Na noite da última terça-feira, a Casa Savana, no Centro do Rio, se tornou espaço de memória, afeto e celebração. A escritora Conceição Evaristo e a cantora e compositora Leci Brandão participaram da roda de conversa “As coisas que mamãe me ensinou”, parte do programa formativo “Mora na Filosofia”, da Festa Literária das Periferias (FLUP), com mediação da jornalista Flávia Oliveira. O encontro terminou em clima de festa, com a chegada do casal de Mestre-sala e Porta-bandeira do Império Serrano, além de passistas, bateria e cantores do Reizinho de Madureira e também da Unidos de Bangu, transformando a noite em um verdadeiro esquenta para a Sapucaí. Com as duas escolas preparando homenagens às artistas no Carnaval 2026, o diálogo celebrou a força do matriarcado do samba e da escrevivência como práticas vivas de construção da memória coletiva.
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Escrevivência pede passagem
Homenageada pelo Império Serrano com o enredo “Ponciá Evaristo: Flor do Mulungu”, Conceição refletiu sobre o entrelaçamento entre literatura e samba. “Pensar que o enredo de uma escola parte da minha escrita é um caminho duplo. É perceber que a literatura tá na vida. É da vida das pessoas que marcam esse espaço de resistência onde um povo se faz”, declarou a escritora.
Essa não é a primeira vez que a escrevivência da autora mineira chega ao mundo do samba. Em 2019, a Acadêmicos da Abolição levou à Intendente Magalhães o enredo “Conceição Evaristo — a escrevivência abolicionista em versos, poemas e contos”. Em tom bem-humorado, Conceição também compartilhou sua alegria com a homenagem na Sapucaí. “Hoje eu paro em frente ao espelho e pergunto: Espelho, espelho meu, existe alguém mais besta do que eu?”, disse, arrancando risos e aplausos da plateia.
“Pé quente” na avenida
Leci Brandão também será homenageada pela segunda vez na avenida. Em 2012, teve sua trajetória contada pela Acadêmicos do Tatuapé, em São Paulo, ano em que a escola ascendeu ao Grupo Especial. “Tive a oportunidade de ver a minha história contada na avenida. A Tatuapé já vinha desfilando em São Paulo, mas só chegou ao Especial quando nós fomos enredo. De lá pra cá, nunca mais saiu do Especial”, lembrou, sob os gritos de “pé quente” do público.
Agora, prestes a completar 81 anos, Leci será tema da Unidos de Bangu, com o enredo “As coisas que mamãe me ensinou”. A escola da Zona Oeste homenageia não apenas a cantora e compositora, mas também a deputada estadual que se tornou ícone da luta por igualdade e justiça social.
“Saber que a Unidos de Bangu vai fazer um enredo para mim é muito forte. No Rio de Janeiro, participei, de forma indireta, do enredo que falava sobre Marielle Franco e que fala de Lecis e Jamelões. Foi o ano que, pela primeira vez, eu saí num tripé e estava vestida de branco representando Luísa Mahin. Devo isso à Mangueira”, contou, antes de cantar um trecho de “História pra ninar gente grande”, samba-enredo campeão do Grupo Especial carioca de 2019.
Celebração em ritmo de samba
A conversa terminou em clima de festa com um momento especial: a entrada do casal de mestre-sala e porta-bandeira do Império Serrano, Matheus Machado e Maura Luiza, que apresentaram o pavilhão da escola. Em seguida, integrantes das duas agremiações que homenagearão as artistas em 2026, Império Serrano e Unidos de Bangu, invadiram a Casa Savana com o brilho de suas baterias, passistas e cantores, transformando o encontro em um verdadeiro esquenta para a Sapucaí.
Da roda de conversa à festa literária
Mais do que antecipar as homenagens do próximo Carnaval, o encontro na Casa Savana esquentou os tamborins para a 15ª edição da FLUP, que será realizada entre 17 e 23 e entre 27 e 30 de novembro de 2025, na sede da Central Única das Favelas (CUFA), em Madureira.
Com o tema “Ideias para Reencantar o Mundo: Escrevivências, Sonhos e Batidões”, a próxima edição da FLUP propõe uma celebração do legado político, musical e poético do Caribe e sua influência sobre a diáspora africana no Brasil. Conceição Evaristo será a autora homenageada.