Por Gustavo Lima e Will Ferreira

Uma grande noite de minidesfiles marcou a noite deste sábado e virada de madrugada de domingo. As 14 escolas do Grupo Especial fizeram questão de abrilhantar a festa. Foram apresentações de alto nível que, com certeza, deixaram os sambistas que lotaram a Fábrica do Samba, extremamente satisfeitos. Porém, quando se há desfile há de se elencar destaques. A Barroca Zona Sul, com o enredo “Os nove oruns de Iansã”, mostrou um samba-enredo com potência magnífica. O refrão de cabeça que tem a forte frase “Relampejou lá no ceú, vai relampejar”, com o objetivo de saudar Iansã, caiu nas graças do povo e, logo na largada, o público já se soltou. Para isso, os intérpretes Cris Santos e Dodô Ananias mostraram um entrosamento ímpar. A verde e rosa de Jabaquara pode se aproveitar dessas qualidades para ir além dos seus objetivos. A Dragões da Real, com o enredo “A vida é um sonho pintado em aquarela”, fez questão de fazer a festa com o público. Antes de entrar na pista, as lideranças distribuíram bandeirinhas com a logo do enredo. É um tema muito emocionante que a ‘comunidade de gente feliz’ comprou e está comprometida, como sempre, a realizar um belo carnaval. Balões de crianças foram aos céus – Uma cena emocionante que irá ficar para a história das edições do evento. Veja abaixo a análise completa do CARNAVALESCO.

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Fotos: Woody Henrique/Samba na Pista

Colorado do Brás – Inaugurando os minidesfiles do Grupo Especial logo após o show do Grupo Revelação, a vermelho e branco do Centro mostrou a força da criatividade e da comunidade da escola. Com muitos movimentos para exaltar os Filhos de Gandhy, a agremiação variou entre pompons, bexigões e outros itens que ajudam no visual. Quando o samba chegava no verso “Pra saudar”, todos os componentes pulavam, ajudando ainda mais em tal efeito. Por fim, uma das alas tinha um pano no qual, em determinado momento, todos se escondiam – e, dele, saía uma garota: Yasmin, destaque da comissão-de-frente da Imperador do Ipiranga de 2024. Quando ela aparecia, a arquibancada a aplaudia efusivamente. Vale destacar, também, a bossa da Ritmo Responsa, sob o comando de mestre Acerola de Angola, no refrão do meio.

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Barroca Zona Sul – O minidesfile competente da verde e rosa em 2023 se repetiu (e, quiçá, se maximizou) em 2024. Com um dos melhores sambas do ano, a agremiação chamou atenção pelo canto forte da comunidade – capaz de mexer até mesmo com as arquibancadas. Há um movimento que todos os componentes fazem no refrão inteiro em idioma africano (“Akoro mina dewa aê, akoro mina dewá/Epahey, oya! Oya, oya!”) que foi repetido por quem estava acompanhando o minidesfile. A elegância do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marquinhos Costa e Lenita Magrini, foi outro ponto alto – ambos estavam em tons que puxavam para o grená, e o vestido usado por ela parecia ter mais de uma barra, o que dava uma movimentação especial à peça. O final da apresentação, com um tripe com uma representação de Geraldo Sampaio Neto, o Borjão, baluarte da instituição que faleceu no começo do ano, evidenciou o ótimo trabalho feito pela Faculdade do Samba.

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Dragões da Real – Um simbólico momento emocionou a todos durante o minidesfile da escola: em determinado instante, os diversos balões de astronauta (representando Jorge Marcos, o Jorginho, neto do carnavalesco Jorge Freitas que faleceu em abril) foram soltos para o céu, como se estivessem indo ao encontro de quem tanto gostava do cosmos mesmo tão jovem. A história do enredo, muito conhecida e celebrada no universo do carnaval paulistano, fez com que lágrimas caíssem nas arquibancadas quando o céu ganhou novos elementos. Nos quesitos, a escola, novamente, foi fantástica: um grande pede-passagem, muito bem acabado, chamou atenção, a Ritmo Que Incendeia, de mestre Klemen Gioz, deu ótima sustentação para o samba-enredo e Renê Sobral tratou de executar a canção de maneira emocionante.

