Em entrevista concedida ao CARNAVALESCO, Gabriel Haddad e Leonardo Bora contaram como chegaram no enredo da Grande Rio para o Carnaval 2025: “Pororocas Parawaras: As águas dos meus encantos nas contas dos Curimbós”, o que não pode faltar no samba, o que mais impactou a dupla nas pesquisas. Eles disseram também como se sentem completando cinco anos na escola e como essa linda trajetória impactou e impacta na vida deles e na agremiação. Leonardo revelou que o enredo surgiu de uma vontade antiga do Gabriel de fazer esse tema e logo após o Carnaval de 2024, eles resolveram desdobrar essa história.
Ouça os sambas concorrentes da Grande Rio para o Carnaval 2025
“O Gabriel já tinha esse desejo guardado há um tempo, já era fascinado pela história, pelas narrativas encantadas envolvendo as princesas turcas. Então assim que aceitamos permanecer na escola, depois das negociações que sempre acontecem depois do carnaval, descobrimos que o enredo passaria pelo Pará, e a gente resolveu pesquisar e tentar desdobrar essa história, porque é uma história muito fascinante. E aí o segredo é a pesquisa, e essa pesquisa ela se dá em múltiplas dimensões. Engana -se muito quem acha que pesquisa é livro, os livros são importantes, porém mais importante no caso deste enredo são as narrativas de matriz oral, são as narrativas que a gente escuta, que a gente vivencia, são as rodas de conversas, são as giras, são as visitas, são as navegações. Esse processo de troca, de convivência, de audição, de diálogo foi fundamental para a construção desse enredo, e aí a história foi se desdobrando de maneira muito natural e muito mágica, com muitos sinais encantados, a gente vai dando significado às coisas e vai se deixando encantar, porque nós somos artistas, a gente quer se encantar no processo, e tem sido nesse sentido muito mágico”.
Gabriel compartilhou como esse processo de construção do enredo desde março representou um marco para a equipe de criação, que conseguiu participar na definição e direcionamento da narrativa, já que é um enredo que ainda não foi apresentado e está sendo construído do zero.
“Acho que é o primeiro ano que a gente consegue envolver tanto a equipe de criação no processo também de construção do enredo, porque era um enredo que a gente não tinha pronto, a gente está construindo um enredo. Começamos a construir a partir de março, então foi a primeira vez que a equipe de criação conseguiu estar junto da gente pensando também o direcionamento do enredo”.
Em relação ao que mais impactou durante a pesquisa do enredo, Leonardo revelou que essa simbologia da pororoca foi tão marcante que se transformou no título de maneira muito natural, eles nomearam um grupo de estudo de pororoca e quando se deram conta já era o título, não tinha como ser outro.
“Vários aspectos mexem e impactam, a vivência desse complexo religioso tão plural é impactante por si só, as conexões profundas entre o tambor de mina e o carimbó, foi um achado de algo que nos deslumbrou muito. Essa simbologia da pororoca foi bastante marcante tanto que se transformou no título de maneira natural, a gente nomeou um grupo de estudo de pororoca e quando viu era o título, não tinha como ser outro. E esse fascínio do diálogo que foi algo que a gente tentou apresentar durante a explanação. Quando Dona Onete canta para nós nos bastidores de um show essa música que nunca foi gravada em álbum, que não tem esse registro oficial, mas ela existe, a gente percebeu como o enredo estava ali. E a gente vai tecendo, cabe a nós narradores, ir tecendo essas conexões, e costurando esses retalhos até formar um grande manto”, revelou Leonardo.
Para os carnavalescos, o que não pode faltar no samba-enredo é a força e magia, o desejo é de transmitir não apenas a beleza estética, mas também a profundidade cultural e espiritual do enredo. Gabriel destacou que o samba precisa ser forte e poderoso assim como as princesas demonstraram para eles quando visitaram os terreiros.
“Como a gente escreve na sinopse, o samba precisa ser muito valente, essa força. Quando a gente visitou os terreiros, e as princesas vieram e dançaram, bailaram, cantaram as doutrinas, conversaram muito com a gente, a gente falou ‘elas são muito poderosas’. É uma coisa tão forte que a gente fala todo dia. O samba tem que ter essa força que as princesas têm, e por isso elas são tão, tão queridas no estado do Pará”.
Leonardo complementou que espera um samba que encontre todas essas características da história e que seja uma dor de cabeça gostosa escolher o melhor: “É força, beleza, potência poética, a gente espera muita magia, então assim como elas são múltiplas, adquirem diferentes feições, diferentes personalidades, a gente espera um samba que concentre todas as características, por isso que a gente propõe uma sinopse tão preocupada com cada palavra, com tantos possíveis caminhos, porque a gente está falando de um rio que tem muitas ramificações, que tem muitos afluentes, sempre perguntam qual é o samba ideal e a gente espera que venha uma diversidade de sambas, todos eles belos e poderosos, e dentre os melhores, ter que escolher o melhor, que seja um desafio bom, uma dor de cabeça gostosa para nós enquanto artistas, que estamos vendo um trabalho sendo traduzido por outros artistas. Um samba que emocione, um samba que consiga captar essa energia tão poderosa desse complexo que é fascinante”.
No Carnaval de 2025, Leonardo e Gabriel celebram cinco anos de dedicação à Grande Rio. Leonardo refletiu sobre este marco e as mudanças que esse período trouxe à sua vida: “Tudo muda o tempo todo. Acho que a gente está muito envolvido já com essa simbologia e com essas filosofias do Rio. O Rio é essa mudança, essa água que corre. Nunca é igual, nunca vai ser igual. A gente não gosta de água parada, a gente gosta de água em movimento. E a gente vai mudando, vai amadurecendo, vai analisando. Cada desfile a gente estuda muito. Cada processo criativo, a gente vivencia todas as etapas de cada processo criativo. Então a gente vai mudando, amadurecendo enquanto artistas, porém algumas coisas permanecem. Permanece o compromisso com esse trabalho muito cuidadoso, muito detalhista. A audição, o diálogo, a proposição de enredos que dialoguem profundamente com a comunidade da escola, que se conectem com a memória da escola, com o imaginário que a escola gosta de cantar e esse cuidado com todas as etapas da produção espetacular. É uma produção macro, muito grande, às vezes é muito difícil ter esse controle e cuidar dessas pequenas coisas, mas disso a gente não abre mão”.
Gabriel desabafou sobre essa trajetória de enredos marcantes e como eles se destacam e emocionam ao público trazendo pessoas que vivenciam o enredo fora do mundo carnavalesco para essa construção: “Essa fórmula que a gente vem fazendo desde o Tata Londirá, quando a gente traz para a construção do enredo pessoas que vivenciaram e vivenciam esse enredo em seu desenvolvimento fora do mundo carnavalesco, é como tem guiado também esse nosso trabalho hoje. Foi assim no Exu, no Zeca, na Onça e está sendo agora. A gente fez mais de 27 entrevistas, 27 conversas, onde a gente reúne material tanto visual, material para o desenvolvimento da nossa pesquisa, que vai ser entregue depois só lá em janeiro para os jurados, mas isso tudo vem guiando a nossa construção e vai fazendo com que a cada conversa a gente descubra uma coisa nova sobre o enredo. É assim que a gente vem trabalhando. Acho que é uma forma que a gente encontrou de fazer com que o enredo emocione, de você trazer pessoas que vivem aquela parte daquele enredo na vida fora do carnaval e a gente traz emoção disso para dentro do enredo”.