Tomou posse neste domingo a nova presidente da Estação Primeira de Mangueira, Guanayra Firmino, para a gestão do próximo triênio. Como a chapa foi a única apresentada para o pleito, a reunião que inicialmente seria para a realização da eleição, foi utilizada para dar posse a Guanayra, seu vice Moacyr Barreto e o restante da diretoria administrativa. Na mesa, estavam presentes antigos presidentes da escola como Chiquinho da Mangueira, Elmo José dos Santos, Aramis Santos, Elias Riche, o antecessor de Guanayra, e, Eli Gonçalves Dias, a Chininha, primeira mulher a tomar posse como presidente da escola.
Guanayra é nascida no Morro da Mangueira, descendente da lendária Tia Fé (Benedita de Oliveira), famosa benzedeira, que criou em 1910 o Rancho “Pérolas do Egito”, e que era avó do seu tio, Seu “Sinhozinho”, Darque Dias Moreira, que foi presidente da Mangueira 1974-1976. Além de ser filha de Roberto Firmino, ex-presidente da Verde e Rosa. Guanayra fez questão de valorizar seus antepassados.
“Para mim ser presidente representa eu honrando os meus que vieram antes. A tia Fé, seu Júlio, meu bisavô, meu tio Sinhozinho, meu pai Roberto. E, eu me sinto representando a comunidade onde eu nasci. Meus amigos, as pessoas que tem história dentro da escola. É uma honra imensa, então eu não tenho nem muito a falar”.
Guanayra também fez questão de valorizar Chininha como a primeira presidente mulher da escola, ainda que Guanayra tenha sido a primeira eleita para o cargo, já que Chininha assumiu como vice após a saída do presidente Percival Pires.
“A Chininha também foi eleita como vice-presidente, e todo vice também pode assumir a presidência, não é verdade? Toda mulher, em tudo que ela faz, tem mais responsabilidade, ela é mais cobrada que o homem. Mas para mim, é tranquilo, eu estou acostumada a desafios, então eu não me sinto com uma responsabilidade maior do que eu já tinha. Eu estou na gestão desde 2012, já estou aqui, mas, efetivamente, depois da gestão do meu pai que se encerrou em 1995, eu voltei a atuar na gestão do Chiquinho. E, de lá para cá, eu tenho feito o que eu vou fazer agora, só que eu não assinava. Eu ajudei Chiquinho a tomar as maiores decisões que ele tomou, o Elias, eu fiz esse papel mais no último ano do mandato, mas, assim, para mim não é um desafio maior do que eu já venho enfrentando”, revelou a presidente eleita.
Agora como vice-presidente, Moacyr Barreto, se disse feliz por fazer parte da diretoria e fez questão de valorizar a presença de pessoas nascidas e criadas da comunidade trabalhando na nova gestão.
”Essa nova diretoria é uma diretoria, que acho tirando eu, em que todo mundo é cria da Mangueira, todo mundo é da ‘raízes mangueirenses’, todo mundo é nascido e criado no morro, então acho que tem uma coisa muito bacana, pessoas que estão assumindo os cargos, retornando à escola. Muito bom termos uma presidente mulher, sinal dos tempos, não faz diferença ser mulher, ser homem, o importante é a gente tocar o trabalho, tenho certeza que a Guanayra vai vir com muita disposição para que a gente possa tocar esse trabalho”.
Enredo escolhido para o Carnaval 2023
Durante o discurso de posse a presidente revelou que o enredo da Mangueira para o carnaval de 2023 já foi escolhido e será revelado no próximo dia 6 de junho. Guanayra Firmino revelou que o tema é autoral, desenvolvido pela dupla de carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão.
“O enredo é autoral, conversei com os carnavalescos, me apresentaram algumas propostas e nós todos juntos, diretor de carnaval, vice-presidente, carnavalescos, e aí chegamos à conclusão de que um deles era o que nós queríamos, um enredo autoral da dupla”, explicou a dirigente.
Ainda sobre os carnavalescos que vão desenvolver o carnaval da Mangueira, ambos vindos da Série Ouro, Annik da Porto da Pedra, e Guilherme do Império da Tijuca, a presidente revelou que a escolha veio a partir de um olhar da própria dirigente para os trabalhos desenvolvidos pela dupla em 2022 em suas respectivas escolas. Guanayra Firmino falou sobre o desafio de escolher substitutos para o artista Leandro Vieira que vai desenvolver o próximo carnaval pela Imperatriz Leopoldinense.
“Eu participei de todos esses momentos na gestão do Chiquinho. E participei dessa ousadia também (trazer o Leandro do Grupo de Acesso para o carnaval 2016), e são as duas coisas, um pouco de ousadia e um pouco de tentar puxar o que deu certo, que nós já fizemos. Mas, principalmente, por eu acreditar em dar oportunidades para jovens talentosos. Eu me apaixonei pelo trabalho da Annik e do Gui. Assisti tudo da Série Ouro, e antes do Leandro pedir para sair, eu já tinha me encantado pelo trabalho dos dois. Depois de o Leandro sair, foi só apurar aquilo, convidar e lançar”, explicou a dirigente.
