O Palácio do Samba tem uma rainha e não é uma qualquer. A Estação Primeira de Mangueira ouviu um antigo apelo feito por milhares de sambistas e decidiu levar para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí no ano que vem um tributo a ninguém menos que a cantora Alcione, uma das maiores vozes da música brasileira e torcedora histórica da agremiação. A verde e rosa pretende abordar no decorrer de sua apresentação a fé da artista, a cultura de sua terra natal, o Maranhão, além do seu legado para o futuro através da criação da Mangueira do Amanhã. Essa proposta será desenvolvida pela dupla de carnavalescos formada por Annik Salmon e Guilherme Estevão, que farão em 2024 o seu segundo trabalho consecutivo na escola. A expectativa é repetir, mais uma vez, a façanha de outrora e alcançar um título de campeã do Carnaval carioca homenageando um grande nome das artes brasileiras, assim como aconteceu com Braguinha, Dorival Caymmi, Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque e Maria Bethânia.
Para entoar o samba que irá embalar esse desfile em tributo a Marrom, a Mangueira terá uma dupla de intérpretes que fez bastante sucesso em sua estreia no último Carnaval: Dowglas Diniz e Marquinho Art’Samba. Se depender do desempenho dos dois na gravação, a tendência é que o êxito dos cantores seja ainda maior no próximo ano. Em conversa com o site CARNAVALESCO na Cidade das Artes, eles falaram como foi a preparação para dar voz ao hino oficial da Estação Primeira para 2024 e relataram não ter sido necessário muitos ajustes na obra de autoria de Lequinho e companhia. Além disso, outro tópico abordado no decorrer desse bate-papo foi o crescimento do entrosamento, assim como a da sinergia, entre Dowglas e Marquinho.
“O preparo vem desde o início da disputa, ainda em cima das obras concorrentes para ser o hino da nossa escola. Ali a gente já começa a aprender os sambas e a se familiarizar com cada um. Depois da escolha, a nossa preparação é mais questão de melodia, ensaio juntamente com a bateria, além de adequar o tom do samba para a minha voz e para a voz do Marquinho. Tem ainda os cuidados mais físicos, que vão desde de preservar ao máximo a voz dois dias antes até a alimentação, que também conta bastante. Ou seja, é um processo relativamente simples, sem nada mirabolante. Basicamente é ensaio, descanso e alimentação. Outro fator importante é que, diferentemente do ano passado, estou mais tranquilo. Como o último Carnaval era minha estreia como intérprete oficial, era tudo muito novo, então tinha um certo nervosismo da minha parte. Já para 2024 estou mais capacitado, ainda mais entrosado com o Marquinhos, e por isso ficou tudo mais fácil”, disse Dowglas Diniz.
“A gente não está entrosado do Carnaval de 2023 para cá. O meu entrosamento com o Dowglas vem desde quando eu entrei na Mangueira. Essa é a realidade. Ele sempre foi um garoto que me deu toques: aqui é assim, aqui é assado, coisa e tal… Então a gente sempre esteve em sintonia. Com relação ao samba, o ano de 2024 é desafiador. A gente teve nesse último ano um samba aclamado pelo povo, com um pré-carnaval que foi maravilhoso, assim como o desfile. E, sinceramente, não acho que vai ser diferente agora. Temos uma grande obra para trabalhar, uma bateria muito boa e encaixada com o carro de som, além de uma equipe extremamente competente, na qual vigora o respeito”, complementou Marquinho Art’Samba.
Presidente da Mangueira fala sobre participação de Alcione: ‘Feliz’
Um dos pontos altos da gravação da Mangueira ocorreu quando uma convidada para lá de especial apareceu no estúdio. Bastou os primeiros burburinhos sobre a chegada dela começarem a rolar que, imediatamente, o clima de ansiedade e expectativa tomaram conta do espaço. Poucos segundos depois, um enorme clarão se abriu e todos se posicionaram para recebê-la. A cada passo, era possível observar o brilho nos olhos de quem assistia a entrada. Ao chegar bem ao centro da sala, ela simplesmente sorriu e saudou a todos que estavam no local. Não era sonho, nem fantasia, a presença de Alcione era uma realidade. Feliz de estar ali, a cantora não disfarçou a emoção de estar vivendo aquele momento e, ao final da gravação, ainda se mostrou atenciosa ao tirar diversas fotos com os segmentos da escola. Todo esse evento foi acompanhado de perto pela presidente da Estação Primeira, Guanayra Firmino, que em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO falou sobre essa participação de Marrom.
