A Beija-Flor de Nilópolis lançou no último domingo, em seu canal no YouTube, os clipes dos dez sambas concorrentes que seguem na disputa que elegerá o hino oficial da agremiação para o Carnaval de 2024. Assim como ocorreu nos dois anos anteriores, as obras receberam a voz do intérprete oficial da agremiação, Neguinho da Beija-Flor, além de contarem com base feita pela bateria da escola e coro com membros do carro de som da azul e branca. A reportagem do site CARNAVALESCO acompanhou os bastidores dessas gravações, que foram realizadas entre os dias 31 de julho e 11 de agosto, no MC Studio, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. * OUÇA AQUI OS SAMBAS

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Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

Em entrevista concedida para a reportagem, o diretor de carnaval da escola, Dudu Azevedo, relatou que a ideia de gravar os sambas concorrentes na voz de Neguinho da Beija-Flor foi dada pelo próprio intérprete. “Tudo na Beija-Flor a gente conversa, existe sempre uma construção muito coletiva. E foi em um grande bate-papo que o Neguinho demonstrou essa vontade de ter a voz dele nos sambas que eram concorrentes. A partir disso, avaliamos essa ideia e vimos que, de fato, no mundo de hoje, quando iniciam as disputas, a gente tinha o samba vencedor gravado na voz de outros intérpretes de julho até novembro para só em dezembro ter a obra na voz do Neguinho. Então, a gente ficava com um samba muito mais marcado na voz de outros intérpretes do que na do Neguinho, que é o cantor oficial da escola e a voz do Carnaval. Isso, somado com a vontade do próprio Neguinho, foi crucial. Com muito diálogo, conversamos com o Rodney, conversamos com harmonia, e planejamos fazer dessa maneira”, contou.

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Ainda de acordo com o diretor de carnaval nilopolitano, esse modelo deixou a disputa mais equilibrada ao colocar as parcerias em maior igualdade. As parcerias ainda seguem com custos do concurso, uma vez que práticas como a de levar torcida e promover festas durante as apresentações dos sambas na quadra são usadas em larga escala.

“Se você virar para esses compositores e falar: ‘ah, isso aqui está gastando muito, vamos para o outro caminho, a gente quer ouvir mais o samba em si’; eles vão encontrar outra forma de gastar. Ou seja, o grande lance dessa forma de disputa foi a gente trazer ela para mais próxima da realidade da quadra e evitar aquele julgamento da safra de samba-enredo com base apenas na grande produção que é feita nas gravações. Aliás, os compositores estão muito feras nisso, tendo em vista que nos últimos anos não é difícil a gente acabar gostando mais da versão do samba gravado para a disputa, do que a oficial. Era algo que seduzia os torcedores, os componentes, a querer muitas vezes um samba que, quando era testado na realidade na quadra, não estava a contento da gente. Então, com esse modelo atual, conseguimos minimizar isso”, assegurou.

Além das gravações seguirem um mesmo padrão, no atual formato da disputa, todas as etapas do concurso de samba-enredo são transmitidas ao vivo pela Beija-Flor TV, canal no YouTube da agremiação. Na conversa com o site CARNAVALESCO, Dudu Azevedo explicou que essa decisão de fazer lives das apresentações na quadra da escola visa permitir que os sambistas, principalmente os torcedores nilopolitanos, tenham uma noção real dos desempenhos das obras concorrentes.

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“Quando a gente decidiu fazer uma live com cada etapa da disputa, para as pessoas verem o que realmente acontece na quadra, elas se chocaram, se surpreenderam com o que ouviram. Por um lado negativo, a gente percebeu que, às vezes, a nossa safra não é tão bem ouvida logo de início. Para o lado positivo, existem sambas que na quadra não passam aquela mesma emoção do que é gravado no estúdio. Então, o que aconteceu já em alguns momentos, em outras disputas e não só na Beija-Flor, um samba começa a disputa muito bem gravado, com intérpretes maravilhosos e ótima produção, as pessoas se agradam, conquista a internet, mas arrasta na hora de se apresentar ao vivo na quadra. Tudo bem que a Beija-Flor não é refém da internet, mas é um local que gera opinião. E, às vezes, um samba na quadra passava muito mal, mas a torcida e a internet no geral colocavam ele como top. Aí, quando você tinha uma outra escolha, as pessoas falavam que a decisão era errada, que o samba não era esse. Porém, essa não é a realidade do que a gente via na quadra”, pontuou o diretor de Carnaval da azul e branca.

