A bateria da Unidos do Porto da Pedra fez um ensaio técnico satisfatório, sob o comando do excêntrico mestre Pablo. Ainda que seja característica musical do mestre um ritmo mais acelerado, a bateria poderia ter se apresentado de maneira bem mais equilibrada se tivesse adotado um andamento um pouco mais para trás, o que teria garantido maior precisão nas convenções complexas e de elevado grau de dificuldade.

Na parte traseira do ritmo (cozinha da bateria) a sonoridade ficou marcada pelo peso da afinação grave de surdos, que junto com o balanço provocado pelas terceiras deu molho peculiar a “Ritmo Feroz”. Caixas de guerra sólidas e repiques coesos também ajudaram a preencher a musicalidade da bateria da Porto da Pedra.

Já na cabeça da bateria, o bom trabalho da ala de chocalhos merece exaltação musical pela unidade sonora produzida com eficiência. Outro naipe que se destacou, adicionando qualidade musical a sonoridade produzida foram os tamborins. Executando um desenho rítmico que deu inegável swing, contribuiu de maneira notável com a parte da frente da “Ritmo Feroz”. Cuícas sólidas se uniram a agogôs, que ajudaram a pontuar a grande obra da escola de São Gonçalo através de suas variações melódicas.

É importante ressaltar que a construção musical de mestre Pablo, na bateria “Ritmo Feroz” da Unidos do Porto da Pedra não se assemelha a qualquer outra, no que tange a de certa forma padronizar sua musicalidade. Seus arranjos musicais são genuínos e pautados nem que de maneira inconsciente por sua personalidade tanto irreverente, como bem humorada. Uma coisa que Pablo costuma fazer com esmero é passar alegria quando sua “Ritmo Feroz” embala os componentes da escola de São Gonçalo.

O breque do final do refrão do meio deu um molho peculiar a bateria “Ritmo Feroz” no último verso “Onde o curumim vira animal”. A bateria faz um corte seco que logo é embalado por um toque fabuloso envolvendo ritmistas com timbal, que é repetido em sua constituição musical pelos demais naipes. Vale menção para a retomada do ritmo, unindo pressão e um swing extremamente envolvente.

A bossa do refrão principal iniciava no último verso da segunda do samba-enredo. A pressão provocada pelo arranjo musical complexo e elaborado tem tudo para ser um ponto alto musical no desfile da escola.

O balanço intenso dos surdos, junto com complementos consistentes de médios (caixas e repiques) e leves (tamborim e chocalho) provocaram impacto sonoro inegável, daqueles de fazer o coração de qualquer um acelerar, se empolgando com uma sonoridade pautada por uma criação de elevado grau de dificuldade de execução.

Já a paradinha da cabeça do belo samba-enredo também se aproveitou da sonoridade destacada das terceiras, permitindo um impacto musical notável a bateria da Porto da Pedra. A retomada é musicalmente desafiadora.

Um ensaio técnico que serviu como base para mestre Pablo poder aparar arestas musicais e corrigir pequenas imprecisões rítmicas, em busca de uma apresentação ainda melhor no desfile oficial.

Talvez um dos maiores trunfos musicais da “Ritmo Feroz” tenha sido saber explorar em sua totalidade o lado selvagem de sua musicalidade. Tambores ecoam em florestas desde os primórdios desse país. E os tambores gonçalenses ecoaram por todos aqueles que pelas nossas florestas lutaram. Essa análise de bateria é gentilmente dedicada a todo o sofrido povo Yanomami, além de toda etnia que resiste em perpetuar o modo de sobrevivência cultural indígena pelas matas brasileiras.