Troca na bateria e escolhas de Douglas e Claudia Motta
Neste período em que foi confirmada a chapa única, a presidente, antes mesmo da posse oficial, andou realizando algumas mudanças ou alguns acréscimos. Uma troca que surpreendeu muita gente foi a saída de mestre Wesley que estava à frente da “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” nos últimos três anos, e a chegada da dupla Rodrigo Explosão que volta ao comando depois de três anos, e Taranta Neto que fará sua estreia no Grupo Especial.
“Eu sugeri ao Chiquinho o nome do Wesley, mas eu acho que a bateria como qualquer quesito que precisa de 50, 40 pontos, ela vive de resultados. E eu achei que como eu estava mudando a gestão, apesar de ter sido eu três anos atrás que havia feito o convite a ele, eu achei que era o momento de dar uma repaginada sempre em busca da nota máxima. Mas, o Wesley é maravilhoso, senão eu não teria o indicado tempos atrás para o presidente que aceitou. É só a questão mesmo de tentar buscar a nota máxima no próximo carnaval, apesar de eu não ter achado justa a nota de bateria da Mangueira. Mas como carnaval é resultado, eu fiquei infeliz com a nota, mas vou buscar melhorá-la assim mesmo”, entende Guanayra Firmino.
Outras mudanças na escola, foram a introdução de Douglas Diniz para formar dupla com Marquinhos Art’Samba como vozes principais do carro de som da Mangueira, e a chegada da coreógrafa Claudia Mota que desenvolveu o trabalho na comissão de frente do Paraíso do Tuiuti em 2022, e substituirá o casal segredo Priscilla Mota e Rodrigo Negri que foram contratados pela Viradouro. Guanayra Firmino também contou um pouco sobre as escolhas realizadas para estes segmentos.
“O Douglas é um menino nascido na comunidade e que a gente já olha para ele há seis anos. Apenas chegou a hora na minha gestão, porque é uma gestão de continuidade. Eu estou aqui na gestão há nove anos. E a gente já tinha esse projeto. Talvez a pandemia tenha atrapalhado e por isso não tenha sido feito na minha gestão com o Elias, mas era o momento, já estava sendo planejado. O Douglas é um garoto de futuro e nós aqui da escola sonhamos que ele possa um dia assumir sozinho o microfone da escola. Muito talentoso. A Cláudia, eu sou ‘rata’ de olhar desfile, então eu fico olhando mesmo. E já vi alguns trabalhos da Cláudia, e esse trabalho dela no Tuiuti, eu achei maravilhoso, conversei com alguns coreógrafos, mas era a Cláudia, tinha que ser, foi por isso”.
Equação de dívidas e outros projetos
Bastante entrosada com a comunidade, a presidente que tem ajudado nas gestões da escola desde 2012, também tem estado à frente do desenvolvimento de projetos sociais, inclusive durante a pandemia da Covid-19.
“Projeto Social a gente já faz todo dia. Eu sou nascida na comunidade, eu fui vice-presidente da associação de moradores da Mangueira aos 14 anos de idade. Projeto Social aqui eu faço desde essa época. Agora mesmo na pandemia, a gente distribuiu mais de 15 mil cestas básicas, a escola com parceiros, mas quem coordenava isso era eu. Muitos legumes, álcool em gel, confeccionamos muitas máscaras, tudo isso idealizado por mim. O projeto social já faz parte da minha vida, junto com a Evelyn, pessoal da bateria, a gente vai fortalecer isso”.
E sobre as dívidas que têm atrapalhado a escola a fazer carnavais mais grandiosos, a presidente tem uma proposta para conseguir conciliar a redução dos dividendos com o desenvolvimento de carnavais competitivos.
“Buscar parcerias para as dívidas. Carnaval eu tenho uma ideia de que falta pouco do que as escolas já recebem para gente botar um carnaval top na rua. O que entra dá para fazer um carnaval, a gente vai buscar para botar a cereja do bolo. Por estar na gestão há nove anos, eu sei que o dinheiro que entra das subvenções, ajuda a gente a colocar o carnaval quase todo na rua. O problema da Mangueira é que ela tem dívidas, dívidas trabalhistas, coisas que o Chiquinho parcelou lá atrás e a gente vem pagando. E eu vou buscar parcerias para isso, eu já tenho algumas parcerias acordadas, que a gente vai usar mais para equalizar essas dívidas “, explica a presidente.
A Estação Primeira de Mangueira pretende apresentar sua nova diretoria e suas contratações para os setores e segmentos da escola em um evento no dia 9 de julho com horário e mais detalhes a serem divulgados mais para frente.