Ao falar sobre o processo de gravações no estúdio, Dudu Azevedo enfatizou que as parcerias possuem liberdade para conduzir os sambas da forma que acharem melhor. Todavia, ele ressaltou que a escola supervisiona todas as etapas, dando suporte e intervindo quando necessário, mas sempre prezando por manter um diálogo aberto com os compositores.

“Ao longo do concurso, tem momentos pontuais que a escola intervém. O primeiro é quando eles mostram o samba para a gente, antes de começar a disputa. Fazemos sempre as correções de letra e eu, particularmente, dou alguns toques, como: ‘essa melodia aí, parece cansada, tenta melhorar’. Já quando vai para quadra e chega esse momento dos dez, como nos outros dois anos, a gente chama as parcerias e fala: ‘Isso aqui, isso aqui e isso aqui falta para gente na letra’; ou ‘Aqui, acho que tem um problema no teu refrão, o samba vem bem, mas quando chega no refrão não está legal’. Dessa forma, a gente dá a oportunidade de eles mudarem, mas em nenhum momento a escola obriga. É apenas uma orientação, onde na nossa avaliação falta algo. E não falamos o que tem que fazer. Há ainda um terceiro momento, esse já no estúdio, que a gente preza pela identidade da Beija-Flor. Pedimos pra ter três a quatro pessoas do carro de som gravando o coro, adotamos junto com o mestre Rodney um andamento e uma levada característica da escola, sem deixar que o samba fique nem muito para frente e nem muito para trás. É claro que tem que ficar no que é o samba, mas principalmente de acordo com a identidade do Neguinho, da bateria e da Beija-Flor. Então, a gente no estúdio também direciona, mas toda a produção e todos os arranjos é de responsabilidade dos compositores”, declarou.

‘Modelo torna mais certeira a escolha’, garante diretora geral de harmonia

Além de Dudu Azevedo, a diretora geral de harmonia Simone Sant’ana, que divide o posto com Válber Frutuoso, também acompanhou as gravações dos dez sambas no estúdio. Em
conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, ela comentou o modelo de disputa, além de frisar impacto positivo dele para os segmentos da escola e para a comunidade.

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“Ter a voz do nosso cantor, o Neguinho da Beija-Flor, nos dez sambas finalistas faz com que a gente já saiba, desde agora, qual é o sentimento dele em relação as obras, mas principalmente qual é o sentimento da nossa comunidade em ouvir cada uma na voz oficial. Além disso, também é uma forma da gente trazer o nosso povo, os nossos segmentos, para junto da escola, para poder escolher o melhor hino. Então, esse modelo acaba por tornar mais certeira essa escolha, porque a gente tem mais tempo de ouvir, analisar, ver a sustentação do samba, tendo a nossa comunidade dentro da quadra cantando aquele de sua preferência”, refletiu Simone.

A diretora ainda explicou o trabalho realizado pela equipe de harmonia junto aos compositores. “Nas gravações, deixamos as parcerias bem à vontade. Claro que fazemos um acompanhamento e algumas coisas a gente aconselha, recomenda, junto com o nosso diretor de Carnaval, Dudu Azevedo, e os nossos mestres Rodney e Plínio. Tentamos ver o tom para ver se está confortável para o nosso cantor, para ver se está confortável para a nossa comunidade, e se a gente consegue a sustentação atual para a escola no todo”, relatou.

Mestre Rodney afirma que gravações de sambas auxiliam na preparação

Antes do coro e do intérprete Neguinho da Beija-Flor colocar a voz nos dez sambas, a primeira etapa no estúdio consiste na gravação da bateria. Nesta fase, os naipes de cada instrumento são gravados de forma separada para depois ser montada a base. Porém, o trabalho com as parcerias feito por mestre Rodney, que comanda a Soberana ao lado de Plínio, tem início antes mesmo disso.

