O Paraíso do Tuiuti foi a primeira das doze escolas do Grupo Especial a fazer sua gravação oficial para o álbum dos sambas-enredo da Liesa para o Carnaval 2025. Os componentes da escola estiveram no Century Estúdio, na Zona Oeste do Rio, e o CARNAVALESCO acompanhou toda a movimentação durante o dia. Pixulé, intérprete oficial da escola comentou sobre a preparação que realizou para a gravação do álbum, destacando a importância do sono para a voz.
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“Eu sempre falo que a arma do cantor é o sono, se o cantor pode fazer exercício de voz, exercícios técnicos, influência muito, mas a arma do cantor é o sono. Se ele tirar uma tarde boa de sono, uma noite maravilhosa de sono, no dia seguinte ele vai estar inteirinho para gravar o samba e botar a voz espetacularmente”, disse o cantor.
Para o intérprete, o samba como um todo é especial, porém, se tivesse que definir algum trecho que chama a sua atenção, ele já destacou.
“Tem uma parte bacana que eu curto muito: ‘Eu travesti/Estou no cruzo da esquina/Pra enfrentar a chacina/Que assim se faça/Meu Tuiuti/Que o Brasil da terra plana,/Tenha consciência humana/Chica vive na fumaça’”.
Pixulé comentou também sobre a emoção empregada nos momentos de defender o samba da escola, seja na gravação ou no ao vivo, nos ensaios e no desfile em si.
“Eu sou um tipo de cantor que eu entro dentro do samba, eu abraço o samba, seja na gravação e no ensaio de rua, é a mesma coisa, a emoção toma conta e a gente acaba perdendo a linha”.
Diretores de carnaval, Rodrigo Soares e André Gonçalves também estavam presentes na gravação. Rodrigo comentou revelou o que esperar da gravação da escola para 2025 e qual a parte do samba do próximo carnaval mais toca o coração dele:
“O samba já foi construído com uma pegada, uma levada de um samba bem atual, falando de um tema bem atual, uma defesa bem correta daquilo que ele propõe. A gravação foi maravilhosamente boa. Eu acho que até pela qualidade da obra, a forma que a gente já vem ensaiando, preparando esse samba há algumas semanas, eu acho que está ficando uma proposta muito boa, e esperar que ele seja realmente aquilo que ele está apresentando, ou seja, ele tem essa cara valente, aguerrido. E que realmente ele transmita aquilo que a escola pretende fazer na avenida. O início do samba é bem forte, a cabeça do samba: ‘Só não venha me julgar pela boca que eu beijo, pela cor da minha blusa e a fé que eu professar’. Já é o indício da tradução daquilo que o samba te propõe, ou seja, de fazer uma reflexão de tudo o que acontece, principalmente, nessa vertente do público, da história da Xica, essa cabeça é bem forte”.
Também foi falado por ele sobre as pessoas envolvidas na gravação, a mobilização da bateria, e como isto tudo é um reflexo do que a escola já vem realizando ao longo dos últimos meses.
“É o resultado do que a gente está fazendo às segundas-feiras. Mestre Marcão tem a competência de lidar com a rapaziada bem completa. Ele trouxe o time dele, o nosso coro vem trabalhando desde que o samba foi lançado, ou seja, é aquilo que a gente faz, quem dera trazer 300 ritmistas”.
Por fim, Rodrigo comentou o que representa para ele e André estar presentes na gravação de um samba tão forte como o que será levado pela escola em 2025.
“Representa mais um passo de um trabalho que a gente pretende fazer com maestria. Primeiro para mostrar para todos o significado e o apelo do samba e mostrar realmente a cara que o Tuiuti pretende dar com essa mensagem. O que a gente pretende é basicamente isso. Não é só mais um trabalho, é mais um trabalho com samba forte, samba de mensagem positiva, mas um samba auto-explicativo”.
Hudson Luiz, cantor auxiliar do carro de som da escola, contou mais sobre a forma que o arranjo foi feito, pensando nas necessidades da escola, e falando sobre como a gravação foi realizadas e as ideias musicais que o Tuiuti utilizou na sua faixa.
“Todo o arranjo foi pensado de acordo com a necessidade do nosso enredo e do nosso samba. Entendendo o que era necessário, que o samba pedia, seja o arranjo musical das cordas e seja o arranjo da bateria. Cada detalhe que foi colocado no samba foi sim pensado dentro do enredo, dentro do samba. Eu acho que toda a gravação para a gente é muito importante, porque é um novo momento que se inicia, um novo ciclo que se inicia. Foi muito interessante, mais o ano consecutivo a gente consegue colocar toda a ala musical para poder fazer a gravação. Como foi no ano passado, a ideia que a Liga traz para a gente colocar no nosso samba, com os arranjos que foram propostos pelo nosso diretor musical, por todo o nosso grupo musical. Eu acho que isso é muito interessante e traz uma certa confiança e uma certa abertura para que as nossas alas musicais de todas as escolas de samba possam colocar o melhor dos seus trabalhos”.
