Por Gabriel Gomes, Luan Costa e Rhyan de Meira

A Acadêmicos de Niterói deu mais um passo rumo ao seu grande desafio no Carnaval 2026. Atual campeã da Série Ouro, a escola vai estrear no Grupo Especial como a responsável por abrir os desfiles de domingo na Marquês de Sapucaí com o enredo “Do Alto do Mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil”, desenvolvido pelo carnavalesco Tiago Martins e pelo enredista Igor Ricardo. O samba-enredo foi encomendado a um time de peso formado por Teresa Cristina, André Diniz, Paulo César Feital, Fred Camacho, Junior Fionda, Arlindinho, Lequinho, Thiago Oliveira e Tem-tem Jr. A apresentação oficial da obra aconteceu na tarde do último domingo, em clima de festa e expectativa pela estreia no Grupo Especial. O CARNAVALESCO acompanhou de perto e ouviu compositores, dirigentes e segmentos da escola.

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Fotos: Gabriel Gomes, Luan Costa e Rhyan de Meira/CARNAVALESCO

Um dos autores do samba, Paulo César Feital destacou a relação próxima que teve com Lula durante a construção da obra. “A escola foi extremamente democrática com a gente. Recebemos uma sinopse muito boa e o processo de interação foi de uma emoção absurda. Eu conheço o presidente há mais de 40 anos. Foi delicioso participar disso”, contou.

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Ao ser perguntado sobre como agradar diferentes correntes políticas com o enredo, Feital foi direto: “Meu filho, a esquerda vai se agradar. Ser de direita não quer dizer que o cara seja mau. Agora, o fascismo não pode prevalecer dentro de um Estado democrático. Se eles ficarem zangados… é problema deles (risos)”.

Para o compositor Fred Camacho, o processo de criação também foi marcado pela emoção de estar com Lula e apresentar pessoalmente a obra. “Estar com o presidente e poder cantar pra ele a obra que fizemos foi motivo de muita alegria. Não há emoção maior do que mostrar uma música para o presidente da República”.

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Camacho acredita que o samba carrega uma mensagem de respeito e pluralidade. “É uma questão de educação e, principalmente, de respeito. Respeito ao Carnaval, às ideias e à pluralidade de opiniões. Assim como respeitamos diferentes religiosidades, também precisamos respeitar os posicionamentos políticos de cada pessoa”.

O compositor Junior Fionda celebrou a oportunidade de dividir a autoria com grandes nomes. “Conseguimos juntar gerações diferentes, todos com a mesma vontade: entregar o melhor samba para o maior presidente da história do país. Para mim, foi uma honra imensa, talvez a maior da minha vida”.

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Sobre o encontro com Lula, o compositor se emocionou: “Foi a realização de um sonho. Ver o presidente chorar com a lembrança da Dona Lindu foi perfeito. Era um grupo de meninos do subúrbio e da periferia emocionando o presidente da República. Inesquecível”.

Compositor experiente das disputas de samba, Lequinho destacou a emoção de ver Lula reagindo à obra. “Logo no início, quando o samba fala do momento em que a mãe pegou os filhos pelos braços e foi para São Paulo, ele começou a chorar. Foi marcante, porque vimos que alcançamos o que pretendíamos”.

Segundo o compositor, a narrativa pelo olhar da mãe do presidente deu o tom sentimental da obra. “O refrão do meio é muito especial, porque além de contar a história dele, conseguimos citar outros personagens importantes na democratização do país”.

Wallace Palhares: ‘Sou fruto dos programas sociais’

Presidente da Acadêmicos de Niterói, Wallace Palhares defendeu a escolha do enredo e citou a própria trajetória como reflexo das políticas de Lula. “Eu cresci na favela do Fumacê, em Realengo, e tive a oportunidade de estudar graças aos programas sociais do governo Lula. Nada mais justo do que exaltar quem fez isso por milhares de brasileiros”.

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Sobre críticas de que a escola não teria comunidade, foi categórico: “Eu convido todos a conhecerem a escola. Existe, sim, comunidade em Niterói. No samba ainda há resistência ao novo, mas acredito que quanto mais novidades, mais o samba cresce”.

Tiago Martins: ‘Quero fazer o melhor carnaval da Sapucaí’

O carnavalesco Tiago Martins ressaltou a identificação pessoal com a trajetória de Lula. “Venho de uma família pobre e, pesquisando mais sobre a vida dele, fui me identificando ainda mais. É uma honra falar de um grande estadista e quero fazer o melhor carnaval que a Sapucaí já viu”.

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Martins reforçou que está cuidando de cada detalhe do projeto. “Quero ousar, entregar fantasias e alegorias de bom gosto, mas com leitura clara. O samba já é grandioso e vai estar na boca do povo”.

Emerson Dias: ‘Vamos mudar a história das escolas que sobem’

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O intérprete oficial da Niterói, Emerson Dias, celebrou seu retorno à escola em um momento histórico. “Tenho certeza de que vamos pisar na Sapucaí para mudar a história das escolas que sobem e caem no ano seguinte. Nossa meta é dar uma outra direção a isso”.