“O convite para a Alcione participar da gravação foi feito por mim. Eu fui até a casa dela, fiz a proposta e, logo de cara, ela se animou muito com a ideia. A partir daí, foi só resolver a parte burocrática. A equipe dela, em contato com o pessoal da gravadora da Liesa e do jurídico, resolveram tudo. Com isso, a participação foi possível e todos nós ficamos felizes da vida com o resultado, principalmente ela”, contou Guanayra.
A própria mandatária também não fez nenhuma questão de esconder a satisfação diante do trabalho realizado pelos integrantes da verde e rosa. De acordo com dirigente mangueirense, a escola não preparou nada exclusivamente para essa gravação, sendo o resultado dela fruto das ideias que já estão sendo desenvolvidas, pela área musical da agremiação, visando o desfile oficial em fevereiro do ano que vem.
“Esse ano acho que os nossos diretores musicais, os nossos mestres de bateria, trabalharam com mais vontade por ser um samba em homenagem a nossa diva, a nossa madrinha, a rainha do palácio, a Alcione. Porém, não fizemos nada pensando especialmente na gravação. A gente sempre trabalha visando o desfile. Tudo que estamos executado nessa faixa do disco é fruto do que vem sendo desenvolvido desde as eliminatórias, buscando justamente alcançar o melhor resultado possível na Avenida, na nossa visão. Nós temos um sambão, que acredito muito que vai pegar no Carnaval. A gravação foi maravilhosa e agora é aguardar o lançamento. Tenho certeza que os mangueirenses vão gostar”, assegurou a presidente.
Simbolismo em cantar ao lado da Marrom
A participação de Alcione na gravação oficial da Mangueira despertou emoções em diversas pessoas presentes no estúdio, desde os ritmistas até a produção. Porém, o momento foi especialmente marcante para Dowglas Diniz e Marquinho Art’Samba. Os intérpretes tiveram a honra de cantar ao lado da homenageada, além de interagir com ela durante as filmagens do clipe. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, ambos detalharam o sentimento que tiveram ao estarem lado a lado com a artista maranhense.
“Gravar com a Alcione esse samba-enredo maravilhoso, em homenagem a nossa madrinha, foi extremamente emocionante. No meu caso que vim oriundo da escola mirim que ela fundou, a Mangueira do Amanhã, acaba sendo algo ainda mais especial. Hoje, se eu estou intérprete da Mangueira, ao lado do Marquinhos, é graças a Alcione. Então, participar desse momento, ajudar a escola a prestar esse tributo, é uma pequena forma de agradecer tudo que ela fez por mim, por todas as crianças do Morro da Mangueira e por aí a fora. Podem ter certeza que vou dar o meu melhor na Avenida, assim como fiz na gravação dessa faixa, em gratidão a nossa madrinha Alcione”, salientou Dowglas.
“Quando eu vi a Alcione do meu lado passou um filme na cabeça. Vieram diversas recordações da minha vida, desde a infância. Eu cresci ouvindo vários discos dela e hoje poder dividir o microfone com a Alcione é algo surreal. Nunca imaginei viver isso. E não é simplesmente dividir o microfone com a Alcione, mas fazer isso dentro da Estação Primeira de Mangueira e em um enredo sobre ela. Para mim, isso é tudo”, explicou, em seguida, Marquinho Art’Samba.
Bateria ‘Tem Que Respeitar Meu Tamborim’ quer repetir 40 pontos
A dupla formada por Rodrigo Explosão e Taranta Neto estreou com o pé direito no comando da “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”. Logo de cara, os dois apresentaram um trabalho de excelência no Carnaval de 2023 e conquistaram todas as notas máximas por parte dos jurados. Para manter este alto padrão em 2024, Rodrigo, que é filho do mestre Alcir Explosão e já teve uma primeira passagem pelo posto entre 2016 e 2018, destacou que o trabalho em conjunto é fundamental. Em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO, ele contou como foram esses preparativos para a gravação oficial e ressaltou a união de toda a área musical da agremiação para entregar ao público uma faixa de qualidade.
