Arrebatador, assim pode ser definido o desfile da Acadêmicos do Grande Rio, cercada de muita expectativa, a escola realizou um dos desfiles mais completos de sua história, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora apresentaram um trabalho de alto nível estético. O samba, muito elogiado no pré-carnaval, foi impulsionado pelo desempenho incrível de Evandro Malandro e da bateria de Mestre Fafá. A escola de Caxias entrou na avenida com muita garra, mostrando que estava disposta a brigar pelo tão sonhado campeonato e saiu com a sensação de dever cumprido. O início da escola foi esplêndido, a comissão de frente encantou e impactou o público, assim como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, que passou perfeito por toda a avenida. A agremiação saiu da avenida sendo ovacionada pelo público e com a certeza de que brigará pelo título. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Apresentando o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exú” assinado pelos carnavalescos, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, a tricolor de Caxias foi a quinta escola a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A escola terminou sua apresentação com 68 minutos.
Comissão de Frente
A comissão de frente, coreografada pelo casal Hélio e Beth Bejani, foi intitulada “Câmbio, Exu” e mais uma vez encantou o público, a apresentação contou o enredo com maestria, através de um belíssimo trabalho de concepção e realização. Exu foi o primeiro a pisar na avenida, um componente representava o orixá e o restante o povo de rua, a premissa partiu do olhar de Estamira, catadora do lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, ela conduziu a apresentação. Em seu universo, o imaginário de Estamira conferia a Exu o poder da recriação do mundo e a reorganização do caos. O tripé utilizado era o próprio lixão, o trabalho de cenografia impressionou pelo uso de materiais pouco convencionais, no elemento alegórico havia um globo terrestre e em frente às cabines de julgamento, Exu abraçava o mundo era elevado, já no alto, ele se alimenta, a entrega do componente que representa Exu impactou o público, na parte de baixo do carro, os dançarinos usavam as cabaças como pêndulos, simulando um transe. Em todas as apresentações, a comissão arrancou aplausos, inclusive dos jurados.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, deram um show na avenida, esbanjando carisma, a dupla se apresentou com bastante segurança em todas as cabines de julgamento, a fantasia dialogava com as divindades envolvidas no processo de criação do mundo através de Olodumaré, Oduduwa e Exu. A roupa do casal contribuiu para a beleza da dança, o branco, o prata estavam presentes e a saia de Taciana possuía penas pretas e laranjas.
Taciana realizou belíssimos giros e manteve sempre o pavilhão bem esticado, Daniel também se destacou ao realizar os movimentos com bastante agilidade e precisão. Ambos demonstraram ter muita confiança um no outro e apenas no olhar se entendiam. A dupla uniu a dança tradicional com a modernidade, e em alguns momentos arriscaram passos mais coreografados, nos passos, eles realizaram movimentos de Exu e Oxalá, durante a apresentação ambos demonstraram muita leveza, sincronia e garra, levantando e empolgando o público.
Harmonia
A abertura da escola foi muito forte, as primeiras alas cantavam o samba com muita empolgação e vibração, e a Sapucaí inteira acompanhou, vale destacar a ala de abertura da escola, “Mar de Dendê”, mesmo volumosa, os componentes gritavam o samba. As baianas vieram logo atrás da segunda ala e as senhoras de Caxias evoluíram com muita graciosidade pela avenida, foi observado um canto muito forte das matriarcas. O mesmo vale para a ala de passistas, extremamente bem vestidos, as moças e rapazes deram um show e levantaram o público durante a passagem da escola. No geral, nenhuma ala passou sem cantar, a escola apresentou um canto extremamente uniforme e animado.
Enredo
Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad foram os responsáveis por desenvolverem o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, a dupla optou por levar para avenida sete setores, uma referência às sete chaves de Exu. Apesar de denso, o enredo passou pela avenida de forma muito clara, as alegorias e fantasias conseguiram passar com clareza a história que era contada. O primeiro setor do desfile começou em movimento, dividido em dois momentos, a presença de Exu nos mitos de criação e depois o Exu enquanto potência das encruzilhadas. O segundo setor retratou as raízes de Exu em solo brasileiro, o terceiro celebrou o Orixá enquanto energia das trocas, o quarto setor da escola saudou o povo da rua, tendo a Lapa como centro, o quinto foi as festas, folias e carnavais, o penúltimo setor retratou as obras em que Exu foi inserido, sejam elas literárias, pinturas, esculturas, músicas e etc. O último setor traz o lixo, ele retrata a energia de que Exu circula por espaços associados a quem é rejeitado pela sociedade.
