Por Geissa Evaristo. Fotos: Magaiver Fernandes
A final de samba da Viradouro é um dos eventos mais caprichados do ano em uma quadra de escola de samba. A apresentação dos segmentos é pensada como um formato de pocket-show para tornar o momento mais atrativo. O espetáculo preparado pela vermelha e branca na quadra, nunca antes havia sido visto em finais de samba, exceto na própria Viradouro em 2019. Pelo segundo ano consecutivo, a direção da escola conseguiu promover um grande evento para escolher seu hino do desfile de 2020. Tudo feito com muita atenção e perfeição, totalmente de acordo com a temática do enredo. Uma final de samba para ficar na história e na memória dos presentes.
Ao entrar na quadra o folião já sentia o clima do evento. Barracas de comidas baianas formavam uma espécie de praça de alimentação. Banner personalizado desejava boas vindas ao público. Baianas e Harmonia usavam em seus figurinos a mesma estampa das roupas das ganhadeiras, personagens do enredo 2020. Ao abrir os portões, rodas de capoeira recebiam o público, que logo em seguida pode prestigiar e se emocionar com um musical das Ganhadeiras de Itapuã no palco. Tudo pensado e organizado minuciosamente como um grande espetáculo.
O show da Viradouro ganhou ares de super produção e incendiou o bairro do Barreto. Saindo completamente do show tradicional das escolas de samba visto nas quadras, a vermelho e branco saiu da mesmice inovando e mostrando que o brilho no olhar não só voltou, como continuou. Zé Paulo se transformou em vários personagens: Pedro Alvares Cabral, cantor baiano e São João Batista. Multifacetado, o intérprete exibiu todo seu talento cantando inúmeras obras marcantes na história da vermelho e branco de Niterói. O espetáculo assinado por Valci Pelé, mais uma vez, foi uma aula de cultura, tradição e amor ao carnaval.
Mestre Ciça e seus ritmistas foram um espetáculo à parte. Vivendo novamente um momento espetacular no carnaval, eles fizeram toda a diferença no espetáculo. Completamente em sintonia com o carro de som, foi da bateria a responsabilidade de colocar todo mundo pra sambar, como por exemplo na execução do samba-enredo 1997 e a paradinha funk de mestre Jorjão. Em uma espécie de elevador, dois ritmistas foram alçados ao alto da quadra e fizeram solo no Timbal para delírio do publico.
Passistas se transformaram em ciganas, crianças em palhaços, passistas masculinos em índios. Todas as apresentações tiveram o auxílio de um luxuoso telão de led que interagia com o elenco, alterando a cena proposta. Fogo, balões de gás, efeito com fumaças e fogos artificiais completaram o verdadeiro espetáculo da escola de Niterói. Em reportagem ao site CARNAVALESCO, Valci contou que o elenco ensaiou desde maio. Tudo isso para que a festa ficasse à altura do que a Viradouro planeja e pensa enquanto escola de samba em seu novo perfil.
“A proposta do projeto foi levada ao presidente em maio. Ele me disse que eu poderia sonhar que ele realizaria o meu sonho. Sabemos que a mão que move o mundo é o dinheiro, mas se não arregaçar as mangas, trabalhar e ter talento, nós não chegamos em lugar nenhum, mesmo com dinheiro. Tudo que usamos nos nossos elementos cenográficos qualquer escola de samba tem: serralheiro, ferreiro, material humano. Aqui não tem nada além que nenhuma outra escola não tenha. É um trabalho de cinco meses para o público e para o carnaval. Iniciei a pesquisa dos sambas, elementos cenográficos, iluminação e efeitos em maio. O sonho foi realizado em prol da instituição. Agradeço ao maestro Jorge Cardoso e ao mestre Ciça por casarem o ritmo com a dança. Ao nosso intérprete Zé Paulo por gostar de interagir e estar inserido no espetáculo, meus passistas que viraram dançarinos no musical. Toda a equipe envolvida, minha gratidão”, explica Valci Pelé.
A Viradouro será a segunda escola a desfilar no domingo de carnaval com o enredo “Viradouro de alma lavada” de assinatura e desenvolvimento dos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon.