O sábado estava marcado no calendário de todos os fãs do samba paulistano. Na data citada, aconteceu a 9ª edição da Festa do Ziriguidum, dos maiores eventos do carnaval de São Paulo. Sempre organizada pelo Império de Casa Verde, a ocasião reúne outras coirmãs e comunidades para confraternizar e cantar juntos sambas históricos. Em 2024, além do Tigre Guerreiro, estiveram presentes a Mocidade Alegre, o Vai-Vai e a Acadêmicos do Tucuruvi. A grande idealizadora da Festa do Ziriguidum é ninguém mais, ninguém menos que Theba Pitylla. Atualmente, rainha da Barcelona do Samba (bateria do Império de Casa Verde), ela relembrou o motivo pelo qual o evento começou a ser realizado.
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“A Festa do Ziriguidum foi uma necessidade! A primeira foi realizada em outubro de 2014, porque eu ia participar do concurso para eleger a rainha do carnaval de São Paulo – e a festa foi feita para arrecadar fundos para eu participar. Em 2015, fui eleita rainha do carnaval. A festa foi muito boa e nós colocamos no calendário da escola. Hoje, eu conto com a ajuda da diretoria e do presidente, se tornou algo da própria escola. Já são dez anos!”, animou-se.
Desafios
Organizar um grande evento é sempre algo repleto de barreiras – que, com muito ardor, as escolas de samba conseguem superar. Rogério Figueira, o Tiguês, diretor de carnaval do Império, relatou alguns dos desafios pelos quais o Tigre Guerreiro honrou o apelido e suplantou: “Quando acaba uma festa, a gente já começa a planejar a outra. A gente faz aquele balanço do que funcionou, o que não funcionou. A gente vê quais são as atrações, priorizamos as que nunca vieram – como é o caso da Acadêmicos do Tucuruvi, eles nunca tinham vindo numa festa do Ziriguidum. A gente se prontificou a trazer eles desde lá de trás. A gente vai procurando melhorar sempre para o povo: vamos colocar uma promoção de cerveja, uma promoção de whisky, alguma coisa para trazer também o componente para não ficar naquele esquema repetitivo. Festa de escola de samba tem hora que acaba sendo chata se você não coloca nem um atrativo para o folião. A gente também considera que é uma época ainda longe do carnaval, então a gente procura fazer algumas coisas que funcionem melhor”, destrinchou.
Theba vai ainda mais além: “A gente começa a organizar a festa muito cedo. Dá um trabalho, às vezes dá vontade de não fazer por conta de algumas provações… mas, quando chega o dia da festa, a gente vê a galera das escolas de São Paulo e Rio de Janeiro… aí não tem como não fazer. Dá um fôlego, um ânimo para fazer a festa – que é pensada de sambistas para sambistas. Tenho certeza que essa festa vai ser para sempre!”, comentou.
Orgulho
Sobre o sentimento imperiano em relação à Festa do Ziriguidum, Tiguês relembrou de uma edição em especial: “Há anos que a gente organiza essa festa, e ela é uma festa pra sambista de verdade, É a festa das passistas, é a festa que todo mundo quer participar. Para o imperiano é muito prazeroso, até porque o evento ficou muito marcado pela inauguração dessa quadra nova: foi em uma Festa do Zirigdum em 2021. Para a gente foi incrível poder inaugurar a quadra em uma oportunidade tão feliz como a gente inaugurou. Agora, é realizar essa de hoje e segunda-feira começar a planejar o ano que vem”, prometeu, citando o atual terreiro da azul e branca, na Rua Brazelisa Alves de Carvalho – a cerca de apenas cento e cinquenta metros da Dispersão do Anhembi.
Ao falar sobre o evento, Theba exalta o reconhecimento que a ocasião possui: “É um sonho ver a festa tão consolidada! Tudo que se trata do Império é um orgulho para mim. Sou aquela imperiana roxa, para mim tudo está bom. Ver o Império de Casa Verde tão forte e ouvir de sambistas de todas as escolas falando da Ziriguidum é muito bom, é muita felicidade”, comemorou.
Surpresas
Como não poderia deixar de ser, o evento trouxe algumas atrações inesperadas. A primeira delas foi o anúncio da candidata imperiana ao concurso de corte infantil promovido pela Associação dos Sambistas do Amanhã de São Paulo (ASASP), Kenya Morena.
Outro grande momento foi a homenagem a Robson Campos, o mestre Zoinho, que completou vinte anos à frente dos ritmistas da Barcelona do Samba em 2024. Foram exibidas mensagens de diversos personagens importantes para a vida do baluarte – como, por exemplo, Tiguês e dona Sueli, mãe do comandante da batucada imperiana.
Shows (literalmente)
Tradicionalmente, a primeira escola a se apresentar na Festa do Ziriguidum é o próprio Império. Além de um novo alusivo composto após o carnaval de 2024, grandes clássicos da agremiação foram cantados – como “Brasil: Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (2005) e “Sambando, cantando e seguindo a canção. Vem, vamos embora para a festa da MPB”. Os dois últimos sambas levados para a avenida (“Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”, de 2023; e “Fafá – A Cabocla Mística em Rituais da Floresta”, de 2024) foram especialmente entoados pela comunidade.
