Guará Sant’anna, o compositor que é fio condutor do enredo “O esperançar do poeta” da União de Maricá, vem retratado no carro abre-alas, chamado “Tempo de compor”. Um carro coloridíssimo, que emana esperança com beija-flores reluzentes, um homem negro com um violão no topo do carro, cercado de dois meninos negros flamenguistas, com o cabelo descolorido, meninos que admiravam ou se tornaram esse homem. Homem esse que representava o compositor negro.
Ao analisar o abre-alas, Bianca Maia, falou sobre a representatividade do carro para o carnaval e para o enredo da escola:
“O carnaval, como um todo, já é um movimento de resistência, já é um movimento negro desde a sua origem. E quando a gente vê uma escola como a Maricá, que não é propriamente da região metropolitana, trazendo a temática que quer questionar isso, é muito importante. Porque o carnaval nasceu disso, do protagonismo negro, de pessoas como eu brilhando na avenida. O enredo da Maricá é sobre isso, sobre fazer a gente brilhar, sobre fazer a gente ser o protagonista da nossa história. E isso é lindo, isso é maravilhoso, e eu espero que o Maricá vá longe e consiga chegar no Grupo Especial”, pontuou a economistas de 37 que veio compondo o abre-alas.
Iara Sant’anna, de 47 anos, filha de Guará, veio ao lado da sua filha em cima do abre-alas homenageando seu pai, falecido em 1988, com apenas 33 anos:
“Estar aqui é uma emoção que não cabe no peito. Eu acho que a escultura que está ali representa muito bem meu pai. Se ele estivesse aqui agora conosco, escreveria vários versos, a luz de velas, a luz natural, a luz de Deus, a luz de todos os santos. E estaria iluminando muito mais o samba de raiz, o pagode, a MPB e tudo mais. Eu sei que de onde ele estiver, com minha mãe e meus irmãos, ele está feliz”, contou Iara emocionada.
Apesar da breve vida, Guará deixou composições de sucesso, como “Sorriso Aberto”, “Problema Social” e “Singelo Menestrel”, além de sambas enredos premiados, como, “33 – Destino Dom Pedro II”, de 1984 e reeditado em 2022 pela Em Cima da Hora, e dois da Acadêmicos do Engenho da Rainha, em 1985 e 1986.
“Por um tempo andei desacreditada, mas eu nunca esqueci que ele deixou um legado, os poemas que ele vivia, seja da boemia dele, pois ele era muito boêmio, mas muito inteligente, ele era um gênio, ele era temporal, ele era a frente do seu tempo, literalmente. Se ele estivesse aí hoje, seria um Cartola, um Candeia da vida, estaria com os grandes. Mas ele está vendo tudo isso. O que a Maricá está fazendo é lindo, eu sou muito feliz pela Maricá lembrar do meu pai, por isso que a Maricá é um país”, finaliza Iara.