Depois do desfile da Vila Isabel em que teve o grande Martinho da Vila como homenageado, o mestre de bateria Macaco Branco está radiante. A Swingueira de Noel foi nota 50! Sendo assim, gabaritou o quesito “Bateria” pela escola azul e branco. Apesar de ter gabaritado em alguns quesitos, a agremiação acabou ficando em quarto lugar no carnaval de 2022, que consagrou a Grande Rio como campeã pela primeira vez.
Comandando a Swingueira de Noel desde o carnaval de 2019, Macaco Branco já foi ritmista da escola, diretor de bateria e diretor musical. Criado dentro da agremiação, ele é Vila Isabel de corpo, alma e coração. O mestre recebeu a equipe do site CARNAVALESCO e falou sobre o sentimento de ter gabaritado o quesito e todas as questões que envolvem a bateria.
Qual o sentimento que ficou após o desfile em homenagem a Martinho?
Macaco Branco: “Foi o sentimento de dever cumprido. A gente poder exaltar nosso grande maestro, nosso grande mestre, nosso grande griô Martinho. Nós cantamos e tocamos pra caramba, a escola estava linda e o Edson Pereira fez um grande trabalho. Nosso pessoal do barracão, nosso diretor geral e nosso diretor de carnaval, Moisés, que foi incansável, nosso diretor de barracão, Luís. A presidência, diretoria da escola está de parabéns pelo trabalho que foi feito em homenagem ao Martinho que não podia ter sido tão bom. Sei que tem detalhes para ser ajustados, como nas disputas. Graças a Deus a bateria gabaritou, mas não é por isso que vamos relaxar, continuaremos fazendo nosso trabalho focado naquilo que fazemos todo ano e acreditamos para que a bateria da Vila Isabel continue em alto nível”.
Ser nota máxima é um alívio ou aumenta a responsabilidade para o próximo carnaval?
Macaco Branco: “É um alívio e também aumenta a responsabilidade, são as duas coisas. É alívio para você relaxar e falar: ‘graças a Deus deu tudo certo’. Você fica com o coração aliviado, mas no próximo ano o compromisso aumenta. Porque é preciso manter o nível lá em cima, acaba sendo um trabalho que não pode relaxar. É hora de falar: “agora zerou e vamos começar tudo de novo”.
Vocês entraram na avenida após o desfile avassalador da Grande Rio. O que pensou na hora e o que falou para os ritmistas?
Macaco Branco: “A verdade é que a gente sempre motiva a galera, pois trabalho muito nessa parte emocional da galera. De tirar o melhor deles, de fazer com que eles entendam que são peças fundamentais e muito importantes nesse propósito. A Grande Rio fez um ótimo desfile, acreditava que o carnaval estava entre ela e a Vila Isabel, mas a escola foi campeã merecidamente. Eu achava que a Vila podia ter pego o segundo lugar, ter ficado mais próximo ali, mas só de voltar nas campeãs é algo bem legal. A gente coroa e brinda um trabalho que estava sendo feito há muito tempo, no último carnaval ficamos em uma colocação em que não voltamos no sábado e agora ficamos em quarto lugar. Ajustando essas arestas que temos que ajustar, se Deus quiser no próximo carnaval temos grandes chances de levar o caneco”.
O seu trabalho e do Tinga são muito bem avaliados. Qual é o segredo da dupla e do sucesso no trabalho?
Macaco Branco: “O segredo é a amizade, o carinho, o coração. Nós dois somos Vila Isabel, independente do profissionalismo nós temos um carinho especial, pois amamos nossa escola. A gente senta, conversa, vê o que podemos melhorar e a gente nunca relaxa. Procuramos sempre tirar o melhor, espremer até sair o máximo de coisa boa dos nossos ritmistas e componentes do carro de som. O que faz a grande diferença é o nosso empenho de sempre buscar o melhor e nosso amor”.
Existe muita discussão sobre andamento mais acelerado ou não. Qual é o seu pensamento sobre essa questão?
Macaco Branco: “Cada samba tem seu andamento que vai fazer com que ele funcione bem na avenida. Tem ano que você vai escolher o samba e, ele tem o andamento mais tranquilo, mais para trás. Tem samba que você vai precisar colocar um pouquinho mais para frente, outros que são bem tranquilos. Esse ano demos a largada no andamento de 146 bpm e ao decorrer da avenida conseguimos deixar entre 145 e 144 bpm, pois era o que o samba pedia. Mas para o samba fluir bem, temos que tocar no andamento que o corresponde, pois não adianta a gente querer engessar e dizer do andamento da escola, ele é do próprio samba. É o samba que diz o andamento necessário, o que dá certo. Se você se prender a um número, vai acabar sacrificando o samba, o componente e não é isso. Se foi escolhido samba x, esse tem que entrar para o estúdio, como eu e Tinga sempre faz, entra lá, toca ele e vai experimentando. Inclusive a gente experimenta até no ensaio de rua, por exemplo: ‘achei que ficou legal. não, achei que dava para ser menos’. Com isso nós vamos chegando a um parâmetro sobre o andamento. A galera usa muito o metrônomo e vai se guiando por ali, mas não é assim. Ele é um instrumento de parâmetro, não um que dita a “verdade”, pois se pega ele e fala que o andamento tem que ser x, beleza. Porém isso é o que? Quem tem que dizer isso é o samba, e não nós ou o metrônomo. Claro que tem uma margem de um pouquinho para mais e outro para menos, se o andamento foge da característica da escola era porque o samba não pertencia ali”.
Você concorda que o nível geral das baterias está alto? E por qual motivo isso vem acontecendo?
Macaco Branco: “Concordo. Temos grandes mestres, grandes trabalhos no carnaval do Rio de Janeiro. Nós temos grandes referências, pois hoje na era da informatização todo mundo tem acesso a tudo. Pois todos conseguem acessar o YouTube para pesquisar o que é possível fazer para melhorar. E isso é parâmetro, quem não acompanhar acaba ficando para trás, simples assim. Hoje em dia não tem uma bateria que seja ruim, todas são excelentes. Cada uma com a sua característica, seu propósito. Costumo dizer que são incomparáveis, cada uma tem sua verdade. Não existe uma melhor que a outra, cada uma tem o seu diferencial e com isso todas são de alto nível. Fica até difícil para o jurado tirar um décimo, às vezes tem aquele deslize, algo que acontece na avenida, aí acaba sendo descontado. Fora isso só tem bateria excelente”.
E a parceria com a Sabrina, considera que ela é rainha que consegue unir divulgação da escola e relação com a comunidade?
Macaco Branco: “A Sabrina é muito povão, ela está na frente da bateria como rainha faz 11 anos. Ela é amiga nossa pessoal, minha e da minha esposa Dandara (musa da escola). A minha esposa dá aula para ela já tem uns 10 anos, nós temos uma amizade com ela de um frequentar a casa do outro. Ela faz questão de beijar, abraçar e falar com todo mundo. Mesmo não sendo carioca, ela é muito Vila Isabel, ela é sambista sim. O coração é tudo e também amar tudo aquilo que faz e a Sabrina é assim. A melhor rainha que a gente já teve”.