A Acadêmicos do Grande Rio realizou sua primeira eliminatória de sambas-enredo para o Carnaval 2026 na última terça-feira. Onze sambas se apresentaram na quadra da tricolor, retratando o enredo “A Nação do Mangue”, sobre o movimento Manguebeat, de autoria do carnavalesco Antônio Gonzaga. Apesar de algumas boas apresentações, não houve um destaque absoluto na primeira noite de disputas. Abaixo, o CARNAVALESCO apresenta a análise sobre o desempenho de cada samba que se apresentou na noite.

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Foto: Rafael Arantes/Divulgação Grande Rio

Parceria de Dinho Artigrili: O samba de Dinho Artigrili, Alex Primo, Ricardo Construção, Viny Melodia e Hugo da Grande Rio teve Danilo Cezar no microfone principal. A apresentação contou com uma torcida numerosa e animada, porém ainda sem o samba “na ponta da língua”. Tecnicamente, foi uma apresentação correta, pautada no refrão principal e numa primeira parte de melodia envolvente, culminando num forte refrão central: “ó chama os batuqueiros, eu já vou me chegando, maracatu atômico já tô incorporando, traz no peito a coragem dos nossos ancestrais, é lança certeira que não volta atrás”.

Parceria de Derê: A obra de Derê, Licinho Jr., Moratelli, Julio Alves e Fábio Gomes teve Bruno Ribas e Leozinho Nunes à frente dos microfones. Um samba que começa em tom bastante aguerrido com os versos “é tempo de revolução, o mangue vai se libertar, convoco a minha nação pra emergir deste chão, recuperar o meu lugar”. Toda a primeira parte é construída em cima da revolução social feita pelo movimento manguebeat. O refrão central é mais poético e de bonita melodia: “gonguê, ganzá, girar, girou, o maioral incorporou, foi na roda de ciranda, entre o galo e a lua cheia, na encruza sem demanda, pés descalços na areia”. A apresentação foi muito boa, apesar de uma leve queda na última passada, e conseguiu transmitir a beleza da obra.

Parceria de Neguinha da Grande Rio: A parceria de Neguinha da Grande Rio, Rubens Gordinho, André Ricardo e Celsinho Mody teve Nêgo e Celsinho defendendo o samba na quadra. A obra apresentou uma melodia com arroubos de ousadia e variações fora do usual, que deram um charme à apresentação. Porém, o samba acabou tendo um rendimento irregular, com uma queda em alguns trechos, como no refrão “é Daruê, Daruê Malungo, nação Zumbi, casa real, é o rei Chico no cortejo, o caranguejo genial”. O refrão de cabeça, com uma melodia mais convencional, passou de forma regular.

Parceria de Myngal: Obra de Myngal, Denilson Sodré, João Diniz, Miguel Dibo e Hélio Porto, que trouxe Charles Silva e Rafael Tinguinha comandando a apresentação. O refrão de cabeça “meu canto é maracatu por igualdade, nas garras do aratu, identidade, num Grande Rio de veias abertas, toque de alfaia, mente liberta” se mostrou bastante funcional. O refrão central, de estrutura melódica mais ousada, foi um ponto alto da obra, com os versos “daruê Malungo ê, viva o templo de batalha, daruê Malungo ê, descendentes de Dandara, é guardião regue o pé do mundo livre, lamento negro é essência que vive”. A apresentação foi redonda e manteve o pique em todas as suas passadas.

Parceria de Ailson Picanço: O samba de Ailson Picanço, Marquinho Paloma, Davison Wendel, Xande Pieroni e Marcelo Moraes teve Dodô Ananias como voz principal. O samba, em muitos momentos, soa como um clamor, e a apresentação alcançou isso com êxito, como no belo refrão central: “manamauê, maracatu, saluba ê Nanã, Yabá! A vida parecida com as águas, não é doce como o rio, nem salgada feito o mar”. A segunda parte tem melodia dolente até os versos finais, que preparam para a cabeça que não tem refrão. O samba vinha tendo uma ótima apresentação, porém a estrutura sem este refrão de cabeça acabou causando uma falta de entendimento de quando o samba se encerrava, e a parceria seguiu cantando, tendo que ser interrompida pelo diretor de carnaval Thiago Monteiro.

