Os dois eventos promovidos pela Unidos de Vila Isabel na Pedra do Sal, entre maio e setembro, não apenas confirmaram o vínculo ancestral da escola com a Pequena África: eles redefiniram o clima do pré-Carnaval 2026 da agremiação. A resposta do público, a força simbólica do local e a conexão com o enredo sobre Heitor dos Prazeres transformaram a área histórica num verdadeiro termômetro da energia que a azul e branca levará para a Avenida.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

vilasal
Foto: Divulgação/Vila Isabel

O retorno à Pedra do Sal para apresentar os sambas finalistas, no início de setembro, foi a comprovação de que o primeiro encontro, o lançamento do enredo em maio, não tinha sido um ponto fora da curva. A Vila cravou presença, lotou o espaço novamente e provocou uma movimentação que atravessou escolas, turistas, moradores e o “Povo do Samba”, que fez questão de comparecer para cantar sambas-enredo históricos e celebrar a memória ancestral.

Com o enredo “Macumbembê, Samborembá. Sonhei que um Sambista Sonhou a África”, a Vila Isabel homenageia Heitor dos Prazeres, artista que ajudou a definir a identidade cultural da região portuária e eternizou o nome Pequena África. Por isso, realizar ali tanto o lançamento quanto a apresentação dos finalistas assumiu um caráter que ultrapassa a dimensão festiva.

armandovila
Professor de Educação Física Armando Simões, assíduo frequentador da quadra da escola. Fotos: Matheus Vinícius/CARNAVALESCO

“Esse evento reconecta o samba com a sua origem”, disse o professor de Educação Física Armando Simões, assíduo frequentador da quadra da escola. Para ele, os encontros têm impacto direto no clima do pré-Carnaval: “A Pedra do Sal está virando a casa da Vila. Nada melhor do que voltar onde tudo começou”.

A salgueirense Dayana Gusmão, de 39 anos, também reconhece que os eventos transformaram o local numa arena simbólica da Vila Isabel: “Aqui é memória e resistência. Trazer a escola para cá ressignifica tudo. A ancestralidade é circular. Quando a Vila pisa nesse chão, ela volta no tempo e honra quem veio antes”.

dayane
Salgueirense Dayana Gusmão, de 39 anos. Fotos: Matheus Vinícius/CARNAVALESCO

Ressignificação e disputa simbólica por um território sagrado

A Pedra do Sal, patrimônio tombado e berço do samba carioca, recebe cada vez mais turistas após a revitalização da região. Para muitos sambistas, isso trouxe o risco de descaracterização.

Por isso, os eventos da Vila são vistos como um processo de reapropriação cultural. O portelense Matheus Pinto, 28 anos, acredita que a escola trouxe de volta o protagonismo do Povo do Samba no local:

matheusvila
Portelense Matheus Pinto, 28 anos. Fotos: Matheus Vinícius/CARNAVALESCO

“Precisamos nos reapropriar da Pedra do Sal. Muitas vezes ela acaba ocupada por quem não entende e não respeita. A presença da Vila resgata o sentido original”.

Capitão Guimarães: novos encontros podem entrar de vez no calendário

O presidente de honra, Capitão Guimarães, deixou claro que os eventos não devem parar no último feito em setembro:

“Carnaval é povo, e a Vila tem trazido o povo para cá. Que haja uma terceira edição este ano e, no próximo, uma sequência, para vivermos tardes maravilhosas como essa”, disse o dirigente na época.