Saulo Tinoco: ‘Não pode ser só visual plástico’

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Diretor de carnaval, Saulo Tinoco reforçou que o desfile será além do visual. “Estamos falando de um ícone. Esquece o lado político: Lula é a história de alguém que saiu do sertão e conquistou o mundo. Vamos entregar um desfile plástico, mas também humano e emocionante”.

Marcelinho Emoção: ‘A paixão pelo Lula vai guiar o canto’

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Na parte da harmonia, Marcelinho Emoção mostrou confiança no canto da comunidade. “Nós vamos trabalhar a paixão e o amor que os componentes sentem pelo enredo e pela homenagem ao Lula. Essa paixão vai guiar o canto e a evolução”.

Emanuel e Thainara: ‘Representados pela trajetória do Lula’

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos de Niterói, Emanuel e Thainara, chega ao Grupo Especial com a missão de traduzir em dança a força do enredo que homenageia o presidente Lula. A dupla, que recebeu o convite diretamente do presidente Wallace Palhares, não escondeu a emoção de alcançar esse momento.

“Foi uma surpresa muito grata quando recebemos a ligação. É como uma coroação do trabalho que vínhamos construindo no Acesso e, agora, chegar ao Especial com a Niterói é ainda mais especial. E, para mim, estar ao lado do meu mestre-sala torna tudo ainda mais lindo”, afirmou Thainara.

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Mais do que a técnica, o casal carrega uma identificação profunda com a trajetória do homenageado. Emanuel destacou que até os trajes ganharam um toque especial: “Em todos os enredos tentamos homenagear também com os nossos trajes. Quando soubemos que seria sobre o Lula foi maravilhoso”.

Já Thainara lembrou que a história do ex-presidente ecoa no coração do samba: “Quem é do samba geralmente vem de muita luta, da periferia, e dá valor às oportunidades que o Lula possibilitou ao povo pobre. Eu sou cria do morro, meus pais não tiveram a chance de estudar, e graças a políticas públicas pude me tornar mestre em Educação. Muitos sambistas vão se reconhecer nessa história”.

Na preparação, o casal encara o desafio da cabine espelhada, novidade que exigirá ainda mais técnica e adaptação. “Na dança de mestre-sala e porta-bandeira são 40 pontos avaliados em apenas duas pessoas. Toda inovação é um desafio, mas é também uma oportunidade de mostrar coragem e criatividade. Vamos arriscar, mas sempre respeitando a tradição”, destacou Emanuel.

O samba, segundo eles, já se tornou trilha sonora da família. “É um samba melódico, que pede a dança. Estamos ensaiando com muita fome de ensaio, e meu filho já canta em casa. A comunidade pode esperar um casal que vai defender esse pavilhão com unhas e dentes, levando a Niterói a voos ainda mais altos”, garantiu Thainara.

Mestre Branco Ribeiro: ‘Vamos trabalhar em cima da melodia do samba’

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O comandante da bateria, mestre Branco Ribeiro, destacou que o ritmo vai valorizar a melodia da obra. “Nosso trabalho estará todo voltado em cima da melodia, com arrojo, mas respeitando a base. Teremos ainda a direção musical do Vitor Alves para garantir coesão com o carro de som”.

Handerson Big: ‘Uma comissão de frente para todos os lados’

Responsável por abrir o desfile da Acadêmicos de Niterói, a comissão de frente carrega a assinatura de Handerson Big e Marlon Cruz, dupla formada a partir da confiança do presidente Wallace Palhares no trabalho que ambos vinham realizando no Grupo de Acesso. “O Palhares já conhecia o que fazíamos, eu na Vigário Geral e o Marlon no Império Serrano. Ele perguntou se eu trabalharia com o Marlon, eu disse que sim. Do mesmo jeito ele perguntou a ele sobre mim, e não houve problema. Juntou, deu certo”, contou Big.

O entrosamento tem sido o combustível para o processo criativo. “Está muito bom, muito mesmo. Sempre existe aquela curiosidade: ‘será que vai dar certo?’. Mas temos plena noção do lugar que ocupamos e do que esse lugar representa. Hoje estamos assinando uma comissão de frente no Grupo Especial, e isso é muito importante para nós, que somos pretos e viemos da dança, do som da escola. É um espaço em que a representatividade ainda é rara. Nosso trabalho só tende a crescer: é um somando com o outro, é bem um ‘nós por nós’”, destacou.

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A proposta artística é construída a quatro mãos, sem divisões rígidas. “Tudo é muito junto. A ideia vem, a gente pensa, troca, constrói. Claro, como somos uma dupla, a logística até facilita: um resolve uma coisa, o outro outra. Mas tudo é em prol do trabalho”, explicou.

Além da parceria, o grupo encara o desafio da novidade da cabine espelhada, que vai exigir adaptações técnicas e criativas. Para Big, a mudança representa um marco de democratização: “A cabine espelhada é uma consolidação de algo que já vinha sendo pedido: uma apresentação em 360°, para que todo o público seja contemplado. Eu costumo dizer que ela vai democratizar as apresentações da comissão de frente e também dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. É novidade, claro, mas no acesso já buscávamos contemplar todos os lados. Agora é só juntar essas experiências e potencializar”.

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