Composto por Martinho da Vila para o carnaval de 1993, desenvolvido pelo carnavalesco Oswaldo Jardim, pode se dizer que “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” já está na ponta da língua do componente há uns 30 anos. Esta, sem dúvida, foi uma das razões para que a direção da Unidos de Vila Isabel escolhesse a obra para ser a primeira reedição de samba-enredo que a escola do bairro de Noel levará para a Sapucaí. Primeira agremiação a gravar a faixa oficial para o Carnaval 2024, na Cidade das Artes, o clima trouxe um olhar lúdico, infantil, como pede o enredo. Com o cavaquinho fazendo a intenção de uma flauta logo na introdução do samba, e com voz infantil no coro, o restante ficou por conta da potente voz de Tinga e dos ritmistas da “Swingueira de Noel” comandados pelo ótimo mestre Macaco Branco. Com muita alegria e leveza, o samba contagiou todos que presenciaram a gravação na sala de ensaios três do complexo cultural localizado na Barra da Tijuca.
Sendo mais uma vez a voz oficial da Vila em um disco da Liesa, o intérprete Tinga comandará em 2024 pela décimo sexta vez o carro de som da agremiação, somando as duas passagens pela escola. Para o cantor, a possibilidade de levar o samba de 1993 no próximo carnaval é um grande presente. Tinga também explicou como se deu o processo para colocar a obra em um formato que se adeque ao carnaval atual.
“Para mim é uma honra estar cantando um grande samba do Martinho da Vila. A adaptação é colocar nos moldes de hoje mesmo. Hoje a bateria está um pouco mais para frente, mas o samba mesmo, a melodia, a gente procurou não mexer muito, não mudar muito, porque é um clássico. A gente está muito feliz em poder cantar o samba do jeito que ele é. É mais fácil de trabalhar, a gente já conhece bem, a comunidade está feliz demais, cantando com muita alegria, com muita força. É um enredo maravilhoso, vai ser muito bonito cantar esse samba com muita garra, a garra do componente da Vila Isabel”, promete o cantor.
Tinga contou que a preparação para a gravação não é só exclusiva do cantor oficial. Na Vila Isabel, todo o restante do coro, que acompanha o intérprete, precisa ter um cuidado especial com a voz.
“Não só eu como todo o carro de som faz fonoaudióloga, faz aula de canto. A gente sempre está procurando fazer o melhor para chegar na Avenida e dar conta do recado. Agora após a gravação é só ensaiar mesmo, a comunidade está chegando juntinho já, o mais importante é a comunidade estar firme e forte na Avenida, cantando esse samba no gogó, e mostrando a força da nossa escola e a força da comunidade do Morro dos Macacos”, entende Tinga.
O arranjo preparado para a gravação oficial da Liesa foi desenvolvido pelo diretor musical da Vila, Douglas Rodrigues. O músico esclareceu que procurou trazer um tom lúdico, infantil para a gravação, como pedia o enredo, a obra, mas também valorizando a comunidade que habita o entorno da escola do bairro de Noel. Douglas confessou que a equipe procurou não ouvir tanto o que foi desenvolvido para 1993 para não ficar preso a ideias já produzidas, e se permitiu dar uma nova roupagem sem descaracterizar a obra.
“O arranjo foi feito para interagir com a comunidade. Usamos palma da mão, solo, canto, para todos entrarem juntos e ter aquela interação. É muito legal quando você faz um arranjo que todos participam, não é só as cordas, ou não é só o canto, todo mundo participando, da bateria, até o cara que vai lá para conhecer o samba na quadra, a comunidade. O arranjo foi criado a partir desse entendimento, é um toque lúdico por conta das crianças. O cavaquinho dá a intenção de uma flauta. E em relação a gravação original, a gente não ouviu muito para também não ficarmos presos. Mas a gente não pesou a mão. Porque se pesar a mão vai ter aquela comparação. Foi uma parada bem tranquila. A roupagem já está na voz do Tinga. O Tinga já dá uma outra visão do samba. A gente só vai acompanhando”, explicou o diretor musical.
