O “conclave” festivo da Unidos do Viradouro realizado em sua quadra de ensaios na noite de terça-fera decretou que mestre Ciça (o Papa do Ritmo de Baterias) será o enredo da agremiação no Carnaval 2026. O anúncio foi recheado de emoção, com direito a lágrimas do lendário mestre Caveira, além de comemoração efusiva de praticamente toda a comunidade da escola do bairro do Barreto presente na quadra. O clima na bateria “Furacão Vermelho e Branco” logo após anunciado o tema era semelhante a uma conquista de Copa de Mundo.
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Quando um enredo extremamente vinculado a própria história da agremiação é revelado, naturalmente já favorece aquele clima otimista de exaltar a cultura da escola ao contar essencialmente sobre ela mesma. Essas escolhas praticamente orgânicas não só são bem aceitas, como acabam sendo bastante comemoradas. Ciça é completamente merecedor da homenagem em forma de Carnaval, mas a bem da verdade, a sensação otimista pela escolha reverberou de uma forma que atingiu todo o mundo do samba.
Pode-se dizer, foi um dia de muita emoção para sambistas e ritmistas de todo o país. Inúmeros foram os mestres e diretores de bateria que postaram em seus perfis pessoais exaltações a escolha de Ciça como enredo da Viradouro no próximo carnaval. Os grupos de bateria literalmente bombaram, com homenagens e mensagens emocionadas. O clima geral era de satisfação e muito orgulho.
Culturalmente, na maioria das vezes, ainda existe uma nítida desvalorização do segmento bateria dentro das agremiações. É necessário lembrar que ritmistas são os primeiros a retornarem para a quadra de ensaios, visando o trabalho para o carnaval seguinte. A batalha, por vezes árdua, na noite de ontem ganhou ares reconfortantes, já que uma autêntica lenda viva do ritmo receberá uma linda homenagem para coroar seus 70 anos de vida e imensa dedicação ao samba.
Moacyr da Silva Pinto, figurinha carimbada em qualquer ensaio de bateria no Setor 11, é um dos sambistas mais participativos do Carnaval Carioca. Para Ciça, o samba e o ritmo são as culturas que representam sua vida, por isso sua dedicação constante ao segmento que ama é tão exaltada, além de merecidamente reconhecida por praticamente todos do meio. A valorização de Ciça em vida, como tema de um desfile, coloca o próprio segmento bateria em outro patamar de evidência!
A bateria é, de longe, o segmento que mais rala numa temporada de ensaios. Quem mais faz shows, furadas, convidas, saídas e participa dos mais diversos eventos dentro e fora da agremiação que representa. Ritmistas são colaboradores emocionais abnegados, que de maneira indireta também acabaram sendo contemplados pelo anúncio. Um tema que emociona, cativa, inspira e pode significar, sobretudo, uma mudança de paradigma na relação das escolas com seus ritmos. Ciça além de lenda e atualmente enredo, também é um grande símbolo de esperança dentro do mundo do ritmo. Esperança de holofotes intensos e não passageiros. Esperança de valorização de um segmento que muito batalha e entrega, mas ainda engatinha em questões como reconhecimento. Esperança de uma criança que está batucando e fazendo seu ritmo em alçar musicalmente ao cargo de mestre, na tentativa de fazer sua história no samba para um dia ser contada na Avenida. O gol de placa da Unidos do Viradouro mexeu com os brios e massageou o ego de ritmistas, diretores e mestres de bateria, independentemente de escola. O mundo do samba e do ritmo agradecem!