Sob uma fina garoa típica paulistana, a Mocidade Alegre realizou seu ensaio técnico no último sábado no Sambódromo do Anhembi. Preparando-se para exaltar Clementina de Jesus, a Morada do Samba entrou na avenida inspirada pelo marcante discurso da presidente Solange Cruz, que pediu para sua comunidade brincar o carnaval por todos aqueles que não poderiam estar ali com eles após dois anos de período pandêmico. Era explícito no olhar, no canto e na dança de cada componente a sintonia com os sentimentos de sua líder. A Mocidade deu um show de evolução mesmo levando o maior número de desfilantes dessa temporada de ensaios técnicos até aqui. E se enganam quem pensar que isso significou menos samba no pé, pois da primeira ala até a última, passando pelas fantásticas baianas, se divertir parecia uma verdadeira regra para cada um deles. A ala Samba Alegre passou cantando pelo último setor como se acabasse de entrar na avenida, exibindo um vigor invejável.

Já estava valendo? Harmonia ‘superou a expectativa’, diz diretor

Rodando sombrinhas do frevo, agitando balões e até mesmo cajados de Oxalá, como os guardiões do primeiro casal, muitas das alas carregavam adereços, com direito a algumas delas até mesmo usando fantasias parciais. A comissão de frente, por sinal, parecia pronta para ser avaliada, vindo praticamente completa com uma dança forte e imponente. Carlos Magno, diretor de harmonia, fez um balanço geral do ensaio da Morada.

“Ensaio bom. Temos muitas coisas para acertar, mas em vista do que a gente esperava, acredito que nós superamos a expectativa. Forçamos muito o canto, porque tem aquela questão de desfilar de máscara ou não e, por isso, a gente tinha esse intuito hoje. Todo mundo sabe que as pessoas vão chegando na reta final, e sabemos que precisamos trabalhar essas pessoas que chegaram. Porém, ao nosso ver, o ensaio foi bom e saímos com saldo positivo para a escola. Foi um grande passo que nós demos”, avaliou.

Com a expectativa de trazer entre quatro e cinco alas coreografadas, Carlos contou um pouco sobre o plano de ensaio com os componentes delas. “Por exemplo, quarta-feira, nós trabalhamos com eles separados na quadra junto com a bateria. Hoje, chegamos aqui mais cedo pra fazer umas duas ou três vezes lá na concentração com eles, com o intuito de dar certo. Esse casamento do ensaio deles junto com o técnico é muito importante. A gente bate nisso porque é o que nos levanta e é o que está ajudando a fazer nossa evolução. Eu acredito muito que vai dar certo”, disse.

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Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

Em alguns momentos do ensaio, quando bossas eram praticadas no verso do samba ‘A Mocidade se ajoelha aos seus pés’, a comunidade ensaiou fazer esse gesto citado. O diretor explicou o plano da escola para esse momento. “Estamos fazendo um ensaio exaustivo, mas estamos em estudo ainda. Não sabemos se vai ou não. O estudo é para ter a certeza se vai acontecer, para depois a gente falar ‘vamos’. Até o próximo ensaio técnico, vamos estar com isso resolvido”, prometeu.

No estilo que consagrou Quelé, samba cresce no Anhembi

Os sinalizadores acesos na Monumental e até mesmo em uma das alas deram ainda mais brilho ao forte canto da Mocidade Alegre. A comunidade abraçou o samba e se divertiu principalmente nos versos do refrão do meio, que são seguidos por uma sequência diferente dos padrões, mas que “obriga” o corpo a entrar numa frequência contagiante, no melhor estilo da Rainha do Partido-Alto. Igor Sorriso, intérprete principal da escola, resumiu em suas palavras essa vibração que o hino escolhido transmite.

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“A proposta da Mocidade Alegre é homenagear Clementina de Jesus na sua essência. Então o samba-enredo que a gente escolheu para esse desfile tem muito disso, a essência de Clementina de Jesus. Samba leve, fácil, animado, gostoso, do jeito que era Clementina cantando e interagindo com o público. Então a gente vai tentar fazer isso, trazer Clementina de Jesus para o nosso desfile. Ela vai participar do nosso desfile, pode ter certeza disso. Pelo que eu vi, o povo tá cantando demais, e a tendência é a gente trabalhar para melhorar, evoluir esse canto, para a gente fazer um grande desfile”, exaltou o cantor.

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Igor não escondeu seus sentimentos antes de começar a cantar o samba da Mocidade Alegre. Em breve discurso, falou do medo que teve de não voltar a fazer o que mais ama. Exaltando a comunidade, contou ao site CARNAVALESCO o que mais gostou no ensaio. “Foi o canto do meu povo. A bateria também vem muito bem. Mas o canto do meu povo foi forte, hein. Minha comunidade cantou. A gente está muito feliz de poder retornar esse momento. Como eu falei lá no início, durante a pandemia a gente teve muita insegurança, medo, do que iria acontecer, a gente não sabia. Graças a Deus a gente tem oportunidade de que estar aqui de novo representando nossa escola, fazendo nosso carnaval, então isso é muito importante”, finalizou.

