Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
É difícil destacar um único quesito no desfile da Imperador do Ipiranga no Grupo de Acesso II em 2024. Bastante coesa, a agremiação foi a nona a se apresentar para defender o enredo “Desperte a Criança que Há Dentro de Você” e conseguiu destaque, entre outros motivos, pela ótima Evolução, por carros alegóricos bonitos e muito bem acabados e uma bateria com naipes pouco comuns hoje em dia. Encerrado em 49 minutos, o desfile empolgou componentes e arquibancadas.
Comissão de Frente
O tripé do segmento, que não era dos maiores no ensaio técnico e estava inteiro no ferro, enfim foi revelado: era uma espécie de cápsula do tempo em tons terrosos. Na coreografia em dois atos, destacam-se um homem aparentemente já na melhor idade em um momento e uma menina, chamada Yasmin, no segundo. O grande momento de toda a exibição se dá quando a criança interage com um pavilhão da escola, sendo erguida em tal momento. A explicação para tal dinâmica, importante para entender o desfile como um todo, pode ser conferida no quesito Enredo.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Após um ensaio técnico no qual Vitor Barbosa e Naiomy Pires enfrentaram fortes ventos, o desfile oficial teve condições climáticas bem mais favoráveis para eles. E, pensando nos quatro módulos de julgamento, em três deles não foram identificados erros – sendo que em todos os balizamentos obrigatórios foram realizados. Logo na primeira cabine, entretanto, foi notada uma dificuldade do casal para finalizar alguns dos movimentos propostos.
Enredo
Para falar do universo infantil, a Imperador do Ipiranga focou nas lendas e imaginações das crianças. Palhaços, o bicho-papão e soldadinhos de chumbo, por exemplo, marcaram presença no desfile. Nesse ponto, a presença das alas “doces e guloseimas” e “pipas”, por exemplo, ganham espaço por conta de tudo que uma criança é capaz de imaginar utilizando tais itens. Basicamente resumido em referências, o desfile teve uma associação bastante clara, ganhando a simpatia de quem acompanhava a exibição. Também é importante pontuar o fio condutor da temática: na história proposta pelo carnavalesco Anselmo Brito, um homem de mais idade começa a recordar a infância e todos os brinquedos com que gostava de se divertir – e, a partir disso, todos eles foram ganhando espaço no desfile.
Alegorias
O abre-alas, intitulado “O Universo Infantil da Imaginação”, remetia a um parque de diversões ou a um circo – com atrações como uma roda-gigante, palhaços, carrosséis e espaço, até mesmo, para jogos eletrônicos portáteis. A alegoria, por sinal, tinha explosões de serpentinas e muito brilho. Já o segundo, “Reino Encantado”, altíssimo, tinha um castelo com destaque e uma bruxa levitando, chamado atenção pela movimentação suspensa no ar. Não foram identificados erros de execução e nem de acabamento em ambos e no tripé “Bicho Papão”, inteiro preto com um rosto em tons de amarelo e laranja.
Fantasias
A agremiação usou e abusou das cores e da criatividade para montar as fantasias em 2024. Se ancorando na temática infantil, também foram utilizados materiais como fitas e pompons, altamente integrados ao enredo. Alguns segmentos tinham identificação instantânea, como a ala 09, “Exército de Baralhos” – com uma roupa inteira preta e uma carta de baralho na frente.
Harmonia
Apesar da boa atuação do carro de som e do samba-enredo receber elogios da comunidade carnavalesca paulistana, o canto da escola foi irregular ao longo do desfile. A ala 01, “Palhaços”, por exemplo, tinha pouca força no canto. A já citada ala “Exército de Baralhos”, porém, contribuía bastante para o canto – e o segundo setor, é bem verdade, tinha rendimento superior ao primeiro. A comunidade crescia quando a Só Quem É, bateria da Imperador, executava um apagão na parte final da canção – ao todo, foram dois.
Samba-enredo
Todas figuras representadas figuram na obra – como o bicho-papão e palhaços em geral. Toda a canção, por sinal, é dedicada a momentos simples que toda criança costuma fazer: empinar pipa ou brincar com soldadinhos de chumbo, por exemplo. Na música, elas ficam juntas com situações que são desejos de todo pequeno e pequena – como brincar nas nuvens e vencer alguma partida de um jogo qualquer. Vale destacar que a obra buscou, até mesmo, inserir cada elemento na narrativa na ordem em que eles aparecem no desfile. Focando na referenciação de tudo que aparece no enredo, a canção foi muito bem defendida pelo intérprete Rodrigo Atração (fantasiado de palhaço). Dida, uma das integrantes do carro de som, veio como uma princesa, e os demais cantores estavam de boné, meia alta e shorts coloridos – tal qual um garoto levado. A obra, por sinal, foi composta por Xandinho Nocera, Nando do Cavaco, Fredy Vianna, Rodrigo Atração, Edson Liz, André Filosofia, Thiago SP e Ronny Potolski.
Evolução
Enquanto outro coirmãs precisaram apertar o passo para não estourar o tempo limite, a Imperador teve ótima atuação em tal quesito. Novamente, o recuo da bateria foi um prenúncio do que estava por vir: os ritmistas ocuparam o espaço à frente do box, viraram o corpo e, depois, entraram em linha reta. A ala seguinte foi bastante célere ao ocupar o espaço deixado, em movimento que consumiu cerca de 70 segundos – ótima marca. Encerrado com alguma folga em relação aos 50 minutos tolerados pelo regulamento, o quesito teve especial contribuição para a ótima exibição da escola da Zona Sul.
Outros Destaques
Dentre os ritmistas, destacaram-se um pratista e um componente tocando reco-reco – instrumentos raros nas baterias paulistanas. A corte da Só Quem É, comandada por Mestre Thiago Praxedes, por sinal, tinha Kananda Santos (rainha), Jaiana Sales (musa), Victorya Menezes (princesa), Sarah Cristina Azevedo (Miss Simpatia) e Arthur Martins (malandro). Após o encerramento da exibição, as arquibancadas aplaudiram a atuação e os componentes, na Concentração, gritavam “É campeão”.