“Foram dias de muito estudo. O tempo para fazer essa preparação para gravação foi pouco, mas já foi maior que o costume. Tivemos que trabalhar todo esse processo de interação com o enredo, saber o que eles tão falando de fato do Maranhão, do que a Alcione participou, do que ela tem o conhecimento, para conseguirmos produzir isso no samba. Foi uma tarefa bastante árdua, porém a equipe que montamos é muito boa. Ficamos uma semana com todo mundo buscando, cada um trouxe informações diferentes e conseguimos chegar em uma condição boa para gente trabalhar dentro da bateria esse ano”, relatou Rodrigo Explosão.
Diferentemente do parceiro de trabalho, Taranta Neto está em sua primeira passagem pelo comando da “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”. Com experiência como mestre de bateria na Acadêmicos da Abolição, Imperadores Rubro-Negros e União de Jacarepaguá, ele estreou na Estação Primeira desfilando ao lado do seu avô, o lendário Taranta, sendo diretor mascote em 2003 e 2004. Ainda muito novo, ele foi alçado ao posto de mestre na Mangueira do Amanhã, função que desempenhou por 10 anos, entre 2008 e 2018. Agora à frente dos ritmistas da escola-mãe, Taranta Neto não escondeu, durante a conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, a felicidade de estar participando do atual momento da Mangueira e antecipou o que o público vai encontrar nessa faixa oficial da escola.
“Quando a gente se reúne para fazer as ideias, a gente já planeja tudo, tanto gravação, quanto desfile. Nesta faixa oficial, optamos por fazer uma nuance musical no meio do samba e uma bossa mesmo no refrão. Para o desfile oficial, nossa ideia é levar três bossas, sendo que as outras duas vamos ir passando para os ritmistas aos poucos ao longo dos ensaios, além dessa nuance que a gente faz tipo um xaxado entre o tamborim e o surdo, assim como as caixas em uma rufadinha lá no meio. Quanto a instrumentos, vamos trazer de diferente para o desfile de 2024 os pandeirões de couro, que são famosos lá no Maranhão, e as matracas, que vão incrementar na bateria. É difícil, mas a gente vai trabalhar para conseguir fazer isso tudo”, revelou Taranta Neto.
Lequinho sobre homenagem a Alcione: ‘Grande enredo dos últimos anos’
Após uma disputa de samba equilibrada e emocionante, a obra escolhida pela Estação Primeira de Mangueira para embalar o desfile em homenagem a cantora Alcione foi a composta por Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Fadico, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. A parceria, que foi bicampeã do concurso promovido pela escola, acompanhou de perto a gravação e não escondeu a emoção ao ver a criação deles sendo entoada por Marquinhos Art’Samba e Dowglas Diniz, além de executada pela bateria “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”.
“É sempre uma sensação maravilhosa ter um samba gravado na Estação Primeira de Mangueira. A gente sempre fica muito contente, muito honrado, mas acho que esse ano é ainda mais especial. Talvez seja o grande enredo dos últimos anos. Falar da Alcione é algo magnífico, acho que a gente nem sonhava um tempo atrás que pudesse chegar no momento de ganhar um samba com uma homenagem a ela. E ver o resultado desse processo, desde a criação até chegar a gravação, nos deixa cheios de orgulho. A gente sempre teve muita confiança nesse samba e agora está se confirmando. É um samba que vai emocionar muito os mangueirenses. Estamos muito satisfeitos, muito felizes”, declarou Lequinho durante bate-papo com a reportagem do site CARNAVALESCO.
Com 12 vitórias nas disputas de samba da Mangueira, Lequinho é considerado um dos maiores nomes da ala de compositores da escola. Entre as obras importantes assinadas por ele estão “Brazil com ‘Z’ é pra cabra da peste, Brasil com ‘S’ é nação do Nordeste” (2002), “Minha língua é minha pátria, Mangueira, meu grande amor. Meu samba vai ao lácio e colhe a última flor” (2007) e “Só com a ajuda do santo” (2017). Tendo como base essa experiência acumulada ao longo da carreira, o autor do hino de 2024 avaliou os diferenciais dessa composição e apostou quais são os trechos que podem ter melhor rendimento na Marquês de Sapucaí.