Mestre Marcão comentou sobre o andamento da bateria para a gravação, o que ficou mais confortável de ser realizado e trabalhado.
“Acho que aqui foi 142 BPM (batidas por minuto), 143 BPM, que fica mais confortável, o samba fica mais confortável, fica mais com a cara de samba-enredo e fica mais fácil para se comunicar com o povo. A gente, com o diretor da ala musical, estamos ensaiando por três ou quatro meses”.
O mestre ainda explicou que não realizou nenhum desenho especial para a gravação, apenas nuances que já estão sendo executadas na quadra.
“A gente só fez umas nuances que já estamos fazendo na quadra e algumas bossas a gente não colocou, porque a gente ainda está definindo o que fazer, e não podemos estragar a surpresa da avenida”.
Claudio Russo, compositor do samba, comentou como a obra do Tuiuti impactou na vida dele com o conhecimento de caminhos até então desconhecidos para ele, e na importância de falar também sobre a violência sofrida pela comunidade LGBTQIAPN+ no país.
Fotos: festa de lançamento do samba-enredo do Paraíso do Tuiuti para o Carnaval 2025
“Eu aprendi muito com esse samba, eu consegui junto com o Gusttavo Clarão, receber o apoio do Jack Vasconcelos (carnavalesco), e ele me levou para um caminho que eu não conhecia, porque tem muita coisa nesse samba que a gente teve que aprender do zero. A questão das travestis, da quimbanda, do catimbó, e foi através desta união com Jack que eu conheci Fábio, que está me iniciando nos caminhos do catimbó, e foi aí que eu aprendi muito da história de Xica Manicongo. Só aprendendo essa história que a gente começa a entender como é importante a luta de Xica Manicongo para a questão dos direitos no Brasil. Somos o país que mais mata travestis no mundo, o que mais desrespeita a comunidade LGBTQIAPN+, e esse samba, esse enredo, vem para ratificar a luta contra esse desrespeito que o Brasil em geral comete”.
Claudio se emocionou ao falar de como foi todo o processo de construção da letra em parceria com Gusttavo Clarão, relatando as experiência de como essa samba é único desde a concepção.
“O processo de produção deste samba foi muito louco. Este ano estou fazendo 35 anos de samba e foi diferente de tudo. Eu até pedi ao meu parceiro Gusttavo, que mora nos Estados Unidos, e a gente é muito sintonizado um com o outro, para fazer samba. Um dia indo a Dona Praia, que é uma entidade, falou: ‘você vai ficar três dias sem dormir, você vai acordar sem saber de nada, e vai acordar com muita coisa desse samba’. E isso aconteceu, fiquei três dias, quando dava uma hora da manhã eu acordava do nada, com algumas coisas na cabeça e o tempo todo eu me questionando: ‘será que é isso?’. E quando passaram esses três dias eu tinha quase a ideia da letra muito construída na minha cabeça e aí eu comecei a bater bola com o Gusttavo, ele propondo algumas coisas, e eu falando: ‘isso daqui está em cima do que eu aprendi’. E ele entendendo tudo e trazendo a parte melódica, que ele é muito bom isso, propondo algumas coisas de letra. E se eu não tivesse essa experiência esse samba não seria assim”.
Para o compositor, o verso que mais chama a sua atenção ´o do velho discurso crstão, pela força com que isso teve na época de Xica Manicongo e tem nos dias de hoje, explicando um pouco mais sobre como é um resumo das causas que o enredo defende.
“O primeiro dia que eu conheci o catimbó, eu ganhei uma imagem. E o samba fala: ‘faz tempo que eu digo não, ao velho discurso cristão’, porque foi a Igreja Católica que combateu, autorizou o combate e quis queimar Xica Manicongo na Inquisição, na Bahia, ela foi perseguida por causa disso. ‘Faz tempo que eu digo não ao velho discurso cristão/sou manicongo/há duas cabeças em um coração’, e quem cultua Exu sabe o que eu estou falando, ‘são tantas e uma só/eu sou a transição/carrego dois mundos no ombro’. Muitas pessoas falaram: ‘não bota essa frase’. Quando a gente mostrou por Jack ele falou: ‘é essa a frase’. Ela resume o que é a luta desse samba”.
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Por fim, Claudio Russo conta o que espera do rendimento do samba da escola nos próximos meses.
“Eu tenho muita esperança que esse samba renda muito. A gente sabe que para o Tuiuti isso sempre é uma luta. O Tuiuti já marcou o Especial com grandes sambas. O samba de 2018 despontou como o grande samba do ano em janeiro e foi aquele desfilaço. Recentemente, o samba de 2023 foi a mesma coisa e ganhou uma dezena de prêmios. Espero que esse samba, com o apoio do carro de som e do Pixulé, com o apoio do mestre Marcão, que está numa fase extraordinária, chegue em dezembro estourado. A escola tem uma força muito grande nos ensaios de segunda-feira e eu tenho certeza que quando estiver perto do Natal, vai estar ‘bagunçando São Cristóvão’”.
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