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Mancha Verde – Das escolas da primeira noite, certamente a agremiação foi a que teve o minidesfile mais surpreendente. A bateria não parou no primeiro espaço utilizado como recuo, e o hino da escola foi cantado a capela por longuíssimos minutos – até a Puro Balanço chegar, mais ou menos, na metade da primeira alameda, quando Freddy Viana começou a executar o samba-enredo. A comissão de frente, com diversos cangaceiros e algumas figuras representando orixás, chamou atenção pelas fantasias, tal qual a ala de capoeiristas. Os segundo e terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, por sinal, vieram fantasiados, tal qual algumas alas atrás do conjunto de passistas da Mancha Guerreira.

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Acadêmicos do Tatuapé – A escola da Zona Leste utilizou o minidesfile para fazer o lançamento dos pilotos da agremiação para 2025: à frente de algumas alas, apareciam  fantasias para a próxima apresentação no Anhembi – de duas a cinco, para ser mais exato (ou seja: à frente de uma ala poderia ter de duas a cinco fantasias, à frente de outra poderia ter de duas a cinco e assim sucessivamente, até surgirem todas 18 alas no conjunto). A escola investiu em bolhas de sabão para criar um efeito especial para a entrada, e o Casal Foguinho, composto por Diego do Nascimento e Jussara de Sousa, chamou atenção pelo bom gosto (ambos estavam com modelitos azuis escuros) quanto pela ótima apresentação, mesclando muito bem giros rápidos e certeiros, samba no pé e simpatia. Vale ressaltar, também, a ótima resposta da comunidade à execução do samba-enredo, em um carro de som estrelado e comandado por Celsinho Mody.

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Rosas de Ouro – Foi, certamente, a maior explosão de todo o minidesfile. Desde quando o carro de som começou a entoar o hino da escola, componentes e arquibancas responderam de imediato – e com uma força que não foi vista ao longo de toda a noite. O samba-enredo para 2025 foi gritado na passarela, contagiando quem estava assistindo – e que recebeu alguns bexigões azuis e rosas para fazer o mesmo que os desfilantes. A alta quantidade de tais itens, por sinal, criou um efeito bastante interessante para quem estava vendo. Vale destacar, também, que os dois primeiros casais de mestre-sala e porta-bandeira vieram fantasiados, engrandecendo a apresentação – tal qual a presença do famoso pede-passagem da Roseira com o emblema da instituição da Zona Norte.

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Camisa Verde e Branco – Encerrando as passagens de agremiações que desfilam na sexta-feira de carnaval no Anhembi, o tradicionalíssimo Trevo teve como ponto alto não apenas a execução do já famoso samba em forma de carta psicografada pelo homenageado Cazuza; mas, também, uma inspiradíssima noite de Igor Vianna, intérprete da escola. Com ótima comunicação com arquibancada e componentes, o profissional fez a obra crescer ainda mais – tal qual o paradão da Furiosa, bateria da agremiação e comandada por mestre Jeyson, quando a canção canta “A Barra Funda mostra sua cara/Relembrando o seu apogeu/Declama em lindos versos/O poeta não morreu”, com todos batendo palmas. Também é importante ressaltar que a Barra Funda inteira estava com a faixa na cabeça imortalizada por Cazuza, e que a comissão-de-frente veio vestida como jovens dos anos 1980 – tão influenciada por Agenor de Miranda Araújo Neto.

