No último domingo, a Estrela do Terceiro Milênio realizou, em sua quadra, o “Tributo a Paulo César Pinheiro”, evento que apresentou a concepção estética que a agremiação do Grajaú levará para a avenida no Carnaval 2026. A escola inovou: à medida que as fantasias eram reveladas, a intérprete oficial Grazzi Brasil e a cantora Raquel Tobias entoavam sucessos de Paulo César Pinheiro, tema da “Coruja” para o próximo desfile. Enquanto isso, o carnavalesco Murilo Lobo explicava os momentos que cada vestimenta representava. O encerramento foi marcado por uma apoteose reunindo todas as fantasias ao som do samba-enredo de 2026.

Após conquistar a oitava colocação no Carnaval 2025, a Milênio busca emocionar com uma homenagem especial em seu novo projeto. Intitulado “Hoje a poesia vem ao nosso encontro: Paulo César Pinheiro, uma viagem pela vida e obra do poeta das canções”, o enredo será apresentado no sábado de carnaval, quando a escola será a quinta a desfilar no Anhembi. O CARNAVALESCO esteve presente e conversou com Murilo Lobo, artista responsável pelo desenvolvimento do tema da Terceiro Milênio rumo ao próximo desfile.

Desde que chegou à Estrela do Terceiro Milênio, Murilo Lobo já desenvolveu diversos enredos. No entanto, 2026 marca a primeira vez em que ele trabalha sobre a vida de uma grande personalidade musical. O carnavalesco afirma que a trajetória de Paulo César Pinheiro trouxe inspiração e fluidez.

“Acho que só facilitou. O Paulo César Pinheiro tem uma coisa muito linda: a obra dele retrata o Brasil. Ele viajou o país inteiro e compôs canções para Minas, Amazônia, Nordeste… É um cara que ia aos lugares e compunha como se fosse de lá. Isso nos inspirou a contar a história de um menino que, aos 13 anos, tem o primeiro encontro com a poesia e escreve ‘Viagem’, o primeiro grande clássico da música popular brasileira. É maravilhoso, inspirador, um desfile cheio de delicadezas e de poesia. É incrível fazer uma homenagem dessa, e as músicas são inspiradoras. Foi muito mais tranquilo do que em outros anos e, ao mesmo tempo, muito mais instigante”, celebrou.

Fantasia politizada é a preferida do carnavalesco

Conhecido por valorizar a política na avenida, Murilo revelou que sua fantasia predileta está ligada a um samba de forte crítica social:

“A minha fantasia favorita é ‘O dia em que o morro descer e não for carnaval’. Foi uma sacada nossa trazer esse samba político, que instiga as pessoas a perceberem o poder que o povo tem. No momento tão politizado em que estamos vivendo, tive a ideia de criar uma espécie de mestre-sala esfarrapado, que desce todo armado para fazer a guerra civil. Para o público, chamo atenção especialmente para as baianas. Vai ficar muito lindo”, disse.

milenio carnavalesco
Foto: Nabor Salvagnini/CARNAVALESCO

Samba-enredo inspira o desenvolvimento das fantasias

Apaixonado por samba-enredo, Murilo destacou como as composições influenciam diretamente o desenvolvimento visual do desfile:

“Os poetas sempre me surpreendem. A gente faz a sinopse, acompanha as letras, mas eles levantam questões que, às vezes, passam despercebidas por mim. E aí eu insiro, seja em carro ou no chão, para ajudar a fazer a referência. Sem dúvida, o samba-enredo me ajuda bastante no desenvolvimento do desfile”, afirmou.

Reprodução das fantasias é o maior desafio

Se nos pilotos as fantasias ganham forma perfeita, a reprodução em larga escala é, segundo o carnavalesco, o grande desafio:

“A reprodução é o grande desafio. Fazer o piloto não é difícil. O problema é quando você vai para as compras: enfrenta dificuldade de mercado, coisas que não existem em quantidade. Nos pilotos, às vezes, o custo é muito alto. Temos uma baiana este ano especialmente mais cara do que fazíamos antes. Você precisa do apoio da presidência e da direção da escola, que dizem: ‘Vamos juntos’ ou ‘Não, simplifica alguma coisa’. Por isso acho que a reprodução é muito mais desafiadora”, explicou.

Alegorias terão novo formato com mudanças no regulamento

Por fim, Murilo Lobo adiantou que a escola apostará em um novo formato para suas alegorias, aproveitando alterações no regulamento.

“As alegorias contam trechos dessa história. E este ano, com a mudança no critério de julgamento, em que podemos ter mais quadripés, fizemos uma alteração na forma de apresentação do desfile, que eu acho que vai ficar bem bonita”, concluiu.