Especializado em show, o Grupo Miscigenação, da Mocidade Alegre, também esteve presente – e fez uma série de performances. A Morada do Samba, por sinal, não se limitou a cantar grandes sambas da própria história: foram executados alguns sambas de 2024 de coirmãs cariocas – casos de “A Negra Voz do Amanhã”, da Mangueira; “Pede Caju que Dou… Pé de Caju que Dá!”, da Mocidade Independente; e “Hutukara”, do Salgueiro.
Por outros caminhos, o Vai-Vai apostou em sambas próprios. Além do tradicionalíssimo esquenta da agremiação, com históricos alusivos e trechos de “Amado Jorge, a História de uma Raça Brasileira” (1988) e “A Volta ao Mundo em 80 Minutos”, foram executados os sambas-enredo do histórico tetracampeonato da Saracura, entre 1998 e 2001 e os sucessos “No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu… Menininha, mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil” (2017), “A Música Venceu” (2011) e “Simplesmente Elis. A Fábula de uma Voz na Transversal do Tempo” (2015).
Encerrando a noite, a Acadêmicos do Tucuruvi fez mais passagens de sambas recentes que as coirmãs. Vencedor do Estrela do Carnaval, organizado e concedido pelo CARNAVALESCO, em 2024, “Ifá” teve destaque. Canção de 2025, “Assojaba – A Busca pelo Manto” também foi executado diversas vezes. Outros clássicos também tiveram espaço, como “São Luís do Maranhão. Um Universo de Encantos e Magias” (2010), “Oxente, o que seria da gente sem essa gente? – São Paulo, Capital do Nordeste!” (2011) e “O Esplendor da África no Reinado da Folia” (2012).
Rodrigo Delduque, vice-presidente do Zaca, acredita que o já histórico desfile de 2024 é o reflexo de um projeto amplo que acontece na Serra da Cantareira: “Com certeza Ifá nos deixou um ensinamento, nos deixou uma estrutura. Nós conseguimos corresponder visualmente dentro dos critérios de carnaval – e, hoje, estamos colhendo frutos do último desfile da Tucuruvi. As escolas convidando, a gente vem com muita alegria, com o maior prazer para fazer sempre o nosso melhor pela nossa agremiação”, pontuou.
Gratidão e incentivo
Personagens importantes das escolas convidadas aproveitaram para exaltar a iniciativa imperiana. Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre, foi uma delas: “É muito bacana, eu fico muito agradecida em ser convidada! O Império é uma grande agremiação. É sempre uma honra estar participando aqui junto com a galera do Tigre Guerreiro. E, olha, não é a primeira vez que a Mocidade veio na Ziriguidum. E, quando a gente não veio tocar, a gente veio ser homenageado. Uma vez fui eu, outra vez foi o mestre Sombra. É só agradecimentos mesmo, por todo o carinho e recepção do Tigre Guerreiro”, comentou.
Delduque aproveitou para destacar o quanto incentiva as festas que unem escolas de samba: “Eu sou um cara apaixonado pelo carnaval paulistano, eu sou um cara apaixonado pela cultura. Eu acho que a nossa cultura, quanto mais unida, quanto mais junto estivermos, mais fortalece o carnaval e o samba. Seja lá qual for a quadra, qual for a coirmã, se depender da Tucuruvi, nós vamos estar sempre juntos, sempre atendendo e sempre pedindo para que as escolas também compareçam à nossa quadra”, revelou.
Luiz Robles, diretor-geral do Vai-Vai, traçou um paralelo com a 1ª edição da Festa É Tradição E O Samba Continua, organizado pela agremiação no dia 22 de setembro: “O carnaval mudou e cada vez mais a gente sente a necessidade de estar incorporando escolas de samba nos ensaios, fazendo festas. Inclusive a nossa festa a gente já pretende deixar no calendário porque é o que traz o público hoje. O público de samba gosta de samba, e nada melhor para chamar atenção que as escolas. Isso é necessário. O Ziriguidum, a festa deles hoje, é necessário ter outras escolas porque o público vem. Para mim, vejo que é positivo”, balanceou.
Ao citar a multiplicação das festas de escolas de samba paulistanas, Solange passou uma informação em primeira mão para o leitor do CARNAVALESCO: “Eu acho incrível essas festas, a gente tem mais que aprimorar, fazer esse pessoal vir curtir muito mais a nossa cultura, fazer com que eles participem, vejam e visitem as quadras das agremiações para que fique cada vez melhor. Eu acho super importante essa integração que todas as escolas fazem aqui. São Paulo é muito lindo nesse ponto, eu acho muito bacana esses convidas. Aliás, a Mocidade Alegre vai estar dia 16 de novembro no Salgueiro e dia 14 de dezembro na Mangueira”, revelou.
Robles aproveitou para destacar que a reciprocidade é sempre bem-vinda pela Saracura: “Para nós, sempre é uma honra estar com as escolas de samba. A gente gosta de se apresentar, de estar presente nas festas. E é como a gente fala: para eles, ter o Vai-Vai, eu acredito que seja positivo. A gente acaba sendo contemplado e somos chamados bastante para as festas. E a gente vai, viu?”, finalizou.