“Esse samba realmente tem várias passagens que são emocionantes. Eu posso destacar, por exemplo, a primeira do samba, quando se fala sobre o tempo ser o maestro, que retrata a infância da Alcione. Acho que essa vai ser uma parte muito emocionante para ela. Outro trecho que considero muito forte é quando a gente fala da Dona Zica, da Dona Neuma, que são os pilares, junto com a própria Acione, da Mangueira do Amanhã. Algo bastante tocante para nós também é a citação ao Hélio Turco, maior compositor da nossa escola, mais vezes vencedor das disputas de samba-enredo, além de ter sido o responsável por compor as primeiras obras da Mangueira do Amanhã. Agora, de uma forma geral, falando do público, do momento do desfile, dos ensaios e tal, eu destaco o pré-refrão, que é quando fala que ela é odara, pois acho que isso aí vai pegar. Durante a disputa, a gente já viu que realmente foi uma explosão. Ainda aposto muito no refrão principal, que é quando a gente diz que meu palácio tem rainha e não é uma qualquer. Toda mulher gosta de ouvir algo assim, de bater no peito e dizer que realmente não é uma qualquer. Isso é uma frase que sempre foi usada pela Alcione e Deus nos abençoou de conseguir encaixar perfeitamente no refrão. Acredito que esses, de fato, serão os grandes destaques”, ponderou o compositor.
Preparação a todo vapor para desfile de 2024
A Estação Primeira de Mangueira veio mordida no Carnaval de 2023. Após ficar de fora do sábado das Campeãs no ano anterior, a agremiação mostrou a força da sua comunidade e, embalado por um samba aclamado por crítica e público, os chamados quesitos de chão tiveram excelentes performances. A evolução da verde e rosa conseguiu gabaritar e alcançou os sonhados 40 pontos, enquanto a harmonia teve apenas uma única nota abaixo de dez, mas que acabou sendo descartada. Para manter esse rendimento em 2024, a escola aposta em uma rotina intensa de ensaios, que inclui treinos duas vezes por semana a partir de dezembro.
“A escola entrou muito forte na Avenida em 2023, cantando muito, desfilando bem, tanto que não perdeu décimos em harmonia e em evolução. Isso é decorrente dos ensaios que rolam na quadra e na rua. Eu costumo falar que se você treinar bem, você joga bem. A Mangueira costuma treinar bastante para chegar no dia e jogar bastante bem também. Prova disso é que a gente já começou desde outubro a preparação com a comunidade, através dos ensaios de canto. Já a partir de dezembro, teremos os nossos ensaios de rua e daí para frente é direto”, afirmou o diretor de carnaval, Júnior Cabeça, em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO nos bastidores da gravação.
A presidente da verde e rosa, Guanayra Firmino, também comentou esse modelo de ensaios duas vezes por semana e exaltou a rotina mais intensa de preparação visando o Carnaval de 2024. Ainda no bate-papo com a reportagem do site CARNAVALESCO, a mandatária falou sobre os trabalhos na Cidade do Samba e garantiu que o barracão está dentro do calendário previamente elaborado.
“A Mangueira não tinha o hábito de ensaiar tanto assim. Porém, de uns dez anos pra cá, a gente viu essa necessidade de ensaiar mais o canto e a parte técnica na rua. Por enquanto, a gente acha importante manter esse modelo de duas vezes por semana. Os nossos ensaios de canto começaram ainda em outubro e no mês de dezembro a gente vai para rua. A princípio, um dos dias vai continuar dedicado ao canto, enquanto o outro vai ser naquele modelo tradicional do ensaio de rua. Já a partir de janeiro, a gente fica duas vezes só com o ensaio de rua. Quanto ao barracão, tudo está indo bem, dentro do cronograma, conforme o planejado. Só posso dizer que nós estamos trabalhando para entregar um grande desfile. Esperem da Mangueira em 2024 uma apresentação guerreira, ousada e muito cantada. O nosso chão vai para Marquês de Sapucaí com toda a força e vamos em busca desse título. Ganhar é outra coisa, mas nós vamos lutar por esse campeonato, assim como todas as outras escolas”, pontuou a presidente mangueirense.
Em 2024, a Estação Primeira será a quarta escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, pelo Grupo Especial. Com o título de “A negra voz do amanhã”, o tributo para cantora Alcione terá a assinatura artística da dupla de carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão.
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