Por Marcos Marinho e Gabriel Radicetti
O Paraíso do Tuiuti cantou forte, na noite da última segunda-feira, quando realizou seu último treino antes do ensaio técnico na Marquês de Sapucaí. Sob chuva, a escola deu uma verdadeira demonstração de garra, energia e compromisso com o samba que conta a história de Xica Manicongo, tema do enredo desenvolvido por Jack Vasconcelos. A noite foi marcada por momentos memoráveis: a coreografia afirmativa da comissão de frente, a harmonia poderosa da comunidade e o brilho do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane, que fizeram o público vibrar com seu bailado preciso e repleto de simbolismo. Apesar de pequenos ajustes necessários na evolução, o ensaio impressionou pela potência do samba, a energia da bateria “SuperSom” e a presença vigorosa do intérprete Pixulé, que inflamou os componentes.
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André Gonçalves e Rodrigo Soares, diretores de carnaval, falaram ao CARNAVALESCO sobre o desempenho da escola no ensaio de rua e a expectativa para o ensaio técnico, que acontece no próximo sábado, na Marquês de Sapucaí.
“É um ensaio técnico, é um preparatório para o grande desfile que iremos fazer na Marquês de Sapucaí. Porém, hoje apresentamos todo o trabalho envolvido para sábado. Iremos apresentar um belíssimo espetáculo mais uma vez para o nosso ensaio técnico. O nosso chão tá maravilhoso, tá muito forte e é o que nós vamos levar para a Sapucaí. A gente hoje tá vindo de uma escola bem-preparada, bem mais firme, bem segura. E com o canto, que é o mais importante hoje numa escola de samba. Para o mundo do samba hoje, o nosso canto é muito importante”, avaliou André.
“Apesar da chuva, eu achei o ensaio muito bom. A comunidade respondeu da maneira que a gente precisava que ela respondesse. A cada dia que passa, a cada semana que passa, o samba ganha força, o conjunto da escola, bateria, samba ganham força. A gente procura um casamento perfeito com todas essas partes da escola, todas essas partes do samba, segmentos, carro de som. É uma crescente muito boa que a escola tá vivendo. Debaixo de uma chuva torrencial, a comunidade respondeu muito bem. O samba tá muito bem. A bateria nem se fala… O que me deixa satisfeito é ver a comunidade brincando muito com o samba”, comentou Rodrigo.
Com o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”, a agremiação será a segunda escola a desfilar no inédito terceiro dia de desfiles do Grupo Especial.
Comissão de Frente
Com movimentos “exusíacos”, a comissão de frente, coreografada por Claudia Mota e Edifranc Alves, foi um dos destaques da noite. O coletivo trouxe uma performance de afronta e empoderamento. O clímax da coreografia ocorreu no momento em que um dos elencos, composto exclusivamente por pessoas trans, de pé e com os punhos cerrados, cantou forte o trecho do samba: “Eu sou a transição”, reconhecendo nos corpos dissidentes que dançam a força de Xica Manicongo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Outro destaque da noite, a dupla Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane apresentou muita vitalidade na dança de mestre-sala e porta-bandeira. O encantador bailado do casal, combinado à precisão na finalização dos giros, chama a atenção pela excelente execução. O mestre-sala riscou no chão da rua os pontos da encruzilhada para que a ancestralidade se fizesse presente nos giros da porta-bandeira. No momento do samba em que a Tuiuti evoca as pombagiras Navalha, da Praia, Padilha e Mulambo, Dandara dá 7 giros com o pavilhão amarelo e azul fazendo o público vibrar com palmas, gritos e movimentos de ombros. É notório como o casal chega bem entrosado para o seu quarto carnaval juntos no Paraíso do Tuiuti.
Harmonia e Samba
O grande destaque da noite foi o canto dos componentes, impulsionado pelo excelente e incansável trabalho do intérprete Pixulé e sua equipe do carro de som, que conseguiu contagiar o público, mesmo sob chuva. Além dos refrões, o trecho “Eu travesti / Estou no cruzo da esquina / Pra enfrentar a chacina / Que assim se faz” foi cantado com convicção pela comunidade. A paradinha realizada pela “SuperSom”, do mestre Marcão, evidenciou que a comunidade está com o samba na ponta da língua e com a energia necessária para cantar e contar a história de Xica Manicongo no carnaval da Marquês de Sapucaí. Contudo, ao final do ensaio, com a evolução mais lenta, houve uma oscilação na harmonia da escola, culminando na cena inesquecível de Pixulé no meio das alas, incendiando os componentes, que logo revigoraram o canto.
Evolução
A evolução da escola apresentou algumas oscilações ao longo do percurso pelo Campo de São Cristóvão. Do Colégio Pedro II até a loja Caçula, a escola manteve um bom ritmo, mas, a partir dali, o desfile ficou mais lento, refletindo na harmonia. Essa redução de velocidade deve ser vista com atenção no ensaio técnico. Com mais agilidade, a escola conseguirá alinhar a evolução com a energia do canto e da bateria, garantindo um desfile ainda mais impactante na Marquês de Sapucaí.
Outros Destaques
Pixulé deu um verdadeiro show de animação no ensaio. Durante o segundo recuo, o intérprete cantou frente a frente com os componentes da escola e, tomado pela empolgação, entrou no meio das alas para interagir e brincar com a comunidade. Sua energia contagiou a todos e reforçou o espírito vibrante do Tuiuti. No fim do ensaio, ele falou ao CARNAVALESCO sobre o treino da escola.
“A escola está prontinha! A escola está cantando, evoluindo, tudo se encaixando, bateria, carro de som, tudo perfeito. Não tenho o que falar. Agora é só aguardar o dia 01 [de fevereiro] na Sapucaí que está todo mundo esperando Xica Manicongo. É isso que importa: está todo mundo can-tan-do! Detalhe: não é só a escola que está cantando, o público presente também soltando a voz. Tuiuti será a primeira escola a pisar na Sapucaí, no sábado, para o ensaio técnico. Acho que será o ápice”.
A bateria, comandada pelo mestre Marcão, fez uma passagem marcante e descontraída. Junto com a equipe de Pixulé, a “SuperSom” foi responsável por manter a vibração do componente lá em cima. Na saída do segundo recuo, já no fim do ensaio, mestre Marcão e os ritmistas saíram em câmera lenta, num movimento descontraído que arrancou sorrisos de quem acompanhava o entrosamento da bateria.
A rainha Mayara Lima abrilhantou a noite de ensaio, interagindo com a “SuperSom” e o público presente com muito samba no pé. Carismática, ela convidou as crianças da comunidade para sambar junto com ela à frente da bateria. Momento em que a realeza do Tuiuti exalta os sambistas mais novos da agremiação.