Um excelente ensaio técnico da bateria da Unidos do Viradouro, comandada pelo lendário mestre Ciça. Se o intuito era cadenciar a bateria, para lapidar a conjunção sonora, é possível dizer que o êxito foi completo. Para mestre Caveira, missão dada é missão cumprida! Com um andamento confortável todos os instrumentos tiveram sua fluência rítmica garantida. Destaque para a integração musical das paradinhas, além de estarem atreladas ao enredo de vertente africana da vermelha e branca do bairro do Barreto.

bateria vira
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

Uma bateria da Unidos da Viradouro com uma boa afinação de surdos foi percebida. Marcadores de primeira e segunda foram firmes, além de precisos durante o cortejo, ditando o andamento cadenciado de forma eficiente. O balanço envolvente dos surdos de terceira acrescentou swing ao ritmo da “Furacão Vermelho e Branco”. Repiques coesos tocaram de modo integrado com as ressonantes caixas de guerra, com sua tradicional levada de partido alto. A parte de trás do ritmo também contou com atabaques e agogôs de duas campanas (bocas), que adicionaram molho à sonoridade principalmente em bossas.

Um trabalho altamente técnico foi notado na parte da frente do ritmo. O destaque ficou por conta de um naipe de tamborins com um desenho rítmico bastante caprichado, além de absurdamente musical. Tudo executado com precisão cirúrgica, por uma ala que de tão equilibrada parecia um só tamborim por toda a pista de desfile. Um naipe correto de chocalhos também ajudou no complemento da sonoridade da cabeça da bateria, assim como uma ala de cuícas de nítida virtude musical preencheu com segurança o trabalho diferenciado na cabeça da bateria.

Bossas altamente musicais, com impacto sonoro e algumas com toques afros muito bem consolidados rechearam musicalmente o trabalho diferenciado na bateria da Viradouro. A integração musical envolvendo as paradinhas foi nítida. Os arranjos levavam em conta as variações melódicas do grande samba-enredo da escola de Niterói para consolidar o ritmo. Atabaques tocaram inclusive usando baquetas em uma bossa, fazendo referência ao Aguidavi sagrado, atrelando intimamente o tema da Viradouro a sonoridade produzida.

O impecável treino da “Furacão Vermelho e Branco” de mestre Ciças mostrou uma bateria da Viradouro pronta para o desfile oficial, graças a um equilíbrio musical diferenciado, obtido pela boa equalização de timbres, além do andamento bastante confortável. O acerto além de musical também foi cultural, já que alguns arranjos musicais afros conectaram a musicalidade destacada da Viradouro ao enredo de matriz africana da escola. Diretores e ritmistas cruzarão a Ponte Rio Niterói com sorriso no rosto de dever cumprido, além da esperança que “o brilho no olhar” da nota máxima possa estar bem próximo de voltar.