Preparação contemplou ensaios desde decisão por reedição
Presente à gravação na Cidade das Artes, o diretor de carnaval da Vila Isabel, Moisés Carvalho, relatou à reportagem do site CARNAVALESCO de que forma a escola se preparou para este importante passo no processo de desenvolvimento de um carnaval.
“Desde que o presidente decidiu que o samba seria a reedição de Gbalá, todo o time, carro de som, parte musical, tem batido papo, indo para estúdio, para a gente achar o melhor caminho para fazer essa reedição em alto estilo. A gente está botando em prática nesta gravação tudo que vem ensaiando durante todos esses meses. Acho que encontramos o ponto ideal. Também já começamos nossos ensaios na 28 de setembro, ali vamos imprimir o ritmo que vamos levar para o desfile”, informa o diretor.
Moisés Carvalho também explicou mais sobre o cronograma de trabalho da escola no que diz respeito ao trabalho de canto e evolução na preparação para o Carnaval 2024.
“Como já tínhamos o samba escolhido e na ponta da língua da galera, a gente conseguiu antecipar os nossos ensaios, não só de quadra, como também do Boulevard 28 de setembro, a fim de a gente chegar na excelência máxima que é o samba na ponta da língua, o carro de som entrosado com a bateria de mestre Macaco Branco que também participa das reuniões junto com o Tinga, com o Douglas (Rodrigues), com o preparador vocal, com nosso presidente Luizinho (Guimarães). Todos estão afinados para os ensaios e para o nosso CD, que tem a proposta de mostrar o samba, a letra do samba, com alguma coisa de bateria, mas focado na letra. O samba a gente fez da forma como executamos nos ensaios de quadra, de bateria”, concluiu Moisés.
Intérprete oficial de 1993 é figura ilustre do carro de som
Uma presença especial na gravação foi do cantor Gera, que já faz parte há algum tempo do carro de som da Vila como uma das vozes de apoio do intérprete Tinga. Gera foi o responsável ao lado de Martinho da Vila por cantar Gbalá durante o desfile de 1993. O experiente cantor dá nome ao palco localizado na quadra da Vila no Boulevard 28 de Setembro e falou sobre a emoção de participar deste processo além de compartilhar algumas lembranças daquele carnaval de 1993.
“Eu fiquei muito orgulhoso por estar com saúde. Trinta anos atrás eu cantei esse samba, eu e o Martinho da Vila. A gente gravou juntos. Agora estou com a garotada, dando esse apoio ao Tinga, para mim é um prazer muito grande . Eu quero ver na Avenida e eu acho que vai ser muito bacana porque o samba está com uma pegada maior, está mais em cima o tom, e a pegada muito firme. Eu me sinto muito orgulhoso por estar com a rapaziada. Choveu muito naquela noite, mas o carnaval era tão bonito produzido pelo nosso carnavalesco da época Oswaldo Jardim . Imagina o que virá agora com o Paulo Barros, com essa criatividade que ele tem. Naquele ano o samba rolou maravilhosamente bem. Ganhou prêmios e levou a escola bem, mesmo com toda a chuva que teve. Acredito que 2024 vai superar aquele desfile “, acredita Gera.
Comandando a “Swingueira de Noel” desde o carnaval de 2019, mestre Macaco Branco participa de sua quinta gravação à frente dos ritmistas. Experiente no mundo musical, Macaco gravou de forma tranquila e explicou o que pensou para a faixa oficial da Liesa.
“A gente colocou um andamento mais orgânico, como é uma gravação ao vivo não tem como a gente estar medindo muito o andamento. Está ali na casa de 141, 142 BPM, que é para gente já ter a noção do que é um andamento perfeito para o samba da Vila Isabel. Os arranjos estão muito bonitos, bem encaixados na métrica, na melodia do samba. O projeto é lindo demais, usamos os instrumentos tradicionais de escola de samba, tem uma hora que a gente coloca palmas, em um jongo que tem muita relação com a temática do samba. A introdução tem bastante a ver com aquela gravação que a escola fez, mas há algumas diferenças que vocês vão perceber e espero que gostem”, deseja o mestre.
Terceira escola a pisar na Sapucaí na segunda noite dos desfiles de 2024, a Vila vai levar para a Avenida o enredo “Gbalá” que está sendo desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros.
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