“Nossa parte começa ainda na quadra, com uma tiragem de tom para adaptar pra voz do nosso cantor, a voz maior do samba, que é o Neguinho da Beija-Flor. Só depois que a gente inicia a fase de gravações. Primeiro fazemos a base, o surdo, para depois fazer uma parte reta e em seguida vir picotando, dando as nuances e realizando as convenções. Tecnicamente é isso”, pontuou o mestre, em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO.

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O comandante dos ritmistas nilopolitanos explicou ainda que a realização de paradinhas e outros tipos de bossas nas gravações fica a critério das parcerias. “Os compositores têm livre arbítrio, a gente faz o que eles querem. Estamos aqui para ajudar, de qualquer maneira. A gente vê as convenções, algumas ideias que os arranjadores da parte harmônica fizeram, mas o mais importante é que eles nos deixam muito à vontade, dão abertura para criarmos também. É por isso que dá certo, a gente ouve e é escutado. Isso é legal”, mensurou.

Mestre Rodney ressaltou também como esse modelo de disputa auxilia a preparação da bateria visando o desfile oficial. “Trabalhar com o samba que vai para Avenida desde a fase da disputa dá muita segurança. Afinal, a gente já conhece o samba no nascedouro e temos a oportunidade de adaptar, lapidar. Então, é algo muito positivo, pois a gente começa a botar a cara da bateria, a roupagem dela, no samba já nessa gravação. E mais uma vez, nós fomos muito felizes com uma safra que é maravilhosa. Tenho certeza que teremos um grande samba e, se Papai do Céu abençoar, na quarta-feira de cinzas estaremos comemorando mais um título em Nilópolis”, desejou.

‘Pessoas me perguntavam se eu saí da Beija-Flor’, recorda Neguinho

O site CARNAVALESCO também conversou com Neguinho da Beija-Flor. Para a reportagem, o intérprete relatou como surgiu a vontade em gravar os sambas concorrentes e destacou a importância de ter as obras na voz dele desde agosto.

“Nessa ocasião da escolha, os intérpretes das escolas costumam defender os sambas nas disputas de diversas coirmãs. Por exemplo, eu posso defender um samba na Mangueira, na Portela, o que eu não faço, mas eu posso. Então, para não ficar o samba vencedor na voz de outro intérprete é que surgiu esse modelo. Antes, o fato de ter outra voz confundia muito a cabeça dos ouvintes. Ganhava um samba que meu irmão Nêgo defendeu e aí ficava na mídia aquele samba na voz dele. Pessoas me perguntavam, fora até do Brasil, se eu saí da Beija-Flor, porque era uma outra voz. Eu explicava que não, que aquela era uma voz do samba que estava disputando, e aí para evitar isso, os últimos dez sambas, eu gravo. Isso já está acontecendo também na Grande Rio e soube que outras escolas devem adotar no próximo ano”, ponderou.

O cantor comentou ainda o fato de que para muitas parcerias é um verdadeiro sonho realizado ter um samba gravado por ele. Na visão de Neguinho, essa admiração por parte dos compositores é o reflexo da extensa trajetória que ele possui no mundo do samba e no carnaval carioca.

“Eu estou há muito tempo nisso. Acho que sou o único intérprete em atividade da minha geração. Depois de mim, já vieram mais umas duas ou três gerações e cada vez mais vão renovando. Talvez seja por isso que a galera vê em mim uma referência, por ser o mais antigo, não por ser o melhor ou por cantar mais. Como disse, estou há muito tempo no carnaval, no samba, sempre com o mesmo comportamento. Então acho que é isso, não tem mistério, é a antiguidade”, avaliou o intérprete.

Compositores falam sobre modelo de disputa e gravação dos sambas

Durante os dias de gravações, a reportagem do site CARNAVALESCO ouviu representantes das dez parcerias que ainda estão no páreo da disputa promovida pela Beija-Flor de Nilópolis para saber a opinião deles sobre esse modelo do concurso de samba-enredo adotado já há três carnavais pela Deusa da Passarela. Entre os mais diferentes pontos, os compositores falaram da emoção de ter a própria obra gravada na voz de Neguinho da Beija-Flor e da experiência que tiveram no estúdio.

