sossego2020

Nome do enredo: Os Tambores de Olokun
Nome do carnavalesco: Marco Antonio Falleiros

Sossego canta os tambores da identidade e da religiosidade

O enredo da Sossego para o ano de 2020 é uma celebração às origens sagradas
do maracatu, manifestação cultural brasileira, nascida em Pernambuco. O maracatu teria
se originado a partir das cerimônias onde xs africanxs angola-congoleses escravizados
remontavam a coroação dos reis e rainhas do Congo. A eleição do rei e da rainha era
feita na igreja de Nossa Senhora do Rosário e em seguida saiam às ruas desfilando o
cortejo real, demonstrando, a princípio, características culturais. O rei e rainha
escolhidos passariam a representar xs negrxs, sendo estes livres ou escravxs. No
período de carnaval, xs escravxs podiam sair para manifestar em público suas tradições
e sua fé, celebrando a coroação da corte. O maracatu é reconhecido como uma prática
cultural de negrxs, relacionado às religiões de terreiros (candomblé, jurema e umbanda),
pois xs escravxs colocavam no cortejo elementos religiosos.

Pelo texto percebe-se que o enredo abordará a diáspora africana, para isso usa o
oceano como elemento integrador. O oceano liga a África ao Brasil, traz ancestralidade.
Foi por onde xs africanxs chegaram escravizadxs em terras brasileiras, trazendo
sabedorias, culturas e religiosidades, como por exemplo o Osha-Ifá, religião que cultua
o orixá Olokun, senhor dos oceanos. Na cerimônia do ‘Ilu-Olokun’, realizada para
evocar o ancestral, o toque dos tambores reproduzia o estrondar das ondas nos rochedos.
Olokun é considerado o orixá patrono da diáspora, foi o que abriu os caminhos para a
travessia da calunga grande, o grande mar. E, ainda, recebeu os corpos de escravos
jogados no oceano. A palavra calunga faz referência à morada dos mortos. Ao serem
capturados como cativos ou verem corpos sendo jogados no mar, durante as viagens nos
navios negreiros, xs africanxs passaram a enxergar o oceano como um grande cemitério.
O caminho que levava à escravidão era como uma morte em vida. Era como se o mar
levasse embora as crenças, os costumes, a família e a liberdade. E esse mesmo mar
representa também a transformação, o renascimento aqui no Brasil, no sentido de
resistir e reconstruir a vida.

A interculturalidade também é um ponto abordado pelo enredo. O sincretismo
das religiões africanas, a integração de elementos da cultura indígena e do branco, por
parte do negro, floresceu em manifestações culturais brasileiras, como o maracatu.
Assim, os tambores que louvavam Olokun e outros orixás, pedindo a proteção na
travessia da calunga grande, quando chegaram ao Brasil se integraram a outras culturas
e se transformaram em tambores que marcam a cultura dos povos negros.

Com o passar do tempo a celebração foi sofrendo modificações e os tambores da
resistência negra, da religiosidade, agora formam o maracatu, tal como é hoje, ‘folguedo
que ecoa na poesia do cantador’. Manifestação que tem seu ápice no carnaval
Pernambucano, onde negrxs saem em cortejo pelas ruas, como uma grande celebração
de afirmação da identidade cultural afro-brasileira.

O oceano é também elemento que liga Pernambuco ao Rio de Janeiro e ao grupo
de maracatu Tambores de Olokun. No ir e vir das ondas do oceano essa cultura se
espalhou e chegou ao Rio de Janeiro. Nesta cidade maravilhosa, onde ‘as águas
continuaram a ir e vir beijando as areias’, surge um grupo de Maracatu que tem o senhor
dos mares por patrono, ‘Tambores de Olokun’. Com a intenção de valorizar e propagar
parte da cultura afro-brasileira, o grupo possui fundamentos e essência do som que vem
do mar.

Através da sinopse, espera-se que a Sossego mostre em seu carnaval os enlaces
culturais que contribuíram à formação do maracatu; os elementos religiosos que
marcam o cortejo, e também uma exaltação às culturas afro-brasileiras. É esperado
também que a escola evoque a identidade da comunidade através do azul, azul do
oceano, azul de Olokun, azul-sossego.

Em um cenário complicado às expressões artísticas e culturais, de discussões
sobre a história do país e em uma sociedade marcada pelo racismo e intolerâncias o
enredo da Sossego vem mostrar a importância do maracatu na afirmação da cultura
afro-brasileira e também como herança, memória e resistência para xs negrxs. Assim, a
agremiação cumpre o seu papel social, quanto escola de samba, como divulgadora de
cultura, conhecimento e da história do país.

Que Olokun abra os caminhos para Sossego atravessar o mar, aportar na Sapucaí
e fazer um brilhante carnaval!

Autora: Vívian Caroline da Silva Pereira – [email protected]
Especializanda em Educação e Divulgação Científica/IFRJ
Membro efetivo do OBCAR
Leitor orientador: Rennan Carmo/Graduando em História da Arte
Instagram: @observatoriodecarnaval_ufrj

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