A história está sendo feita no mundo do samba paulistano. Homenagear baluartes importantes é uma obrigação do sambista, mas eternizá-los, é digno de grande reconhecimento. Foi isso que a Liga-SP realizou na noite desta última segunda-feira. Na internet, uma votação havia sido aberta para dar nome à Fábrica do Samba e as alamedas que compõem o espaço. Madrinha Eunice, Eduardo Basílio, Talismã, Juarez da Cruz, Seo Nenê e Pé Rachado são os nomes que foram para enquete popular. Sendo assim, famílias dos saudosos sambistas que tanto contribuíram para o carnaval e suas agremiações, compareceram na sede administrativa da Liga e receberam grandes homenagens.
O senhor Fernando Penteado, que faz parte do departamento de velha-guarda, discursou sobre todos os homenageados e contou histórias vividas com os mesmos. Ele foi o responsável por ‘apresentar’ a cerimônia.
O presidente Sidnei Carrioulo foi um dos idealizadores dessas honrarias. De acordo com o mandatário da entidade maior, é importante resgatar a memória. “É um resgate que a gente vem realizando com a velha-guarda da casa. Esse é só o começo, vamos tentar nos aprofundar mais nisso. Vamos valorizar todos aqueles que fizeram pelo samba e esse é o objetivo de resgatar a memória do carnaval. É uma coisa que eu venho tentando desde 2008 com a criação da academia dos baluartes. É fundamental, necessário. É a primeira vez que a Liga faz alguma coisa que todo mundo gosta. A gente está crescendo em termos de espetáculo, mas não podemos abandonar a parte cultural e raiz. Afinal de contas só chegamos aqui porque mantemos essas tradições. Estou feliz pela felicidade dos outros”, disse.
Deolinda Madre (nome do Complexo)
Pode-se afirmar que foi a principal homenageada no dia de hoje. A Fábrica do Samba foi uma luta de muitos anos. Quando foi entregue, só uma parte estava pronta e, a obra completa, só foi concluída recentemente. É um espaço em que se faz tudo hoje. Diversos eventos, sede administrativa da Liga e, claro, 14 modernos barracões para produzir carnaval com a maior excelência. Tudo isso contribui para o espetáculo.
Portanto, colocar o nome de Madrinha Eunice na Fábrica, é um marco. Um sinal de que toda luta dela pelo samba paulistano foi reconhecida. Foi a primeira mulher a fundar e presidir uma escola de samba. Se o empoderamento feminino vem crescendo, com Eunice já existia nos anos 30, quando o samba era marginalizado.
Rose, neta da saudosa sambista, falou com o CARNAVALESCO da emoção em receber tal homenagem em nome de sua avó. “Para mim é uma grande emoção e um grande orgulho saber que ela representa todo esse Complexo das escolas de samba. O samba de São Paulo hoje está sendo muito bem representado. Por ser Complexo do samba, onde estão todas essas entidades maravilhosas, não tem preço. Estou muito grata e feliz”, declarou
Eduardo Basílio (sede administrativa da Liga-SP)
Histórico presidente da Rosas de Ouro, ‘Seo Basílio’ também presidiu a Liga e fez muito pelo samba paulistano. A homenagem foi entregue para Angelina Basílio, sua filha e atual mandatária principal da ‘Roseira’.
De acordo com Angelina, dá mais resistência ao povo do samba. “Sem palavras. Eu fiquei muito feliz, porque a Liga e o presidente Sidnei estão nessa intenção de homenagear os ‘antepassados’. Isso é muito porque é ancestralidade. Agora as alamedas têm nomes, o Complexo Fábrica do Samba tem nome e a Liga também. Isso dá mais resistência a tudo. Agora o senhor Eduardo Basílio dá nome à sede administrativa”, comentou.
Octavio da Silva (Talismã)
O sambista em questão, foi um dos percussores para o crescimento do Camisa Verde e Branco. Era carnavalesco e fez grandes sambas na história da agremiação, participando da transição de cordão carnavalesco para escola de samba. O filho do baluarte, Octavio da Silva Júnior, disse que o nome dele combina bastante com o que lhe foi imposto. “É uma grande honra receber essa homenagem, sobretudo porque o Talismã estava invocado com as mudanças dos cordões para o que é atualmente. Ele era acima de tudo um carnavalesco e, dentro do contexto da Fábrica do Samba, seu nome está bem representado”, contou.
Alberto Alves da Silva (Seo Nenê)
Essa lenda do carnaval paulistano, ganhou um nome na alameda que fica logo na entrada da Fábrica do Samba, onde se localiza o primeiro barracão, que hoje é ocupado pelo Camisa Verde e Branco. Nenê é o único baluarte a ter o seu próprio nome de sambista colocado em uma agremiação. Ele fez a entidade da Zona Leste crescer a ponto de se tornar uma das referências do carnaval paulistano. Hoje, mesmo desfilando no Acesso I, a Nenê de Vila Matilde é, ao lado da Mocidade, a segunda maior campeã, muito por conta do trabalho de Alberto Alves.
Adalberto Alves da Silva, filho mais novo de Nenê, que também trabalhou anos no mundo do samba, agradeceu a homenagem ao seu pai. “O sentimento é de muita gratidão. Eu estava conversando com um dos filhos de sua Juarez, e dois filhos dele foram meus alunos. E o senhor Juarez trabalhou comigo e com meu pai no Anhembi no acervo cultural. Isso quer dizer que se está sendo criada essa iniciativa, porque foi uma eleição na internet. Isso foi para jovens. Então os jovens sabem de tudo o que foi feito lá atrás. Assim como o presidente estava falando, tem mais gente. O samba tem muitas pessoas que contribuíram, mas isso é importante e é lindo. Isso quer dizer que o carnaval de São Paulo não acaba”, declarou.
Juarez da Cruz
Um dos maiores, Juarez tem a fama de ter ajudado imensamente no crescimento da Liga-SP, sendo um dos presidentes da história da entidade. Além disso, o eterno sambista fundou a Mocidade Alegre, que hoje é uma das maiores potências do carnaval brasileiro.
Toda a família de Juarez da Cruz esteve, que honra o legado e faz parte da Mocidade Alegre, esteve presente na confraternização. A presidente da Morada, Solange Cruz, fez um discurso. Nele, contou histórias e agradeceu bastante o seu tio. A placa da alameda ficará bem ao lado do barracão da escola
Tina Cruz, filha mais velha de Juarez, falou da sensação e importância da lembrança do seu pai eternizada. “Foi muito importante. Estou aqui com meus irmãos e nós estamos eternamente lisonjeados com isso e vai ser um nome eternamente lembrado. Era um dos patamares do meu pai. Ele queria que os sambistas fossem lembrados e respeitados. Isso é importante porque ele foi lembrado. Só tenho a agradecer a Liga”, enalteceu.
Pé Rachado
Sebastião Eduardo Amaral, o Pé Rachado, foi um grande sambista do Vai-Vai, presidindo a escola nos anos 60. Após, fundou a Barroca Zona Sul, no qual apelidou de ‘faculdade do samba’, para ensinar sambistas a aprender a cultura. Na homenagem, esteve a família para receber a placa da alameda, que fez um pequeno discurso, mas quem falou mesmo foi o Zé Carlinhos, integrante do Vai-Vai e um dos maiores vencedores de concurso de samba-enredo da escola. Na fala em público, o compositor disse que o sambista imortal foi quem o incentivou para se tornar escritor de sambas.