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“Foi um gol de bicicleta da Beija-Flor. Ela dá a chance de todas as parcerias terem o mesmo nível de gravação. É o mesmo estúdio, a mesma bateria, com o mesmo mestre de bateria, só liberando para cada parceria fazer o seu próprio arranjo. E, no final disso tudo, você tem a voz do Neguinho, que engrandece as obras e acaba equiparando esses dez sambas finalistas. Quanto a experiência da gravação, foi tranquila, com a conversa muito aberta. A gente, da parceria, já é da Beija-Flor há muitos anos, a grande maioria nasceu em Nilópolis, então estamos em casa. Com relação ao mestre Rodney, a gente deixa ele sempre bem à vontade para montar o que que ele quer fazer de bossa dentro do samba. Com o Neguinho da Beija-Flor, o raciocínio é o mesmo. Não temos nada para ensinar a ele, é o maior cantor do Carnaval mundial. É deixar com ele, a melodia já existe, o Neguinho vai interpretar da forma que achar melhor e o resultado vai ficar top”, afirmou Júlio Assis, que assina o samba 01 ao lado de Léo do Piso, Diego Oliveira, Diogo Rosa, Manolo e Wilson Tatá.

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“Ter uma obra na voz do maior intérprete do mundo do samba, que é o Neguinho da Beija-Flor, é algo muito simbólico e marcante, independente se o nosso samba vai ser escolhido ou não para o ano que vem. Fico até sem palavras para descrever a emoção. É uma coisa que eu acho que é um sonho de todo mundo. Todo compositor, pessoal da música, do samba em geral, deseja isso. E esse modelo de disputa me permitiu realizar isso. Em questão de custo, a Beija-Flor soube fazer uma coisa bem simples, que cabe no bolso de todo mundo. Neste formato atual, as primeiras apresentações não custam quase nada para a parceria. Os gastos maiores são todos nesta reta final, que é quando vai apertando a disputa e a gente precisa botar torcida, fazer show e tal. Quanto a gravação, o samba ganha novos contornos quando chega no estúdio. É o mestre Rodney que dá mais uma pitadinha, é a escola que vê o samba mais além, a bateria que já fica imaginando uma determinada paradinha que vai se encaixar, além é claro do nosso intérprete Neguinho que dá todo um brilho a mais com sua voz. Então, a gente entrega o samba de coração e a escola toma o melhor rumo”, analisou Júnior PQD, que integra a parceria do samba 02 junto com Rodrigo Tinta, Márcio França, Nando Souza, Robinho Donozo e José Saraiva, e tem ainda as participações especiais de Thiago Sodório, André Araújo e Cleissinho Texeira.

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“É uma honra, porque o Neguinho é o nosso ídolo maior da música, a bateria da Beija-Flor está na veia da gente, a levada dela, o andamento, e o que é bom a gente resolve dentro de casa. E o Neguinho vem só abrilhantar essas obras todas. Ter o maior ícone do Carnaval gravando o nosso samba é indescritível. E quanto a custo neste atual modelo, melhorou um pouco porque a gente teve uma folga de um mês, mais ou menos, que a gente teve uma disputa mais reduzida, com um público e um espaço menor. Já daqui para frente, após a gravação, os gastos são basicamente os mesmos de antes. Por sermos uma parceria formada por pessoas que possuem uma longa história com a escola, já conhecemos as preferências. Então, a gente já faz o nosso samba pensando no Neguinho e na bateria, dentro de uma tonalidade que a escola está acostumada a desfilar, com uma métrica e um andamento dentro daquilo que a Beija-Flor gosta. E está tudo certo. A gente não dialoga com a Beija-Flor só durante o período de disputa, mas sim o ano inteiro. Por isso que na hora de gravar tudo flui de maneira bem confortável”, avaliou Júnior Trindade, membro da parceria do samba 05, que conta com Rômulo Presidente, Gilberto Oliveira, Samir Trindade, Robinho e Thiago Portela, além das participações especiais de Andrezinho Ceciliano e Ribeirinho.

