A Grande Rio fez o seu penúltimo ensaio de rua na noite de sábado, em Caxias. O treino aconteceu na tradicional Avenida Brigadeiro Lima e Silva e contou com a presença da comissão de frente pela primeira vez, que já apresentou a coreografia oficial. Com andamento suave e samba na ponta da língua dos componentes, a comunidade mostrou que a letra não é um problema e cada sílaba da segunda parte, sai com bastante tranquilidade. Do que foi mostrado, a Tricolor está pronta para garantir boas notas nos quesitos harmonia e evolução no desfile que terá como enredo “Nosso destino é ser onça”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

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Fotos: Allan Duffes/CARNAVALESCO

“A minha avaliação deste ensaio é muito boa, porque estamos melhorando a cada semana e a escola está ficando cada vez mais madura. Esse foi o penúltimo ensaio de ensaio de rua, sem contar com o da Sapucaí que, para a gente já é uma prévia do desfile. Então, estou muito satisfeito e feliz com a comunidade. Todo mundo cantando, o pessoal comprou o barulho… É um trabalho que começou meses atrás, agora é sintonia fina, reta final. A escola está quase pronta”, avaliou o diretor de carnaval Thiago Monteiro.

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Não trovejou como estava previsto, tampouco choveu como esperado, mas escureceu porque já eram 21h50 quando começou o ensaio. A avenida decorada para o natal, apresentava simpáticos sinos e flocos de neve, em pleno calor de Caxias. E na pista, não teve gelo. Tudo acabou em fogaréu e depois se transformou em mar de suor, quando a aldeia Grande Rio fez um ensaio para provar que letra difícil não impede a comunidade de cantar. Uma alcateia bem organizada, com adereços de mão e impondo o samba com componentes comprometidos – ferozes – praticamente travestidos de pantera.

Comissão de frente

A começar pela comissão de frente. Primeira participação do quesito no ensaio de rua para o Carnaval 2024 e chegaram com o pé na porta, com direito a coreografia oficial. A coreógrafa Beth Bejani, que assina o trabalho ao lado de Hélio Bejani, explicou que a comissão esteve presente para compor o andamento da escola e deixar o treino completo. Ela ainda acrescentou que será o maior trabalho da carreira deles, mas fez mistério sobre o uso de elementos cenográficos: “O que vamos levar para o desfile é segredo, mas a comissão tem uma transformação. Ela tem dois atos no chão e mais outro ato, que será uma surpresa. Estamos muito felizes porque, sem dúvida, é o maior projeto da nossa carreira. Está muito trabalhoso, mas estamos nos dedicando para que tudo dê certo”.

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Na apresentação, ficou visível que os bailarinos deixaram espaços para interação com algum elemento, mas a coreógrafa não revelou para manter a promessa de surpresa. Mas, aqui está o que foi apresentado: Eles chegam na cabine no meio da segunda parte do samba e iniciam a apresentação com um componente representando uma onça, mas ele salta também com um passo de dança indígena. Depois, vira onça de novo. Os outros bailarinos fazem apoio a esse solo. Inclusive, a dança indígena é muito presente na apresentação. O ato 2, dá a entender a transformação da onça, mas isso só no desfile mesmo para saber detalhes, já que Beth Bejani fez mistério na entrevista. Então, o grupo fecha a onça, fazem uma coreografia e abrem de novo, quando acontece uma pausa, provavelmente para interação com elemento cenográfico. O ato 3, é justamente essa interação, quando a dança passa a ser dependente dessa surpresa que a Beth falou. Mas, a
dança foi muito bem sincronizada, marcada com gritos e um ótimo uso de espaço. Muito promissor.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Saindo a comissão de frente, chegou o primeiro casal, Daniel Werneck e Taciana Couto. Eles ganharam a nota 30 no último desfile e perderam um décimo, descartado, na última cabine. Muito aplaudidos pelo público, a leveza do mestre-sala chamou atenção. Os giros suaves da porta-bandeira casam perfeitamente com o bailado de Daniel. Na apresentação os dois investiram em finalizar giros com conexão de mãos, o que deu mostra de puro sincronismo do casal.

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No trecho entre “Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera” até “travestida de pantera”, eles bailam pelo espaço, dando ainda mais movimento à dança. Usam toda a pista e se encontram no meio para o segundo trecho “Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera”, quando apresentam passos de dança indígena. No final, ao início da virada para o refrão principal, Taciana para e Daniel dá um quarto de volta em torno dela, que começa a girar quando ele passa por sua frente. Uma beleza de apresentação.

Evolução

A partir daí um show de andamento em um ensaio que teve 62 minutos de duração. Só na cadência suave do samba, a escola foi no excelente embalo rumo ao final da pista. Adereços de mão deram volume, movimento às alas e preencheu a falta de fantasias. Deu bom efeito visual na pulsação da escola. Não foi identificado buracos, alas emboladas ou qualquer confusão de posicionamento. Foi possível perceber uma escola mais técnica que no ano passado, quando a Grande Ria pediu componentes mais soltos e brincantes, porém a mudança de comportamento não deixou a escola burocrática.

