A temporada mais desejada por todo sambista está prestes a começar! Vem aí o pré-carnaval preferido de todo amante de escola de samba: ensaios técnicos. Os times principais treinando diretamente no campo de jogo. Um evento popular que caiu nas graças do carioca e tem sido um verdadeiro marco no mundo do samba. São baterias completas apresentando seus ritmos ao povão. O efeito da catarse popular de uma paradinha poderá ser medido, assim como será possível avaliar o completo encaixe entre samba, harmonia de cordas e bateria na acústica ideal da pista.
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As agremiações do Grupo Especial dessa vez farão os ensaios aos sábados, com prenúncio de casa cheia e bastante interação popular. São aguardados ritmos consistentes e já consolidados, pois a profunda excelência cultivada ao longo dos anos vem garantindo resultado. No grupo de acesso, embora os trabalhos também caminhem para o nível de excelência, a própria cultura de dificuldade de ensaios com grande contingente gera empecilhos no desenvolvimento musical.
Os ensaios técnicos para as baterias do acesso são primordiais. São neles, invariavelmente, que as baterias reunirão seu maior quórum até então. Os treinos servirão, sobretudo, para que os ritmistas se desenvolvam em conjunto, buscando um toque que ressoe de forma equilibrada. O grau de desafio para as escolas do Acesso acaba sendo maior. Entretanto, a responsabilidade das baterias do grupo principal está longe de ser pequena, muito pelo contrário.
Existe de forma evidente uma tendência ao pré-julgamento nas baterias do Especial. O que é até certo ponto injusto, pois se trata de um ensaio. Mas é inegável o fato de que os ensaios técnicos têm servido cada vez mais de base ao menos para uma avaliação preliminar do ritmo que vai passar pela Avenida.
As bossas, cada vez mais elaboradas, também serão muito aguardadas. O processo de criação musical das paradinhas dos ritmos cariocas passa por uma era que tem gerado inclusive reflexões. As idéias, por vezes tão geniais e atreladas ao enredo, também esbarram em um nível cada vez mais alto de dificuldade e complexidade. Um exemplo disso tem sido o floreado do tamborim, que tem sido bastante utilizado no arranjo das bossas feito por caixas de guerra. Esse movimento musical certamente contribui para a própria evolução rítmica dos caixeiros envolvidos. Mas também pode acabar acarretando num grande acúmulo de informações musicais para um trecho melódico de métrica relativamente pequeno.
É importante, por exemplo, que se cante o samba de forma fluída enquanto se elabora bossas, garantindo que a própria harmonia será impactada de modo benéfico com o arranjo proposto.
Os ensaios técnicos permitem uma boa avaliação de tudo que está em excesso. É determinante que os mestres e suas diretorias de naipes avaliem criticamente como foram as execuções das convenções e paradinhas. E se existem ajustes que podem ser feitos, não só para simplificar e limpar o toque, mas principalmente para contribuir positivamente com o canto de toda a escola, enquanto o ritmo é executado, acompanhando o samba-enredo e suas nuances melódicas. Por maior que seja o show da bateria, o samba nunca deixará de ser a mola propulsora principal da base musical do espetáculo. A bateria encanta e sacode enquanto acompanha musicalmente, mas é o samba-enredo que levanta o povo e faz a mágica acontecer!
Outra questão musical que poderá ser evidenciada é como a parte da frente do ritmo se encontra cada vez mais refinada. As chamadas peças leves (tamborins, chocalhos, cuícas e agogôs) têm produzido trabalhos em franco desenvolvimento. Obviamente, a questão da complexidade e dificuldade de execução merece uma reflexão crítica mais aprofundada, papo que ficará para uma coluna posterior, pois essa segue a linha de análise mais geral e não específica. Mas, de uma forma ou de outra, será possível perceber que os agudos estarão com trabalhos cada vez mais caprichados e elaborados, principalmente os naipes de tamborim e chocalho. Outra constatação que também envolve o apuro do nível técnico é a participação dos surdos de terceira em convenções e paradinhas. É nítido o quanto o instrumento tem servido de base rítmica nas elaborações que exigem certo grau de refino musical. Mas assim como chocalhos e tamborins, excessos não só podem, como devem ser evitados.
Que a excelência rítmica das baterias cariocas cative o povo que comparecerá ao Sambódromo para curtir os ensaios técnicos. Que mestres, diretores e ritmistas brindem o público, além de toda imprensa carnavalesca com inúmeros sacodes. Que os aprendizados ao longo do percurso não sejam simplesmente esquecidos e sim usados em prol do desenvolvimento musical na reta final do trabalho. Que os ajustes necessários para o desfile oficial sejam realizados, proporcionados exatamente pela chance de ver a bateria completa na pista da Sapucaí. Que entre erros e acertos, saibamos extrair o que de melhor e mais genuíno produzimos dentro do carnaval carioca: o autêntico ritmo que representa a musicalidade da cidade dentro do maior espetáculo da Terra. Batuquemos!