas aprecia todas da mesma forma.
O professor de geografia, Max Jr., de 24 anos, torcedor da Imperatriz Leopoldinense, acredita que o debate sobre a generalização desses enredos pode resultar em um debate que valorize a existência dos mesmos.
“De tantos enredos afros neste ano que está batendo recorde dessa temática, acredito que isso possa gerar um debate do tipo ‘Nossa, tem muito enredo igual’, mas eu acho que tem que gerar esse debate para reforçar que nunca é demais falar sobre africanidade e seus derivados. Porque a escola de samba é macumba, é enredo afro”, declarou o professor que tem como enredo favorito o itan de Oxalá que será contado pela Verde e Branco de Ramos.
O jornalista e independente, Jader Moraes, de 36 anos, defende a pluralidade desses enredos e dessas histórias que serão contadas na avenida.
“É um momento fundamental que a gente está vivendo de nós vermos tantos enredos que tem temáticas afro-religiosas na centralidade e eu acho que esse é um momento muito importante, porque muitas vezes se critica a repetição dessas temáticas, mas isso revela somente o preconceito mesmo, por exemplo, o que vimos aqui hoje representado é que, embora esses enredos naveguem por um mesmo universo, são temáticas diferentes. São histórias diferentes, personagens diferentes que estão sendo contados. E isso é muito bonito e é muito importante. Além de que mandam um recado, não só por nós termos tantos enredos afros, mas por eles serem tão diversos entre si”, declarou Jader, que tem como enredo favorito a história da primeira travesti do Brasil, que será contada pelo Paraíso do Tuiuti.
Com afeto e familiaridade, o estagiário Roger Bulhões, de 22 anos, deixa o favoritismo da sua escola do coração, Grande Rio, de lado e tem como enredo favorito a homenagem ao mestre Laíla, pela Beija-Flor. Isso porque Roger namora a neta de Laíla e por ter conhecido o lendário diretor de carnaval por outras óticas, o enredo da Azul e Branca de Nilópolis o cativa, além de valorizar a safra de enredos de negritude.
Não tem para onde correr, já que a raiz do samba é essa, é negra. Esse ano está sendo só mais representativo com esse povo, que precisamos ter voz sempre, e nunca é demais. Sempre que possível precisamos botar a cara, aparecer sempre, e isso aí vai ser só mais uma oportunidade. Inclusive, o meu enredo favorito é ‘Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas’, não tem como, é afeto, porque eu o conheci como avó da minha namorada, como diretor de carnaval, como muitas coisas, e poder ter um pouco de noção do que vai ser na pista, do que eles estão treinando, é muito interessante para gente”, contou Roger.
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