Um dia após o Flamengo conquistar seu oitavo título do Campeonato Brasileiro a Estácio de Sá divulgou a sinopse do enredo “Cobra Coral, Papagaio-vintém. #VESTIRUBRONEGRO não tem pra ninguém”, que será desenvolvido pelos carnavalescos Mauro Leite e Wagner Gonçalves para o próximo carnaval. Veja abaixo.
RESENHA
No ano de 1995 o G.R.E.S. Estácio de Sá cantou o centenário do Flamengo. As duas maiores paixões do carioca – o futebol e o carnaval – se uniram de tal forma que é impossível saber o que é samba de enredo e o que é grito de torcida. Dessa parceria surgiu uma canção definitiva para a torcida do Flamengo e uns dos carnavais mais emblemáticos da escola.
Para o próximo carnaval, a Estácio de Sá fará uma releitura do desfile de 1995. O “Uma vez Flamengo” passa a ser “Cobra coral, papagaio vintém… #vestirubronegro não tem pra ninguém”. A História do Rubro-Negro será novamente abraçada pelo Berço do Samba.
PRÉ JOGO
Lembranças antigas se misturam às atuais enquanto a torcida desenha um mosaico onírico nesta ofegante e emocionada partida de futebol. O tempo e o espaço caminharão no compasso da bola, neste jogo que é narrado pelo mais importante jogador do Flamengo: O número 12. Este jovem de 25 anos leva a bandeira Rubro Negra sobre os ombros e o Leão no peito.
Enquanto sua mãe costurava a roupa de mais uma baiana o tecido vermelho-e-preto cobria-lhe a barriga. O mesmo tecido que protegia o ventre e escrevia o carnaval, atravessou-lhe o coração, na pista. É filho desta mulher que bordava, no Morro, aquilo que pro asfalto ainda não era nem sonho.
É um homem que sabe que para quem nasce no Zinco e no Terreiro Grande não cabe outra glória senão lutar. É ele quem recorda do povo descendo o Escadão para celebrar a conquista da América. Neste Jogo da Memória há espaço, inclusive, para os craques da Favela da Praia do Pinto, que, assim como ele, perderam tudo, menos o direito de sonhar.
APITA O ÁRRRBITRO
Nesta noite reluzente, um show de estrelas. A baiana entoa a velha cantiga de Seu Sete da Lira e abre os caminhos deste palco que mescla o sagrado e o profano:
“Exu é Flamengo e eu também sou”. Nesta pátria sem ateus não há distinção de santo: Vai de São Judas Tadeu ao manto vermelho e preto do Dono da Encruzilhada e une o Urubu-Malandro à Maria – que é Molambo… Haja Coração!
Num passe de mágica, a poesia enfeitada de luar: Adílio toca para Domingos da Guia…. Zico… Fio Maravilha… Everton Ribeiro-Zizinho -acompanha-de-perto-Júnior-toca-para-Castillo-Gabigol fintou o primeiro, avançouprapequenaárea… UM LANÇAMENTO NO COSTADO DA ZAGA-OLHAOQUEELEFEZ-OLHA-O-QUE-ELE-FEZ, Gabriel Barbosa, GabiGooooooooool é o nome da emoção! Foi um gol de anjo um verdadeiro gol de placa. Apite comigo, galera!
SHOW DO INTERVALO
Fique na nossa, fique na Estácio!
Notem! É o jogador número 12 do Flamengo está no meio do campo. É ele quem finaliza na grande área das oficinas e das fábricas e quem comanda a equipe através do radinho a pilha. Herói que chacoalha pelos trens, que xinga e berra nas mesas dos botecos. Seu coração é o tambor que emociona a galera!
Neste carnaval da esperança, um pinho chora acordes e diz que é tempo de sonhar e recordar. É o passado de presente. A saudade apertou… E o campeão voltou. Confira comigo no VAR.
Corre o tempo no olhar da Gazela Negra. Fazendo sol, queimando ou chovendo, está viva ali uma Raça: A Raça Brasileira.
Rola a bola pro 2º Tempo
Seis jovens remadores saíram das suas regatas e adentraram o campo. O roupeiro leva aos campeões de terra e mar um novo manto: A memória ocupa o centro da camisa e as mangas e divide o espaço com o escudo.
O Time do Povo inunda novamente a alma do morro. O delírio estaciano transforma a Marquês de Sapucaí numa enorme geral, entre churrasquinhos de gato e biscoitos de isopor, mengo-tengo, vapo-vapos, Uh! Tererês, Dá-lhe dá-lhe, dá-lhe-ôs, pandeiros e cavacos: Isso aqui é Flamengo!
Ao fim da partida mais uma medalha de ouro. No futebol, nas regatas e no atletismo é campeão o seu destino.
ERRRRRRGUE O BRAÇO (E A TAÇA!)
Este enredo não é apenas sobre um personagem, uma torcida ou um time. Está em oto patamá: É o clamor da massa transformado em procissão de samba. É sobre uma Nação que não se contenta com saída pro mar. Quer ter um oceano de gente em vermelho-e-preto margeando a sua costa. É rubro o sangue. É negra a pele. Rubro negro é o estandarte de resistência que rasga a multidão e anuncia o Bloco do Eu Sozinho: O cheirinho inescapável de um buquê de poesia que a brisa espalhou no ar.
Na Concentração, o menino-rapaz-homem e sua nêga chamada Teresa, após haverem descido o São Carlos encontraram um parça que desceu o Morro do Corcovado. Cansado estava de permanecer de braços estendidos à cidade. É assim que preferem acreditar na santidade do domingo – Dia em que o pai do Redentor, depois de haver a Terra criado, não descansou: Vestiu Rubro-Negro. E quando Ele – que é carioca, flamenguista e estaciano – veste Rubro-Negro, não tem pra ninguém. São eles os moleques do Morro que vão conduzir a massa, para garantir que, sim, hoje tem Festa na Favela.”
Carnavalescos: Mauro Leite e Wagner Gonçalves
Texto: Vitor Antunes