salgueiro final2020 146Fred Camacho recebeu pela quarta vez a honraria de ter um samba de sua autoria cantado pela escola de coração na avenida. Campeão nos carnavais de 2016, 2017, 2019 e 2020, ele entrou definitivamente para a seleta galeria dos poetas do Salgueiro. De melodia refinada e letras inspiradas já compôs com gigantes do quilate de Arlindo Cruz, Almir Guineto, Dudu Nobre e Marcelinho Moreira, seu parceiro mais comum em canções.

São de autoria de Fred sucessos recentes como ‘Pela Casa Inteira’, interpretado por Zeca Pagodinho e ‘O que é o amor’, canção que compôs com Arlindo Cruz e Maurição, e que foi gravado por Maria Rita. Faltava para o compositor a glória em sua escola de coração, o Salgueiro. E ela chegou em 2016, ano do lendário Malandro Batuqueiro. Fred conta à reportagem do CARNAVALESCO o que representa vencer na sua agremiação pela quarta vez.

“Toda vitória é muito prazerosa. Em todos os sambas lutamos muito desde o momento que começamos a escrever. Temos todo o cuidado, a forma de abordagem. Depois disso começa uma outra etapa, são várias opiniões, até chegar a um denominador comum. Fazer um samba da maneira que você deseja é uma grande vitória. Aí vem aquela etapa de fazer as pessoas gostarem. A vitória final é uma soma de tudo isso. Sentimos isso no primeiro dia de ensaio”, disse.

Frequentando as reuniões dos artistas mais importantes da história recente do samba, Camacho desenvolveu um aguçado senso crítico. Culto, ele aponta o enredo salgueirense como um dos mais importantes do ano.

“O enredo do Salgueiro traz uma exaltação à negritude. Coloco essa temática ao lado dos negros que foram exaltados em nosso passado. O artista negro ser homenageado é uma coisa muito importante. Dessa vez com um palhaço, o primeiro negro, o que abriu caminho da arte para a negritude”, definiu.

Quatro vitórias no Salgueiro é um feito difícil de ser alcançado. Herdeiro de Almir Guineto, Camacho explica como foi construído o samba do Salgueiro que homenageia Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro da história do Brasil.

“Esse samba não nos reunimos muitas vezes. Conversamos bastante antes de dar o pontapé, para evitar ficar mexendo. Acabamos trazendo o Benjamin de Oliveira, com o circo como pano de fundo, com esses questionamentos raciais, sem ser triste, com emoção do artista. Trazemos toda essa questão de quem faz arte, o que essas pessoas almejam? É preciso ter a sabedoria do sorriso, mesmo em um momento não tão bom”.

Sambista apaixonado pela arte que é, Camacho levanta a bandeira do concurso de samba-enredo contra as encomendas. Embora reconheça a necessidade de usar tal subterfúgio em determinados casos, ele rechaça o fim das disputas em escolas com a envergadura de um Salgueiro.

“Quem sou eu para questionar isso, mas acredito que escolas com alas de compositores numerosas não é interessante não fazer a disputa. É um momento que a escola movimenta a comunidade, saber aquilo que é o melhor para a escola. A disputa cria uma movimentação, cada um tem o seu samba, isso faz uma grande diferença”.

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