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Águia de Ouro – A escola da Pompéia levou um contingente razoável para a Fábrica do Samba, mas foi o suficiente para entoar fortes os versos do samba-enredo dedicado ao artista Benito di Paula, homenageado do Carnaval 2025. A parte mais cantada é o refrão principal, que é todo feito em tons melódicos para cima. O grande destaque fica para a bateria ‘Batucada da Pompeia’, que ao longo do percurso realizou pelo menos três bossas muito bem ensaiadas – Destaque principal para o refrão do meio, onde Luiz Gonzaga, o rei do baião, é citado – Nesse arranjo, a bateria junto com o carro de som realiza um forró. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, João Camargo e Monalisa Bueno, estão se mostrando cada vez mais entrosado. O dançarino que já é bastante identificado com a agremiação, agora está carregando consigo uma parceira de alto nível do carnaval paulistano.

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Império de Casa Verde – Com uma nova identidade, o ‘Tigre Guerreiro’ foi ao minidesfile questionar a sociedade através de contos e fábulas. As vestimentas da comissão de frente tinham bailarinos vestidos de personagens, com destaque para a pronta identificação como Harry Potter e Harmione, personagens da saga Harry Potter que é usada pela escola dentro do samba e do tema. O Império liberou seus componentes para se divertir: Haviam diversas fantasias. A escola mostrou um grande entrosamento com o samba-enredo, que foi puxado pelo intérprete Tiago Nascimento, que substituiu o oficial Tinga. O jovem cantor, que ganhou oportunidade outras vezes, desta vez não foi diferente e conduziu muito bem a nação imperiana. Não dá para deixar de citar a bateria ‘Barcelona do Samba’, de mestre Zoinho, que está completando 20 anos de agremiação. Outro destaque foi o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rodrigo e Jéssica – uma parceria longeva onde se entendem com o olhar. A forma como eles dançam no ritmo do samba é uma prova disso.

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Mocidade Alegre – A atual bicampeã do carnaval mostra que não sai do seu terreiro para brincadeira. Nos primeiros momentos da apresentação a Morada já colocou uma grande escultura africana bem iluminada e com o pavilhão da agremiação. Algumas alas usaram fantasias de dias de desfile, o que deu um tom riqueza maior para a apresentação. Destaque para a fantasia da comissão de frente, que aparentemente foi criada somente para ligação a este tema. Dentro do samba-enredo, a escola sabe ensinar o seu povo a cantar como poucos. Um ótimo desempenho no canto marcou a noite da escola. Ainda dentro da trilha-sonora para 2025, há de se exaltar toda a ala musical na introdução da largada, cantando os últimos versos do samba e dando ótima sustentação ao Igor Sorriso começar a cantar. Por falar em Igor Sorriso, este merece um tópico especial. É um grande intérprete, uma voz que tem a cara da Morada e dá para dizer que é um dos melhores da história da escola. Se continuar no Bairro do Limão e mantiver esse nível, se tornará o maior. É incrível a energia que ele transmite e recebe de volta da comunidade, desde o hino da exaltação ao pavilhão até o fim do samba-enredo.

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Gaviões da Fiel – Tido como um dos melhores sambas-enredo do ano, os Gaviões da Fiel eram muito aguardados, tanto pelo apaixonado por carnaval, quanto por sua imensa torcida. Realmente, o conjunto musical está fazendo jus à obra-prima de samba-enredo que tem em mãos. O intérprete Ernesto Teixeira, longevo no carnaval e na escola, mostra que ainda pode viver a sua melhor fase e brigar entre os melhores cantores. Enorme apresentação de Teixeira. O carro de som comandado pelo diretor musical Rafa do Cavaco deram uma sustentação ótima para o cantor, além das introduções e vozes femininas colocadas para este ano. Entretanto, notou-se uma difícil assimilação do samba por parte dos componentes. As palavras afro em sequência ainda não atingiram e alguns desfilantes mostraram dificuldades. É uma obra a ser trabalhada, o primeiro enredo afro da história da agremiação alvinegra, mas o canto no minidesfile não fluiu. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Wagner e Carol, estão cada vez mais entrosados. Wagner usa o seu estilo clássico de um mestre-sala e a jovem Carolline Barbosa, que estreou em 2024, mostra cada vez mais garra para defender o pavilhão alvinegro, que é o que a torcida mais pede.

