O Salgueiro viveu mais uma noite de eliminatória de sambas-enredo para o Carnaval 2026, neste último sábado. Nove sambas se apresentaram retratando a homenagem à carnavalesca Rosa Magalhães, e a marca da noite foi o equilíbrio na disputa. Três obras tiveram desempenho mais destacado, com total nivelamento entre elas. O CARNAVALESCO analisa abaixo o desempenho de cada samba que passou pela quadra.
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Parceria de Paulo César Feital: A parceria de Paulo César Feital, Ian Ruas, Benjamin Figueiredo, Luiz Fernando, Márcio Pessi, Zé Carlos, Vagner Alegria, Dredi, Bruno Papão e Igor Leal abriu a disputa da noite com Leonardo Bessa à frente do samba. A obra contou com uma torcida afiada, que cantou o samba com bastante garra em todas as passadas. O destaque da apresentação foi o refrão central: “No reino do faz de contas, impérios a descobrir, o nosso samba, minha gente, é isso aí. Bailam princesas em melodias no ar, giram louças e bailarinas, um leque de cores tão genial da professora do Carnaval”. A segunda parte é mais protocolar, mas o último verso, com o bis “Salgueiro, vai ser impossível não se emocionar”, impulsiona bem o refrão de cabeça. Uma apresentação competente.
Parceria de Gui Salgueiro: Guto defendeu o samba de Guilherme Salgueiro, Mônica de Aquino, Marcão Campos, Carlos Ferrão, Geraldo da Valda, Fábio Teixeira, Dennis Garcia, Julio James, Eugênio Leal e Nego Martins com categoria, valorizando a melodia que passeia em bonitas variações, principalmente na primeira parte, que acompanha versos bem construídos como “Seguindo com o vento vai menina flor, banquete de cultura e beleza, conquista a coroa da nobreza, fez brilhar a rainha, o reizinho e a princesa”. O refrão de cabeça, de fácil assimilação, explodiu no canto da torcida que compareceu à quadra, completando uma robusta apresentação.
Parceria de Bernardo Nobre: O samba de Bernardo Nobre, João Moreira, John Bahiense, André de Souza, Jorge Silva, Alfredo Poeta e Vitor Lajas foi cantado por Chicão e teve uma passagem regular, sem grandes quedas de desempenho, mas também sem causar maior impacto. O samba tem boas passagens, como o bis da segunda parte “Salgueiro, à herdeira da revolução, presta sua homenagem, filha desse chão”, mas peca em alguns trechos por versos genéricos, sem assimilação direta com a carreira de Rosa, como no refrão central “Um oceano de histórias desbravei, por mundos distantes naveguei, os mitos e lendas floreiam a vida no meu caminhar, e sigo a cantar”. A torcida da obra sustentou o canto durante a maior parte da apresentação.
Parceria de Serginho do Porto: Serginho do Porto defendeu o samba de sua parceria com Sereno, Maurício Dutth, Chacal do Sax, Leandro Thomaz, Mário Carvalho, Claudio Gladiador, Telmo Augusto, Josy Ferreira e Cleo Augusto William Ramos. A obra aposta em menos citações diretas aos carnavais criados por Rosa Magalhães, exceto no refrão central: “E nesse faz de conta, te levo a viajar, mas se o pirata apronta, não há moinho que eu não possa enfrentar. Eu visto a fantasia, realidade que ainda vive em mim. O samba me leva pra qualquer lugar, é só dizer pirlimpimpim”. Na segunda parte, é lembrada mais a Rosa idealista e revolucionária do que a artista. A apresentação não segurou o pique durante todas as passadas, tendo ligeira queda na final.
Parceria de Marcelo Adnet: A obra de Marcelo Adnet, Gustavo Albuquerque, Babby do Cavaco, André Capá, Bruno Zullo, Marcelinho Simon, Rafael Castilho, Luizinho do Méier, Igor Marinho e Fabiano Paiva teve Wander Pires no comando. Foi o primeiro samba da noite a esquentar mais a quadra, não apenas pela torcida da obra, que compareceu em bom número, mas também por integrantes de segmentos da escola, como a velha guarda. O refrão de cabeça passou com muita força: “Deixa meu povo festejar, lembra, sou eu… o seu Carnaval. No meu jardim quem te viu primeiro, ó linda Rosa, foi o morro do Salgueiro”. O refrão central, menos poético, juntou trechos de sambas presentes em grandes desfiles assinados pela homenageada. Uma melodia bem amarrada contribuiu para uma bela apresentação, apesar de alguns versos não traduzirem com exatidão a proposta do enredo, como “O seu samba é de maré, que abre caminhos, força de mulher. Encontra o destino em delírio profundo, no arrastão da esquina do mundo”.
