A bateria da Unidos de Bangu realizou um ótimo ensaio técnico, sob o comando de Mestre Laion. A “Caldeirão da Zona Oeste” (CZO) apresentou um grau considerável de refino musical na elaboração de paradinhas, se aproveitando tanto do samba como da temática africana da escola.
Na cozinha da bateria (parte de trás do ritmo) foi possível notar um trabalho sólido, além de plenamente integrado a musicalidade da bateria da Unidos de Bangu. Bons ritmistas da marcação ditaram o ritmo e andamento, contando ainda com um toque extremamente bem executado dos surdos de terceira, que proporcionaram um balanço envolvente. Caixas de guerra e repiques complementaram a sonoridade da bateria com eficácia e precisão.
Na cabeça da bateria, um trabalho privilegiado envolvendo as peças leves foi notado na parte da frente. Uma ala de cuícas correta e um naipe de agogôs que tocou pontuando a melodia do belo samba-enredo da escola agregaram valor à sonoridade. Um naipe de chocalhos que tocou firme e de modo coeso se uniu a uma ala de tamborins de inegável qualidade, auxiliando de forma substancial na boa musicalidade apresentada pela “Caldeirão da Zona Oeste”.
Já sendo uma linha e marca do trabalho de Mestre Laion, a subida na cabeça do samba possui uma musicalidade interessante, contando com bom swing das terceiras, junto a rufadas firmes das caixas de guerra.
A paradinha de maior destaque é a sublime construção musical no refrão do meio do belo samba-enredo da Unidos de Bangu. Com ênfase no balanço dos surdos de terceira, o arranjo musical apresenta um refinado Alujá, fazendo a “CZO” tocar para o Orixá Xangô. O impacto na sonoridade foi tremendo, graças à pressão obtida pelos bons marcadores. Uma bossa que atrelou a religiosidade de matriz africana presente no enredo ao ritmo acima da média produzido pela bateria.
A bossa iniciada na segunda do samba e finalizada no refrão que precede o principal uniu pressão e um ritmo junino de altíssimo valor sonoro. Além de dar ao samba o que ele pede, antes de entrar no estribilho foi utilizada uma batida conhecida como “Machado de Xangô”. Uma bossa que impressiona pelo evidente bom gosto e alta complexidade, além de toda conexão cultural e religiosa envolvida.
Vale ressaltar que existe uma alusão musical ao mesmo “Machado de Xangô”, de altíssima qualidade no final da segunda do samba, envolvendo somente os surdos. Isso com o ritmo da bateria prosseguindo. Uma nuance rítmica merecedora de menção, além de exaltação pela concepção moderna e requintada, aliada a uma execução privilegiada, que ajudou a abrilhantar o belo ensaio da bateria da Unidos de Bangu.