Chegou o que Faltava, Mocidade Unida da Glória e Independentes de Boavista fizeram desfiles de alto nível e devem decidir ponto a ponto quem ganha o título. Sete agremiações desfilaram no Sambão do Povo numa noite que teve momentos de chuva forte. Confira como foi cada apresentação.
Unidos de Jucutuquara
A Unidos de Jucutuquara falava das emoções, mas foi o nervosismo que marcou seu desfile. Ele já começou cinco minutos depois de o relógio ser disparado. Ao longo da pista algumas alas estavam com fantasias incompletas e o acabamento das alegorias, especialmente da última, deixou a desejar. Um problema que também afetou o tripé da Comissão de Frente, que pareceu deslocado do resto da coreografia.
O primeiro casal, formado por Marina Zancheta e Marcos Paulo, foi um dos destaques positivos do desfile, embora tenha perdido parte da indumentária na primeira cabine. O intérprete Edu Chagas, ainda assim, conseguiu se comunicar bem com o público e a arquibancada respondeu.
A bateria teve problemas para se apresentar em todos os módulos devido à condução confusa da evolução, que também fez os componentes acelerarem exageradamente o passo após a saída do primeiro casal.
Chegou o que faltava
Impecável. A escola de Goiabeiras jogou o sarrafo lá no alto com o enredo “Da lama sai muito barulho”, do carnavalesco Vanderson Cesar. Trabalho estético do mais alto nível desde a paleta de cores, passando pelo acabamento perfeito e luxuoso de todos os elementos visuais e, claro, incluindo a criatividade e a pertinência de cada fantasia e alegoria.
Mesmo sob forte chuva a “Chegou” fez um desfile de evolução fluente e não teve intercorrências ao longo da pista. Tudo sob a voz firme de Igor Vianna cantando o belo samba de Júnior Fionda. Chegou chegando.
Unidos da Piedade
A Piedade soltou a criança que existe dentro de casa um de nós num desfile feliz, sorridente e sonhador para o enredo Ibeji. Escola raiz que é, pisou o Sambão do Povo com um “chão” invejável, que cantou e dançou com muita vontade embalado por um samba que facilitou o desempenho dos componentes.
O enredo foi bem desenvolvido, mas o visual estava apenas correto, sem grande brilho. A bateria fez o povo pular enlouquecidamente no “Setor E” das arquibancadas ao final da sua apresentação, marcada pelo caminhar lento do último carro.
Mocidade Unida da Glória
Em busca do tricampeonato e da décima estrela, a MUG pisou forte na avenida para apresentar o enredo “Jorge do povo brasileiro – o cavaleiro da capa encarnada”, do carnavalesco Petterson Alves. O recorte era a relação do povo brasileiro com o santo da Igreja Católica e seu correspondente no Candomblé, Ogum.
A escola fez um desfile mais uma vez muito competente, sem intercorrências e com todos os quesitos corretamente defendidos, deixando a avenida com a certeza de que vai brigar pelo título.
A bateria comandada pelos mestres João Henrique e Lucas mostrou o melhor ritmo da noite até então (com a melhor execução dos instrumentos e entrosamento entre eles) e fez bossas dentro da melodia do samba. E o vozeirão de Ricardinho da MUG ecoou pelo Sambão do Povo garantindo uma condução segura e vibrante do bom hino da escola.
O visual cumpriu o esperado sobre o enredo e trouxe fantasias com riqueza de detalhes, sempre despertando os olhares curiosos do público. Fogos de artifício simularam a alvorada de São Jorge e o papel picado da última alegoria ajudou a criar um clima de empolgação ao final da apresentação.
Novo Império
A bateria foi o destaque da Novo Império. Chamado de “Orquestra capixaba de percussão” , o time de Mestre Vinícius Seabra fez uma bossa com alto grau de dificuldade marcada pela conversa entre caixas e surdos que parava para que entrasse um ritmo de pagode quando o samba falava na mesa de bar.
O carro de som comandado por Danilo Cezar também chamou atenção pelo jogo de pergunta x resposta entre o cantor e seus acompanhantes no refrão de meio do samba. Danilo brincou de cantar samba-enredo.
O Novo Império fez um desfile marcado pela simplicidade nas fantasias e alegorias que, apesar disso, traduziram com boa leitura o enredo “As voltas que a vida dá”, do carnavalesco Osvaldo Garcia. A fantasia da ala das baixanas, representado a noite, foi uma das mais criativas.
A escola não deve brigar pelo título, mas brincou seu carnaval com leveza e alegria, sem atropelos.
Boavista
Ao amanhecer do domingo a Independente de Boavista brindou o público que continuava no Sambão do Povo com mais um belo desfile que briga pelo topo da classificação.
Com o enredo “Os Olhos do Mundo – Assombros de Sebastião Salgado”, do carnavalesco Cahe Rodrigues, a escola deu uma aula de carnaval em todos os quesitos. Do enredo, claramente desenvolvido; Alegorias e Fantasias de facílima leitura e excelente qualidade; bateria “reloginho”; Comissão bem coreografada e usando o elemento cenográfico como apoio da apresentação; casal entrosado, ensaiado e lindamente vestido; samba totalmente em sintonia com o enredo; evolução tranquila e correta.
Não foi empolgante devido ao avanço da hora, mas vai ser difícil tirar ponto dela. Briga.
Imperatriz do Forte
A campeã do Acesso de 2024 terá dificuldades para permanecer no Especial. A Imperatriz do Forte desfilou com apenas 16, das 30 baianaa exigidas pelo regulamento e perderá um décimo por cada uma que faltou.
O desfile também teve problemas visuais, especialmente nas alegorias, fruto provável de problemas financeiros. Mas a Imperatriz também teve seus méritos. O casal de Mestre-sala e Porta-bandeira formado por Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete fez uma das melhores apresentações do quesito na noite. O cantor Dodô Ananias conduziu o belo samba da escola com talento e comunicação. A criatividade do carnavalesco Rodrigo Meiners para o enredo “Só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor” apareceu em algumas fantasias com assinatura própria e paleta de cores bem diferente.