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“Esse é o meu segundo ano entre os dez melhores sambas e, para mim, essa ideia da escola é positiva. A proposta é o intérprete da escola ser a referência do samba que vai ser cantado na Avenida. Não que os outros intérpretes sejam dispensáveis, mas o cantor da escola deve ter uma ênfase maior quando a pessoa ouve o samba. Gravando os dez finalistas na voz dele, você consegue ter um discernimento de quais são os sambas que a Beija-Flor pode escolher para ser aquele que vai ser cantado pelo Neguinho na Sapucaí. E quanto a gravação, o horário que a escola dá é ótimo. Eles não deixam extrapolar, passando por cima dos outros, e a gente consegue fazer os andamentos positivos do samba. Cada samba tem um andamento, não são iguais. Então, a gente consegue propor para que o público venha escutar o nosso samba dentro das condições que o estúdio, que é muito bom e tem que se dar um crédito, fornece. E a gente vai seguir aí nessa luta. Parabéns a Beija-Flor pelo enredo e pelo trabalho”, declarou Moisés Silva representando a parceria do samba 20, que possui ainda Eliezer Setton, Kadinho da Ilha, Almir Sereno, Marcelo 100 e Léo Berê como compositores, além Tio Zé e Manoel Júnior como participantes especiais.

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“O bom deste modelo é que a gente consegue dar uma maior oportunidade para que pessoas, que muitas vezes não teriam condições de participar, entrem na disputa. Falo isso como um dos compositores do samba 23 e presidente da ala. É um formato que diminui o custo, além de ser uma forma da escola avaliar melhor cada samba. Além disso, antes da gente vir para o estúdio, a gente passa os sambas para o Neguinho e ele sugere para nós se é necessário abaixar meio tom, um tom ou deixar no original que a gente fez. Então, isso é uma coisa que é muito conversada. E o fato de todas as parcerias gravarem com o mestre Rodney e com os ritmistas da escola é muito importante, porque o samba é feito pra Beija-Flor. Portanto, gravar com a bateria da escola, nos moldes dela, no andamento característico, faz com que a escolha na final seja tomada de forma muito mais segura. Prova disso é que este já é o nosso terceiro ano assim e os dois anos anteriores deram super certo”, pontuou Kirraizinho, que falou em nome da parceria do samba 23, formada também por Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e doutor Rogério. Chacal do Sax, Ramon Quintanilha e Naldinho também fazem participação especial na obra.

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“A escola dá esse baita diferencial para os dez sambas que estão concorrendo. Então isso, para gente, é muito gostoso. Saber que o Neguinho da Beija-Flor, um verdadeiro ícone do Carnaval, único intérprete maior com 14 títulos, gravou um samba nosso é de emocionar. Para gente, é uma honra. É o meu ídolo, de todos nós da parceria. A gente estar entre os dez sambas finalistas da Beija-Flor já é uma honra por si só, tendo a nossa obra gravada na voz do Neguinho, esse sentimento só aumenta. E a nossa maior preocupação era fazer um samba que não ficasse gritado, que ficasse fácil para que ele e todo mundo cantasse. Carnaval, hoje em dia, a maioria dos sambas acabam sendo descartáveis e a nossa ideia não era essa. Nosso objetivo foi fazer um samba que permaneça e acho que conseguimos”, disse Serginho do Porto, compositor do samba 25 ao lado de Alencar de Oliveira, Léo de
Oliveira e André Fullgaz.

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“Quanto ao custo neste modelo, é praticamente o mesmo de um formato tradicional. Agora, quanto ao Neguinho cantar, é a voz do Carnaval. Ele cantando os dez sambas finalistas faz com que os segmentos da escola, a comunidade, o público em geral fique entendendo o samba na voz dele e vá fazendo suas análises. É algo bem legal. Sobre o processo de confecção até gravação do samba é o de sempre de uma parceria, todos opinam. A inspiração vem de um, às vezes vem de outro, mas todos debatem até chegar a um denominador comum. E nós estamos bem satisfeitos com o resultado. Nossa parceria é uma família e esse samba nos deixou bastante orgulhosos”, garantiu Jorginho Moreira, que compôs o samba 39 junto de Sidney de Pilares, Orlando Ambrósio, Lico Monteiro, Cláudio Gladiador e Ailson Picanço. Esse grupo teve ainda participações especiais de Myngauzinho, Gigi da Estiva e Richard Valença.