Parceria de Marcelinho Santos: A composição de Marcelinho Santos, Henrique Bilico, Xande de Pilares, Ricco Ayrão e Sergio Daniel teve no palco Tem-Tem Jr., Ito Melodia, Vitor Cunha e Thiago Britto. Um samba que apostou em refrãos de canto fácil e melodia que “jogava a obra para cima”. Principalmente, no refrão de cabeça, isso se retratou na apresentação, que foi empolgada, com os versos “maré que vai, maré que vem, caranguejo em movimento não aceita ser refém, maré que vai, maré que vem, o tambor da Grande Rio não se rende pra ninguém”. Na letra, alguns versos soam de construção mais simples, porém a estrutura mais usual contribuiu para uma animada apresentação.

Parceria de Samir Trindade: A parceria de Samir Trindade, Mateus Pranto, Laura Romero, Binho Teixeira e Leandro Custódio teve Wantuir comandando o samba. A obra mostrou alguns trechos com canto atropelado, como nos versos “em Caxias, batida ecoou é Baixada e Recife a lutar, dois mundos o mesmo clamor, manguebeat, um país, meu lugar”. O refrão de cabeça teve um desempenho correto, porém o destaque da apresentação foi o falso refrão central: “Dos maracatus e de Palmares, mestre Salu e Daruê, eu sou a voz da liberdade, o caos, o fuzuê, cirandeiro ê, cirandeiro á, lamento negro, Malungo a cantar, cirandeiro á okê, caboclo okê, do som emergir, da lama vencer”. No geral, foi uma apresentação irregular, com alguns bons momentos.

Parceria de Igor Leall: O samba de Igor Leall, Arlindinho Cruz, Paulo César Feital, Romeu D’Malandro e Gustavo Clarão mostrou irregularidades. O refrão de cabeça “Saluba Nanã, Nanã Buruquê, agô para entrar pra pisar no seu Ilê, respeite quem é de fato direito, nação Zumbi Grande Rio no peito” se destacou na apresentação e teve um bom rendimento. O restante da obra não teve uma sustentação linear em todas as passadas, com alguns versos soando truncados e não contribuindo para um desempenho elevado.

Parceria de Mariano Araújo: A obra de Mariano Araújo, Moisés Santiago, Dionísio, Aldir Senna e Wolkester Rolleigh teve Clóvis Pê e Tuninho Junior como vozes principais. O samba obteve um desempenho satisfatório com três passadas firmes e um refrão principal que mostrou força na quadra, com os versos “Grande Rio vem na força da Baixada, no baque virado dos tambores da invocada, o povo forte ergue a comunidade, e sai da lama pra viver dignidade”. Uma apresentação consistente da parceria.

Parceria de João Carlos: O samba de João Carlos, Adilson Quaresma, Max Pierre, Altamar Franco e Jaiminho Balta Point realizou uma apresentação agradável, apesar do refrão de cabeça “bota pra moer, Grande Rio me chamou, bota pra moer, que a festa começou, lá vem a minha tricolor, olha a onda” ter uma letra mais simplória. O restante do samba alterna bons momentos com uma segunda parte menos inspirada no que diz respeito à condução do enredo, com pouca concatenação entre os versos.

Parceria de Eduardo Bretas: A parceria de Eduardo Bretas, Marcão Lodi, Diego Soares, Paulinho Letra e T’Nem teve Guto defendendo o samba. E o intérprete elevou o nível da obra com um excelente desempenho, explorando boas soluções melódicas como no início da segunda parte: “A lança de okê, o dom de subverter, o som que faz vencer a lama, Saluba Nanã!”. Apesar do refrão de cabeça e do trecho que emula um refrão central com mudança nos versos finais não serem de muito impacto, a obra se manteve com um rendimento bom em toda a sua passagem.