Fluência entre os naipes. Equilíbrio musical. Equalização de timbres. Todas essas expressões são as mais buscadas quando se faz ritmo com uma bateria. Em comum entre elas? Todas são alcançáveis de modo praticamente natural diante de uma organização, que leva em conta a pulsação de cada ritmista na hora de demarcar o lugar de desfile.
É possível dizer que todas as peças leves (tamborim, chocalho, agogô e cuíca) possuem mapas de desfiles. Ou seja, os ritmistas da cabeça da bateria já sabem, antes de irem para a pista, o lugar que ocuparão ao longo de todo o cortejo. Mas a realidade da cozinha da bateria costuma ser diferente da parte da frente do ritmo. A galera do peso normalmente não possui mapa de desfiles, fazendo com que a organização da parte de trás do ritmo (onde tocam repiques, caixas e surdos) fique deficiente em relação aos demais. Embora existam trabalhos que fogem à regra, com mapas para a cozinha, normalmente a organização acaba seguindo o feeling de diretores.
A situação se agrava ainda mais quando se tratam de baterias do grupo de Acesso. Pois, como existe uma cultura de enxertos nesses ritmos, por vezes os conhecidos acabam naturalmente se aproximando e tocando juntos. Esse fato pode sim prejudicar a fluência entre os naipes, bem como o equilíbrio musical. Normalmente indivíduos de nível técnico semelhantes são os que mais se aproximam nessas situações. Isso não privilegiará a organização alternada, ou seja, não será possível mesclar posições de ritmistas que se garantem tocando seguidos de ritmistas que ainda estão em processo de evolução e desenvolvimento.
O ideal, dentro da cultura do “cata cata”, é sempre organizar os ritmistas intercalando bons valores técnicos a quem ainda deixa a desejar, garantindo assim tanto a fluência, quanto o equilíbrio. Encher um lado do ritmo de indivíduos talentosos pode acabar impactando negativamente na outra extremidade, causando inconsistência em toda a bateria. Às vezes essas questões parecem meros detalhes, mas a consequência certamente será percebida pela pista de desfile, enquanto uma bateria melhor organizada executar seu ritmo de forma que fique cada vez mais evidente o bom equilíbrio e fluência entre os naipes, propiciada por uma afinação de surdos que permita uma equalização satisfatória.
A equalização de timbres, por exemplo, também é algo que sofre influência direta da organização do ritmo. Por vezes, o próprio caminhar de quem toca com instrumento grave pode ser revelador para perceber a forma que o surdo ressoa. No Acesso, por exemplo, têm ocasiões em que o caminhar dos surdos em relação aos demais naipes é um pouco mais lento, gerando distanciamento entre os marcadores. Isso ajuda a criar instabilidades sonoras em todo o entorno. Portanto, além de ser vital a boa organização do ritmo, também se faz necessário um caminhar ponderado de toda a bateria, garantindo que os ritmistas sigam tocando na mesma pulsação, evitando assim oscilações rítmicas provocadas pela alteração brusca de movimento. Quanto mais pesada estiver a afinação dos surdos, maior deverá ser o cuidado e a atenção com esse fato.
Vale uma reflexão apurada nessa última semana antes dos desfiles. Talvez seja uma boa pensar na organização de toda a galera da cozinha da bateria. A parte de trás do ritmo, invariavelmente, é quem dá toda a base fundamental para que uma bateria toque de modo consistente. Se preocupar com a organização também do peso, portanto, é uma maneira válida de buscar fluência entre os naipes e o equilíbrio musical. Ritmo bem organizado e equalizado dificilmente apresentará inconsistências que são dribladas com uma estratégia bem definida de demarcação de lugar eficaz dos ritmistas.