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“É espetacular, afinal é a voz mundial em matéria de samba-enredo. Fica até complicado escolher qual é o melhor, porque os dez sambas são todos eles bonitos na voz do Neguinho. Então, o impacto dessa mudança no modelo de disputa foi sensacional. Muitos, no início, até criticaram, mas hoje todos nós estamos acostumados a esse formato. O custo aumentou um pouco, mas se você for colocar na balança vale a pena. No fim das contas, é algo que mais trouxe benefício aos compositores do que qualquer outra coisa. A escola também deixa tudo à nossa disposição e nós compositores é que direcionamos a gravação. Então, se por ventura acontecer qualquer deslize, a culpa não é de nenhum diretor ou diretora, mas do próprio compositor que direcionou o samba. E trabalhar com figuras como o mestre Rodney, que é hors concours, facilita muito todo o processo. Ele, antes de gravar, escuta o samba, já vem com ouvido aguçado. Além disso, o coro que a escola nos fornece é espetacular. Só tenho que agradecer”, disse Picolé da Beija-Flor, que assina o samba 51 com Arnaldo Matheus, Careca Z1, Ted Carvalho e Egildo de Nilópolis.

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“Muda muita coisa que se falar que não, vou estar mentindo. Quando você chega entre os dez sambas, ganha o presente de ter a sua obra gravada com a voz do cara. É algo que cresce muito cada samba e, para decidir o melhor, é preciso ver qual dos dez toca mais na alma da escola. Além disso, antes dessa mudança no formato da disputa, às vezes acontecia de o cara ir cantar um samba na final que ele não pegou e não tinha afinidade, que estava sendo cantado por outro intérprete, de outra escola. Isso era algo prejudicial e que deixou de ser uma preocupação neste modelo. E o gasto, às vezes, é até o mesmo. Quando vai para quadra na pressão, sem estar todo mundo alinhado com o samba, é até mais caro, porque você vai ter muita gente lá dentro, que não é da comunidade… Então, quando você vai ver, no final, o gasto até dobra. Já a experiência da gravação ocorreu com tranquilidade. A produção é nossa, a realização é deles, e um respeita o quintal do outro. Eu acho que fica legal assim. Não tem crise de nada, nenhuma reclamação, deu tudo certo”, relatou Serginho Sumaré, compositor do samba 54. A parceria tem ainda Xande Ribeiro, Neilson Oliveira, André do Cavaco, Filipe Zizou e Ali Gringojabr como autores, além de Cláudio Vagareza, Léo Freire e Luciano Gomes em participações especiais.

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“Particularmente, acho o modelo maravilhoso, iguala todas as parcerias. Afinal, os dez sambas finalistas têm a mesma produção, no mesmo estúdio, com a maior voz do Carnaval que é o mestre Neguinho da Beija-Flor, além de ter a bateria Soberana. E ao dar esse pé de igualdade maior, a escola torna a disputa mais sadia, na qual prevalece realmente o que importa que é o samba. Com a mesma gravação, as pessoas conseguem ver mais claramente qual possui a melhor letra, a melhor melodia, melhor refrão, além de ver qual vai se encaixar mais nesse enredo maravilhoso da Beija-Flor para o próximo Carnaval. E sobre a gravação, a escola deixou a gente muito à vontade, todas as parcerias na verdade. Em uma reunião prévia foi informado que a produção seria dos compositores, mas com a supervisão da Beija-Flor. Então, tivemos toda uma orientação para ter ali a base, o caminho, que é a identidade da escola. Mas opção de como vai ser a primeira do samba, a segunda, qual vai ser o batimento por minuto, foi nossa. Deixaram nós compositores totalmente livres para decidir. É uma forma de cada parceria deixar um pouquinho da sua marca, sem passar por cima da identidade da Beija-Flor de Nilópolis”, destacou Nurynho Almawi, representante do samba 300, que tem na parceria João Fernandes, Márcio Oliveira, professora Tânia, Gylnei Bueno e professora Marli Jane.

Beija-Flor desfila em posição inédita no ano que vem

Em 2024, a Beija-Flor de Nilópolis terá como enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, assinado pelo carnavalesco João Vitor Araújo. Na ocasião, a Deusa da Passarela será a segunda a passar pela Marquês de Sapucaí no domingo, dia 11 de fevereiro. Esta será a primeira vez que a azul e branca desfilará nesta posição. Mesmo sendo a maior campeã da chamada Era Sambódromo, a agremiação nunca levantou um caneco se apresentando na primeiro noite do Grupo Especial e irá em busca de quebrar esse tabu, conquistando o décimo quinto título de sua história.