A Viradouro, atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro, está preparando um enredo impressionante para o Carnaval de 2025, intitulado “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. Em uma entrevista exclusiva concedida ao site CARNAVALESCO, o diretor executivo da escola, Marcelinho Calil, compartilhou sobre o momento que a agremiação vive desde 2019 e como ele encara a responsabilidade de abrir os desfiles com a Imperatriz, Mangueira e UPM. Marcelinho também deixou sua opinião sobre esse momento que as escolas estão abordando a temática afro-religiosa.
Em análise sobre o momento atual da Viradouro, que desde 2019 tem se mantido no top 3 do Carnaval do Rio de Janeiro, Marcelinho descreveu dois cenários distintos que se complementam para explicar esse sucesso contínuo. O primeiro cenário é de uma força institucional, onde a escola foi entregue em condições precárias e foi reconstruída com uma liderança forte, profissionais competentes e o apoio fundamental da comunidade. O segundo cenário é competitivo, envolvendo quesitos fortes e uma estrutura sólida para os profissionais trabalharem. O diretor executivo enfatizou que a escola busca realizar suas atividades com amor e competência, minimizando erros e riscos. No entanto, Marcelinho reconheceu que a fórmula exata para o sucesso da Viradouro é difícil de definir, pois é resultado de um esforço constante no dia a dia e da capacidade de entender e se adaptar à competição.
“Passa por dois cenários distintos que se completam: Força institucional, uma escola que foi entregue falida. Falida, que eu estou falando, não é dinheiro, é moralmente falida e que foi reconstruída, acredito eu com uma liderança boa, profissionais que abraçam e que são competentes, uma comunidade que é o pilar de tudo, que estava adormecida e abraçou todas as ideias e acreditou na gente. De outro ponto competitivo, claro, quesitos fortes, sem dúvida alguma, já que está falando de colocação, estrutura para o profissional trabalhar, uma escola que faz tudo com muito amor, com muita competência, pelo menos busca isso, e procura minimizar erros, minimizar riscos. O que você quer saber é a fórmula da Coca -Cola e todo mundo quer saber, mas de fato são pilares assim, mas é impossível eu conseguir dizer para você o que sustenta a escola no topo a algum tempo. Eu acho que é o dia a dia, procurar, como eu disse, o empenho e obviamente com alguma capacidade, pelo menos o mínimo possível, conseguir entender essa competição, como ela funciona, mas sempre deixando claro que a escola não se sustenta para a competição, a escola de fato se fortalece como escola, como instituição e aí sim ela tem todas as ferramentas para competir bem”, compartilhou Marcelinho.
Fazendo jus ao nome escola de samba, Tarcísio Zanon encontra receita para os enredos da Viradouro
A escola de Niterói vai abrir o Carnaval 2025 com a vice-campeã, a Imperatriz, além da Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro, e da Estação Primeira de Mangueira, a segunda escola mais vencedora da história do carnaval e Marcelinho descreveu esse momento como fortíssimo. Ele enfatizou que não vê a Imperatriz como uma rival direta, mas sim como uma das 11 escolas buscando seu lugar ao sol. No entanto, Marcelinho expressou sua confiança na capacidade da Viradouro de fazer um grande Carnaval, independentemente da posição em que desfile. Ele mencionou sua experiência passada, sendo campeão e vice tanto como última de segunda quanto como segunda de domingo, evidenciando a resiliência e força da escola.
Marcelinho deixou claro que sua principal preocupação é proporcionar à Viradouro as condições para fazer um grande desfile, confiando no processo de julgamento e no padrão de excelência que a escola tem buscado nos últimos anos. Sua declaração de “zero preocupação” não é arrogância, mas sim um reflexo da confiança que tem no trabalho realizado pela escola e na capacidade de se destacar independentemente da posição no desfile.
“Um dia fortíssimo! Não vejo a Imperatriz como a rival, acho que são 11 escolas tirando a Viradouro, obviamente, com ela 12, buscando seu lugar ao sol. Carnaval já teve ciclos na sua história, escolas que vêm bem, escolas que depois não têm bons resultados, depois passam a ter de novo. Reconheço a Imperatriz como uma grande escola, sem dúvida alguma, que vai fazer um grande Carnaval. Acho que tem um dia fortíssimo mesmo, a Mangueira, a Imperatriz e a UPM, mas assim, eu vou falar o que eu falei lá no sorteio. E para não achar que é história, eu vou falar exatamente o que eu falei para o CARNAVALESCO quando fiquei em sexto do último dia. Eu não me preocupo mesmo, sendo bem honesto. Nos últimos anos a escola tem um padrão, ela vem buscando excelência e o meu papel é repetir ou melhorar. Eu sei que a escola tem capacidade, tem condição de fazer um grande Carnaval e de buscar as notas máximas, independentemente do lugar que ela venha. Já fui campeão e vice como última de segunda e campeão e vice como segunda de domingo. Então eu acho que a Viradouro tem a sua maneira, a sua força e eu tenho certeza que ela vai ser muito bem julgada se for muito bem e penalizada se não for bem como qualquer outra escola, independentemente da colocação. Zero preocupação. Quando eu digo zero preocupação não é nenhum tipo de arrogância não. É porque de fato não é algo que habita o meu coração nem a minha cabeça. A minha preocupação é proporcionar a Viradouro a condição de fazer um grande desfile, que aí sim eu entrego para quem estiver julgando, como tem sido muito bem feito nos últimos anos,” contou Marcelinho.
Em relação a sua percepção sobre o momento atual das escolas de samba abordando temas afro-religiosos, reconhecendo a importância de celebrar e honrar essa cultura ancestral. Marcelinho destacou que, embora muitos enredos tenham uma conotação afro-indígena, como o da Viradouro, é fundamental entender e respeitar as diferenças entre as diversas manifestações culturais. Ele expressou sua felicidade ao ver o reconhecimento e valorização da cultura afro-brasileira no carnaval e ressaltou a importância de estudar e compreender as nuances de cada enredo, evitando a simplificação ou generalização de culturas tão ricas e diversas.
“Eu acho que de uma maneira geral isso faz sentido, mas vejo um pouquinho de diferença. O enredo da Viradouro, por exemplo, ele é afro -indígena, mas eu diria que ele tem uma conotação muito mais indígena, que é a história da divindade do encantado Malunguinho na jurema sagrada, e assim um paralelo africano muito interessante com o João Batista, o último malunga, mas esse sentimento que você me traduziu eu fico muito feliz, porque eu acho que a escola de samba é isso mesmo, mas acho também que é hora de todos nós, como sambistas, reforçarmos e estudarmos as diferenças que cada um tem. Não cometemos o mesmo erro que quem nos agride faz, que é colocar tudo num pacote unificado. São enredos que homenageiam e que veneram uma cultura, uma ancestralidade, que de fato é a nossa existência, é a escola de samba em si, mas com todas as suas diferenças. Então eu vou buscar estudar melhor, já fiz o meu dever de casa, mas vou buscar estudar um pouquinho melhor cada um desses enredos para ver, sim, esse mesmo sentimento ancestral, mas de fato saber diferenciar cada um deles. Eu acho que nesse momento, é muito importante a gente ter esse dilema. A gente vive num continente e ninguém confunde Buenos Aires com Rio de Janeiro, mas na África tudo é a mesma coisa. É hora da gente botar cada coisa no seu lugar, mas concordo com você. Estou com muito orgulho de falar da origem do samba e da origem de quem construiu tudo o que a gente está pisando hoje,” disse Marcelinho.