Voou com a águia altaneira e caiu no samba de verde e rosa

Enquanto se encaminhavam para o recuo da concentração, a bateria Ritmo Puro chamou bastante atenção com suas roupas. Metade dos componentes usavam camisas azul e branca, em referência à Portela, enquanto os demais estavam vestidos nas cores verde e rosa da Mangueira, as escolas de samba da vida de Clementina de Jesus. Mestre Sombra, que comandará 240 ritmistas no desfile oficial, gostou do rendimento de seus pupilos ao comentar o desempenho no ensaio.

“Achei excelente, dentro do que a gente programou e ensaiou. Lógico que nunca nada tá perfeito, sempre haverá um ajuste, e vamos seguir em frente sempre procurando fazer o melhor. Essa é a nossa finalidade. Chegando em casa a gente vai fazer um apanhado geral para ver onde é que tem que apertar um parafusinho aqui e ali e vamo que vamo”, declarou.

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O mestre explicou como a pandemia da covid-19 impactou nos preparativos da bateria, mas não deixou de exaltar o que a escola mostrou de mais valioso. “É um momento de muita garra, muito amor e dedicação. Um carnaval meio esquisito, praticamente dois anos parado. Aí de repente prolongou o tempo de ensaio, então muita coisa muda. A vida do ritmista muda. Então vamos fazer nesse primeiro momento o básico para o carnaval. Mas com certeza acredito que a gente não vai decepcionar. A homenagem à Clementina de Jesus, com um baita samba que nós temos, e a comunidade cantando. Essa que foi a grande diferença nesse ensaio”, encerrou.

Dito a Clementina vai para Karina: Cadê você?

Uma situação inusitada marcou a apresentação do primeiro casal da Mocidade Alegre. A porta-bandeira titular, Karina Zamparolli, não esteve presente por estar em núpcias com seu marido. Coube então a Thaís, irmã do mestre-sala Uilian Cesário, defender o pavilhão no ensaio. Com isso, não houve a necessidade de se fazer um treino mais rigoroso no momento, o que permitiu aos irmãos se divertirem de forma bastante solta enquanto bailavam no Sambódromo. Thaís falou ao site CARNAVALESCO qual foi o sentimento de assumir um posto tão importante da escola.

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“Inexplicável. Eu estou no lugar que muitos desejam estar mesmo que fosse um pouquinho e eu fui a felizarda. Eu estou muito feliz, a Karina estava super de boa e concedeu esse momento. Eu acho que o mais importante foi dançar com meu irmão, fazia tempo que eu não dançava com ele, e foram ambas oportunidades que a Mocidade me deu. Eu estou muito feliz”, contou.

Uilian também relembrou os tempos que formou dupla com sua irmã, e aproveitou para curtir o momento que também contou com a presença da mãe. “Foi uma honra dançar com minha irmã. A gente começou juntos há alguns anos, então retomar com essa parceria, mesmo que por um curto momento, foi muito bacana. Estamos em família, minha mãe também conseguiu descer, e estamos no solo sagrado. Esperamos tanto para se reencontrar aqui, e com certeza foi uma noite inesquecível e a comunidade está aí, linda e maravilhosa. Estamos entre irmãos, família, a comunidade aí complementando esse dia tão especial”.

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Thaís explicou sobre a proximidade de sua família com a de Karina, além de revelar os conselhos dados pela amiga para esse ensaio. “A gente tem muita proximidade. Somos uma família também. A gente costuma falar que é a ‘Cesário Zamparolli’, somos muito unidos graças a Deus. Ela falou ‘vai e se diverte. Você sabe o que tem de fazer’. Então ela me deixou super tranquila. Eu fiz o que deu e eu estou muito feliz, de verdade”.

Por último, Uilian falou sobre o momento que mais gostou no ensaio, além do impacto que o samba tem na dança do casal. “Confesso que me emociono muito com o hino do pavilhão e o hino da escola. Então com certeza o ponto alto foi aquela introdução. Consegui matar a saudade, consegui ver a escola ali enfileirada não tem como pagar uma emoção tão especial. Da dança, o samba é muito forte, é um samba afro, samba que puxa muito o poder da mulher. Então no refrão é sempre muito especial, que a gente dança com gás, com vigor. Com certeza o refrão da escola chama a gente bastante”, concluiu.

Um ensaio digno de escola tradicional

O ensaio foi marcado pela grande emoção e comprometimento dos desfilantes da Mocidade Alegre. A escola apresentou uma evolução impecável, de modo que fluiu tranquilamente e permitiu aos seus desfilantes brincarem o tempo todo, sem maiores preocupações. Vale destacar que em determinado momento foi necessária a entrada de uma ambulância para atender uma das baianas da escola, e a direção de harmonia precisou trabalhar para facilitar a passagem do veículo. Mas passado o susto, o canto permaneceu alto e encerrou com a mesma energia que iniciou o ensaio.

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A Morada do Samba é a terceira escola a desfilar no segundo dia de desfiles do Grupo Especial, que ocorrerá no Sambódromo do Anhembi dia 23 de abril.

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