Evolução
Em um ano marcado por evoluções problemáticas, a Grande Rio passa avenida deslizando, nenhum contratempo foi observado, as alas e alegorias passaram pela pista com extrema facilidade, os componentes evoluíram com alegria, foi um show da comunidade de Caxias, a escola, que no último carnaval perdeu o título neste quesito, parece ter aprendido com os erros e se apresentou de forma organizada, mas sem perder a leveza.
Samba-Enredo
Cotado como a obra mais completa da safra deste ano, o samba da parceria de Gustavo Clarão e companhia superou todas as expectativas e rendeu muito bem do início ao fim. Mérito da atuação de gala do intérprete Evandro Malandro. Certamente foi a melhor uma das melhores atuações de sua carreira. O carro de som também merece destaque, o entrosamento com a bateria do mestre Fafá impulsionou ainda mais o canto da escola. O samba foi um dos pontos vários pontos positivos da escola, além dos refrões, algumas partes da obra se destacavam, principalmente o ínicio, com o “Boa noite moça, boa noite moço” e “Ô luar, ô luar… Catiço reinando na segunda-feira”, na boca do povo, o samba tem tudo pra render ainda mais no desfile oficial.
Alegorias e Adereços
A escola contou com cinco alegorias e dois tripés, a estética dos carros impressionou, a dupla de carnavalescos, que já criou uma identidade, realizou um trabalho impecável nas alegorias da escola, com um estilo próprio e único, a dupla mostrou que é possível fazer um projeto rústico ser bonito. Foi observado um acabamento muito bom nos carros, os materiais utilizados e a riqueza de detalhes foram um bálsamo para os olhos.
A primeira alegoria da escola, “A grande encruzilhada: barcas dos Exus e assentamentos”, causou um impacto logo na abertura, no alto do carro os componentes balançavam bandeirões, a segunda alegoria, “Chão de terreiro, axé de mercado”, passou apagada pelo primeiro módulo de julgamento, mas nada que tirasse seu brilho, nos demais setores a iluminação foi retomada.
O carro três, “Reinado Catiço”, trouxe a lapa e retratou de forma fiel a noite na região, a alegoria quatro, foi um dos momentos mais coloridos do desfile, chamada “Dobra o Surdo de Terceira”, ela trouxe um grande bate-bola na frente, a escola finalizou seu desfile com a representação do Lixão de Gramacho, os materiais utilizados foram diferentes do habitual e o efeito impactou o público. Vale mencionar ainda os dois tripés que a escola levou para a avenida, cada um com uma estética diferente, eles passaram perfeitos pela avenida.
Fantasias
Mais um show dos carnavalescos, o conjunto estético impressionou pela volumetria e facilidade de leitura, o requinte no acabamento também foi um dos destaques, o uso de cores se mostrou outro acerto da dupla, o início foi mais quente, com cores puxadas para o alaranjado, no setor que representava as raízes de Exu em solo brasileiro, as cores verdes foram usadas, assim como o uso de bastante palha nos costeiros. As fantasias abusaram de farrapos e pedaços de tecidos, como a das baianas, representando um ponto de Exu, elas vestiram uma fantasia de extremo bom gosto e acabamento. Várias poderiam ser as fantasias a serem destacadas, ficam o registro para a primeira ala, “Mar de Dendê”, a quinta, “Oráculo de Ifá”, que apresentou um volume muito grande na avenida, a ala 18, dos bate-bolas e também para a ala 22, “Se for de paz pode entrar”, os estandartes eram enormes e causou um efeito visual maravilhoso.
Outros Destaques
Um dos principais destaques da escola, a bateria invocada comandada pelo Mestre Fafá, com a fantasia “Nunca foi sorte, sempre foi Exu”, a bateria impulsionou o canto da escola e brincou durante todo o desfile, com um repertório vasto, apresentou várias bossas ao longo da passagem pela avenida, durante uma bossa os ritmistas paravam de tocar para que o canto da escola se sobressaísse, em outros momentos foi observado pequenas coreografias, o suficiente para empolgar o público por onde passaram.
Pelo segundo ano consecutivo à frente dos ritmistas, Paolla Oliveira brilhou mais uma vez como rainha, a fantasia evocava a Magia das Pombagiras e a atriz encantou o público por onde passou.
A escola de Duque de Caxias tradicionalmente leva muitas personalidades da mídia para a avenida, neste ano não foi diferente, podemos destacar a presença das musas Bianca Andrade, Camila de Lucas e Pocah, outra figura que levantou o público foi Gil do Vigor.