A Tijuca vem de carnavais difíceis, abaixo da história que ela construiu anos atrás. Desde o acidente numa de suas alegorias em 2018, deixou de disputar o título e tem frequentado a parte baixa da tabela. Também tem mostrado dificuldade para encontrar uma nova identidade após a “Era Paulo Barros”. Por isso é preciso recomeçar, como diz a letra do seu samba para 2025. Será que esse recomeço vai se dar com o enredo “Logun-Edé, santo menino que velho respeita”, de Edson Pereira?
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Depois da tentativa de voltar aos anos noventa com o enredo sobre Portugal do ano passado, a escola do Borel pegou o caminho dos temas ligados à afro-religiosidade ao contar a história de um Orixá esquecido pelos enredos até aqui. E não poderia ser mais apropriado, pois Logun Edé tem as mesmas cores que Tijuca (azul e amarelo) e um dos seus símbolos é o pavão. Um match perfeito!
A grande novidade é a presença da popstar Anitta, uma artista de sucesso internacional, também filha de Logun-Edé. Ela á uma das autoras do samba e vai potencializar a visibilidade da agremiação nesta tentativa de recomeço. A cantora não esteve sozinha nesta empreitada. Os renomados compositores de samba-enredo Gusttavo Clarão, Fred Camacho e Diego Nicolau formam a base da parceria, que conta também o cantor Feyjão, o cineasta Estevão Ciavatta e o arquiteto Miguel PG. Tudo isso com a participação do professor e compositor Luiz Antonio Simas. Um timaço!
Unidos da Tijuca divulga versão oficial do samba para 2025 com Anitta e Ito Melodia
Eles fizeram um samba simples, bonito e agradável. Uma obra que flui facilmente e apresenta com clareza a história e a personalidade de Logun-Edé. Fugindo de formas e melodias já muito usadas no gênero este samba tem passagens melódicas que lembram sambas de roda e a leveza de obras da MPB. Tem tudo para “furar a bolha”.
Os primeiros versos já contam a história do nascimento do homenageado, filho de Oxum e Oxossi. “Reflete o espelho, Orisun / Nas águas de Oxum / À luz de Orunmilá / Magia que desaguou na ribeira / E fez o caçador se encantar / Sou eu, sou eu / Príncipe nascido desse grande amor”.
Na sequência a poesia descreve as características do Orixá de forma direta e concisa. “Herdeiro da bravura e da beleza / É a minha natureza a dualidade e o fulgor / De tudo que aprendi, o todo que reuni / Fez imbatível a força do meu axé / Com brilho imenso, desafio o consenso, inquieto e intenso / Sou Logun-Edé”.
No refrão do meio os autores abordam a vinda de Logun-Edé, já encantado (morreu ainda jovem), para o Brasil através da fé dos escravizados. E aproveita para incluir um dos seus símbolos, o cavalo-marinho, na travessia em que saúda Iemanjá e aproveita para falar do povo de sua cidade, Ilexá ou Ijexá, como escrito na letra. “Oakofaê, Odoyá / Oakofaê, desbravei o mar / Não ando sozinho montei no cavalo-marinho / Abri caminho pro povo de Ijexá”.
Com melodia suave o samba segue, agora falando sobre a criação do culto ao Orixá em terras brasileiras, citando o terreiro de Kalé Bokum. “E no rufar dos Ilus, meu tambor / A fé no Kale Bokum assentou / A proteção de meus pais, ofás e abebés / Sou a Tijuca e seus candomblés”.
No trecho seguinte vem a referência às coincidência das cores e símbolo entre ele e a escola. “Um lindo leque se abriu, ori do meu pavilhão / Amarelo ouro e azul pavão”.
E a preparação para a explosão final traz o subtítulo do enredo e a mensagem do recomeço, de que falamos no início desta nossa prosa. “Orixá menino que velho respeita / Recebi sentença de pai Oxalá / Eu não descanso depois da missão cumprida / A minha sina é recomeçar”.
Quando chega o refrão principal, o samba tem uma mudança de narrador. Até aqui o próprio Logun-Edé se apresentava, mas neste trecho final é a “juventude do Borel” quem o exalta com o nome e seus chamados para anunciar que o está louvando. “Logun-Edé / Logum arô! / Logun Edé losi losi / Eru awô / A juventude do Borel / Desce o morro pra cantar em seu louvor”. Uma melodia que proporciona um canto alto e fácil e que ao mesmo tempo é suave.
Um samba que parece ter captado a essência de seu homenageado e que propõe uma mudança no estilo de desfile da Tijuca, com uma pegada mais poética e uma musicalidade diferente. Resta agora à escola entender este novo estilo e se adaptar a ele. Pode sim, ser um recomeço. Mas terá que se provar na avenida.