Parceria de Marcelo Motta: Tinga e Pitty de Menezes comandaram o samba da parceria de Marcelo Motta, Dudu Nobre, Julio Alves, Manolo, Daniel Paixão, Jonathan Tenório, Kadu Gomes, Zé Moraes, Jorge Arthur e Fadico. O samba descreve o processo de surgimento do lado artístico de Rosa Magalhães e o legado de seu trabalho para a nova geração de carnavalescos, incluindo Jorge Silveira, autor do enredo, sem retratar diretamente o universo dos enredos criados por Rosa. Uma interpretação do enredo que resultou num samba bonito e com um refrão de cabeça nostálgico: “Olelê, eis a flor dos amanhãs, a décima estrela brilha em Rosa Magalhães. Onde o samba é primavera, que floresce em fevereiro, nem melhor, nem pior, Salgueiro”. Entretanto, causa estranheza em alguns momentos pela condução mais particular do enredo em relação aos demais sambas. A apresentação foi irregular, com ritmo forte nas duas primeiras passadas e queda nas duas últimas, mesmo com um palco de peso e uma torcida numerosa.
Parceria de Xande de Pilares: O samba da parceria de Xande de Pilares, Fred Camacho, Betinho de Pilares, Renato Galante, Miguel Dibo, Jorginho via 13, Jefferson Oliveira, Jessa, João Diniz e W Corrêa teve Evandro Malandro e Charles Silva nos microfones principais. O samba tem uma primeira parte bem construída sobre o enredo e o universo de criação da carnavalesca. Peca, entretanto, na segunda parte, pela melodia corrida em alguns versos, o que prejudica a fluidez. O refrão de cabeça faz mais alusão ao salgueirense do que à homenageada: “À Rosa imortal, a poesia, é teu o Carnaval da academia. Não há argumento que negue o fato: eu sou Salgueiro e fim de papo”. Funcionou, no entanto, para o canto da torcida e de outros presentes na quadra. No geral, foi uma boa apresentação, com rendimento estável e sem quedas, muito pelo ótimo desempenho dos intérpretes.
Parceria de Moisés Santiago: A parceria de Moisés Santiago, Pedrinho da Flor, Gilmar L. Silva, Leonardo Gallo, Orlando Ambrósio, Zeca do Cavaco, Alexandre Cabeça, Bruno Dallari, Marquinho Bombeiro e D’Miranda teve Ito Melodia e Tem Tem Jr. como intérpretes principais. O samba aposta em dois refrães de letra fácil, que renderam uma apresentação animada, principalmente o refrão de cabeça: “Balança a roseira, ferve o caldeirão, avenida inteira marejada de emoção. Lá vem Salgueiro no perfume das manhãs, raiz de Rosa Magalhães”. A segunda parte mantém essa estrutura mais alegre, com uma alusão ao desfile de 2005 da Imperatriz sobre Hans Christian Andersen, um dos trabalhos mais leves de Rosa Magalhães. O samba se sustentou muito bem em todas as passadas, inclusive no canto da torcida, deixando o palco como destaque da noite.
Parceria de Rafa Hecht: A parceria de Rafa Hecht, Samir Trindade, Thiago Daniel, Clairton Fonseca, Fabrício Sena, Deiny Jeffer, Felipe Sena, Ricardo Castanheira, JP Figueira e Deco apresentou um samba defendido por Marquinho Art Samba e Leonardo Bessa, que teve a maior sinergia entre palco e torcida na noite. A apresentação começou com o trecho “Mestra, você me fez amar a festa, e eu virei carnavalesco, sonhei ser Rosa, te faço enredo. Mestra, você me fez amar a festa, tantos alunos por aqui, segue o legado da Sapucaí”, cantado apenas pela torcida e depois acompanhado pelos intérpretes. A letra traz grande inspiração ao retratar o universo criado por Rosa Magalhães e o Brasil desbravado pela professora, tudo muito bem concatenado, como nos versos “Nas prateleiras do lado de cá do Equador, devorei a nação. Andar na Ouvidor virou caso de amor pro meu coração”. Um samba que captou a essência de Rosa Magalhães e apostou em soluções poéticas, resultando em uma apresentação menos explosiva, mas de muita qualidade, sendo outro destaque da noite e fechando a rodada em grande estilo.