“A proposta é diferente entre você falar de onça e de Zeca Pagodinho. O espírito do enredo passado era algo solto, com irreverência. Esse ano, estamos cantando uma lenda Tupinambá. É onça, é uma fera. Não adianta você falar de pautas importantes com o comportamento do enredo passado, que é diferente da postura do Exu, diferente do Tatalondirá. Tem que ser diferente. E isso nos deixa feliz, porque entendemos que o público e a comunidade perceberam o personagem que eles vão defender”, explicou Thiago Monteiro, diretor de carnaval.

Harmonia

Sobre personagem que os componentes vão defender, um deles é o samba. E o canto está alinhado e uniforme. O destaque fica para as quatro alas seguintes ao carro de som, sem contar com os pandeiristas. Esse setor merece uma estrelinha da diretoria. Quanto ao desempenho, o carro de som jogando o canto para comunidade mostra a segurança da escola em relação ao trabalho realizado no samba, que toda a letra é cantada sem enrolar, apesar da dificuldade da obra.

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Samba-enredo

Trava-língua é só para os haters, porque em Caxias é tranquilo e favorável. O samba é entoado com força, graças ao trabalho didático que foi feito para que versos como “Yawalapiti, Pankararu, Apinajé, o ritual Araweté, a flecha de Kamaiurá” pudessem ser cantados sem nenhum problema. A levada cadenciada da obra também favorece ao canto e, com o carro de som da escola, a missão parece fácil: “O samba pode ser difícil para os outros, mas para nós é tranquilo. Escolhemos essesamba porque confiamos muito no material que temos. Sabíamos que seria tranquilo e não tem nenhuma parte que é incantável. Isso nos dá tranquilidade para saber quem está conosco, tanto o samba quanto quem está cantando ele”, disse Thiago Monteiro.

O cantor Evandro Malandro destacou o trabalho da escola de cantar cada letra e aplicar as pronúncias corretas para a comunidade: “Quando escolhemos o samba, com uma semana já estávamos estudando parte por parte da letra, martelando o segundo trecho, porque não é algo corriqueiro. Trabalhamos bastante e o resultado veio. O início da segunda parte ‘Yawalapiti…’ procuro cantar o mais explicado possível e começamos a trabalhar cada pronúncia com a comunidade. Se a gente não tivesse esse trabalho não íamos chegar ao resultado”, disse o cantor Evandro Malandro.

Bateria

O responsável por dar o ritmo ao samba, mestre Fafá, está trabalhando para recuperar as quatro notas 10, já que no último carnaval, levou um 9,9 descartado. Ele contou que, no curso para julgadores de bateria, ficou clara como será avaliação e ele já tem a receita para conquistar o décimo que faltou para o 40.

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“Este jurado que nos tirou 1 décimo, foi o mesmo que nos deu 10 nos anos anteriores. Temos que reconhecer quando erramos. Aconteceu uma falha e vamos trabalhar para reconquistar o 10 do jurado. Desde que cheguei, este é o ano que sinto a bateria mais feliz. A melodia do samba ajuda muito na forma que trabalhamos e estamos pulsando”, contou o mestre.

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Sobre o ensaio, Fafá contou que está nos ajustes finais. A apresentação foi daquelas que ele acostumou o público: envolvente. Vai levando no ritmo, balançando, quando a plateia percebe, já está entregue à bateria da Grande Rio.

“Está com 95% para o desfile. Estamos ensaiando demais e em crescente grande. Nosso último ensaio no setor 11 me deixou muito feliz, porque conseguimos o nosso objetivo. Conseguimos filmar e observar de vários ângulos para saber se algo estava saindo errado. Esses últimos ensaios de rua são mistos de sensações. Esse ano, a gente está querendo muito e espero que seja mais um ano de êxito para a bateria”, contou.

Ensaio Técnico

Se o Fafá curtiu o ensaio no setor 11, no dia 3 de fevereiro, ele terá uma experiência com toda a avenida. Isso porque, quis a natureza que as datas dos ensaios fossem mudadas e a Grande Rio fosse deslocada para participar dos testes de som e luz. Sobre ensaiar na Sapucaí com o som oficial do desfile, o diretor de carnaval contou que muda a estratégia. Segundo Thiago Monteiro, muda a forma de ensaiar, o posicionamento da bateria e das alas, mas que a escola vai encarar como um teste, porque é preciso fazer bonito no dia do desfile.

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Mestre Fáfá revelou que será uma alegria a bateria poder ser ouvida pela avenida toda: “Muda bastante coisa ensaiar com o som oficial, porque vamos conseguir fazer tudo o que queremos. Vamos conseguir nos ouvir bem. Para a gente é muito bom, porque o carro que usamos nos ensaios é difícil da escola inteira ouvir. Agora, seremos ouvidos na avenida inteira”.

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E depois do ensaio técnico, será a vez da Grande Rio colocar as fantasias e as alegorias para o jogo, no desfile. A Tricolor de Caxias será a quarta escola a desfilar no domingo de carnaval, 11 de fevereiro.