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Acadêmicos do Tucuruvi – Assim como a escola antecessora, a Tucuruvi é tida como um dos melhores sambas-enredo deste pré-carnaval e também fez jus a este posto. O casamento entre Tucuruvi e Hudson Luiz deu muito certo, ambos se encontraram. O intérprete fez uma grande apresentação junto a sua ala musical já bastante elogiada, especialmente a dupla de cantoras, que deram um espetáculo de sinergia na introdução do samba na largada. Vale destacar o grande trabalho que faz a harmonia da Tucuruvi, pois assim como o samba de Ifá em 2024, Assojaba para 2025 tem palavras que não são usadas no nosso vocabulário. Tudo em sequência. Dito isso, a comunidade faz um trabalho impecável no canto. O samba é entoado forte de ponta a ponta. Vale destacar que em determinado momento, em uma paradinha da bateria, todos os componentes acenderam as luzes dos seus celulares – Ideia inovadora que deu um contraste bacana na pista do minidesfile. A ‘Bateria do Zaca’ novamente realizou outra apresentação excelente sob o comando de mestre Serginho. Destaque para a bossa dos últimos versos antes do refrão de cabeça – “Clamo a ti força maior” Porém, o grande destaque vai para a comissão de frente comandada por Renan Banov. A ala realizou danças em movimentos indígenas e encenações tendo três personagens principais – Dois deles estavam caracterizados em maquiagem como animais. Um figurino impactante. Além de outro que aparecia enrolado no Manto Tupinambá, que é o grande tema da Cantareira.

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Terceiro Milênio – A escola do Grajaú mergulhou de cabeça no enredo de manifesto LGBTQIAPN+ e decidiu ousar. A postura realmente é colocar o pé na porta. Um exemplo disso hoje foi ter chamado um artista para cantar uma música que tem a ver com a causa. Os componentes da agremiação foram ao delírio e isso foi combustível para fazerem uma grande apresentação. A Coruja, como é popularmente chamada, foi para a Fábrica do Samba mostrar a sua força. Uma prova disso é a bateria ‘Pegada da Coruja’ do mestre Vitor Velloso ter realizado várias paradinhas para deixar apenas a comunidade cantar, deixando só a marcação de surdo. Os últimos versos do samba “Quero um colo pra me acolher” em diante, deixa a impressão que a comunidade impõe uma emoção maior. O refrão de cabeça é uma explosão: É um manifesto, uma luta e eles fazem valer a pena.

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Vai-Vai – Para encerrar o longo evento, a escola do povo, a maior campeã e que tem a maior torcida do carnaval paulistano entrou mostrando o seu banquete cultural profano. Coreografado pelo estreante Sérgio Cardoso, a comissão de frente foi um dos destaques do minidesfile da escola. Fantasiados todos de branco e com a ‘Coroa de Hera’ de uma das peças de Zé Celso (tema da escola), os bailarinos dançavam no que parecia ser obra do dramaturgo dentro do Teatro Oficina. O intérprete Luiz Felipe conduziu o samba-enredo com maestria. O cantor vem crescendo cada vez mais e é querido pela comunidade vaivaiense – Ele mostra um nível de empolgação que o Vai-Vai sempre teve. Para cima o tempo todo, junto a bateria de mestre Tadeu e Beto, que também foi destaque. A ‘Pegada de Macaco’, batucada mais tradicional do carnaval paulistano, está soltando bossas o tempo todo, e a qualidade é grande e difícil de escolhe qual arranjo se destaca. Entretanto o que mais dialoga com a comunidade é a bossa que se localiza no refrão de cabeça, onde se faz dá um destaque para o surdo e se ouve mais o canto. Por falar em harmonia, desta vez os componentes pegaram a obra com extrema facilidade e está na ponta da língua. A escola do povo fechou com chave de ouro o maior evento do pré-carnaval de São Paulo.